Traficantes criaram empresa de celulares; conheça 5 detalhes sobre o caso
Já ouviu falar da MPC? Ela era uma empresa de um ramo curioso (e nebuloso) do mercado de smartphones: vendia aparelhos modificados e criptografados, ideais para quem quer toda privacidade possível. Considerando os diversos vazamentos de dados que rolaram nos últimos anos, pode até parecer uma causa louvável. Mas os principais clientes eram pessoas que tinham o que esconder.
Uma extensa reportagem do site Vice apresentou a empresa e descobriu a ligação dela com clientes associados ao crime. A maior surpresa, no entanto, foi descobrir que os fundadores da MPC fazem parte da elite do crime organizado no Reino Unido, ligados ao tráfico de drogas, assassinatos, tortura e intimidação. Aqui vai um resumo do que está por trás dessa empresa de celulares "alternativos".
1) Que tipo de aparelho era usado?
A MPC não fabricava seus próprios smartphones, mas modificava aqueles existentes de modo que eles se tornassem menos rastreáveis, com remoção de GPS e câmera, por exemplo. Dois dos modelos usados eram o Google Nexus 5 ou o Nexus 5X, que tinham o sistema operacional Android e recursos de segurança substituídos pelos desenvolvidos pela MPC.
A empresa também criava contas para troca de mensagens entre os usuários, feita por meio de um plano de dados. O preço desse pacote customizado era de cerca de 1.200 libras, com renovações semestrais de 700 libras. Eventualmente, os celulares da marca passaram a usar uma versão "fork" (fortemente modificada) do Android chamada CopperheadOS.
2) Quem estava por trás da MPC
Uma dupla conhecida como "Os Irmãos" fundou a empresa de celulares criptografados. James e Barry Gillespie, criminosos procurados internacionalmente por atuação no tráfico de cocaína, foram os criadores da empresa.
Usuários de serviços do gênero, eles desconfiavam dos provedores e decidiram criar seus próprios dispositivos, que iam além de smartphones. A empresa também oferecia notebooks, tablets e rastreadores de GPS focados na segurança e privacidade.
3) Como a empresa cresceu
Segundo a apuração do Vice, a MPC não ganhou relevância apenas pelos seus serviços de qualidade. Sob ordem dos irmãos Gillespie, parceiros adotaram táticas de intimidação e ataques para estabelecer o domínio da empresa.
Que tipo, você pergunta? Para dominar esse mercado, membros da gangue desferiram cortes de faca no rosto de indivíduos, entre eles um revendedor de outra "marcas" de smartphones criptografados. Ameaças de morte também foram feitas para que a MPC ganhasse território.
4) Quem eram os clientes?
Além de atender aos próprios interesses dos irmãos Gillespie, a MPC encontrou um filão oferecendo seus produtos a outros grupos envolvidos no crime organizado, que precisavam ocultar seus passos.
A empresa também promovia seus produtos pela internet, publicando no Twitter chamadas para interessados em comprar seus celulares modificados. Entre os atrativos estava o "sistema completamente fechado, com uso várias formas de criptografia de ponta a ponta" e o acesso a "uma rede fechada" para comunicação.
Mesmo com o preço alto de entrada, cerca de 5 mil aparelhos foram vendidos. Isso rendeu cerca de 6 milhões de libras à empresa.
5) Ainda está na ativa?
A ligação entre a MPC e os irmãos Gillespie foi divulgada nesta semana, mas a empresa saiu dos holofotes no início de 2017. O Twitter da marca está silencioso desde então, assim como o site dela também saiu do ar.
O sumiço tem a ver com o avanço de investigações sobre a gangue, cujos líderes estão foragidos. A área de atuação dos criminosos é o Reino Unido, mas a polícia escocesa confirmou ter acionado a DEA (Drug Enforcement Administration, entidade responsável pelo combate ao tráfico de drogas nos Estados Unidos), por suspeitar que os Gillespie estão fora do país.
Há indícios que os irmãos seguem se comunicando pelos produtos da MPC, que não saiu do foco das forças policiais. "Podemos confirmar que o MPC é parte de uma investigação em andamento", informou a DEA ao Vice em comunicado.
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