Testamos pagamento de passagem de ônibus com reconhecimento facial em Madri
Sem tempo, irmão
- Tecnologia de reconhecimento de rostos é implantada nos ônibus de Madri
- A princípio, apenas 100 pessoas usarão o serviço, que funcionará em uma linha
- Usuário para em frente ao aparelho e espera que ele faça a identificação
- Valor da passagem é debitado da conta bancária cadastrada
- Empresa diz não armazenar fotos dos usuários, para garantir privacidade
Como vamos nos locomover nas cidades do futuro? Poderemos pagar a tarifa do transporte público apenas com nosso rosto? Na China já é possível fazer isso no metrô. Em Madri, esta tecnologia acaba de ser implantada nos ônibus pela startup britânica Staff, a Mastercard, o banco Santander e a Empresa Municipal de Transportes (EMT).
Tilt esteve na Espanha na semana passada e testou a nova ferramenta, que ainda está em sua versão beta e promete facilitar a vida de quem circula pela capital espanhola.
A primeira coisa que o usuário deve fazer é baixar o aplicativo para celular, preencher o cadastro e anexar uma foto nítida do próprio rosto (a famosa selfie). Após esta etapa, o cliente também deverá fornecer seus dados bancários.
Isso não é só coisa de chinês. Queremos melhorar a vida do passageiro. Ele não vai mais precisar carregar um monte de cartão. Trata-se de uma experiência única para o usuário
Alfonso Sánchez, diretor-gerente da EMT Madri
A princípio, apenas 100 pessoas previamente selecionadas poderão usar o serviço, que, nos próximos meses, funcionará em uma única linha de ônibus de Madri. O trajeto ainda não foi definido, embora a zona central, que tem mais passageiros, deva ser a escolhida. Segundo Sánchez, a ideia é de que o projeto seja expandido pouco a pouco por toda a cidade.
Na semana passada, a EMT fez uma demonstração do sistema para jornalistas. As máquinas de reconhecimento facial foram instaladas perto da cabine do condutor. Uma vez registrado, o usuário deve parar em frente ao dispositivo e esperar que ele faça automaticamente a identificação. Isso pode demorar até 15 segundos e, caso seja reconhecido, a tela emite uma mensagem de "boa viagem". Pronto: o valor da passagem é debitado da conta bancária cadastrada.
Por ora, técnica demora
Gonzalo Martin Lopez, de 57 anos, foi um dos usuários pré-selecionados para testar o reconhecimento facial. Adepto do transporte público, o empresário, que abandonou o uso do carro, aprovou o serviço, mas fez algumas ponderações.
"Gostei bastante. É algo bem prático. Sou muito distraído. Já perdi o cartão quatro vezes. Só acho que poderia ser um pouco mais rápido. Nos horários de pico, por exemplo, pode gerar filas enormes e até algum tumulto", opina.
Já a estudante Irene Gutin, de 25 anos, não acha que os segundos a mais farão alguma diferença na vida das pessoas "Sinceramente, é pouco tempo. São segundos que vão proporcionar mais conforto e tranquilidade a todos os usuários do transporte público de Madri", afirma.
Tilt comparou os dois procedimentos e, de fato, o reconhecimento facial demora mais. Enquanto o cartão leva meio segundo para ser reconhecido pela máquina, a nova tecnologia tarda, aproximadamente, 15. Vale lembrar que, durante os testes, alguns erros ocorreram e rostos não foram identificados.
"O objetivo é aperfeiçoar o sistema, que ainda está em fase de melhorias. A pessoa, portanto, entrará no ônibus, mal vai olhar para o dispositivo e a identificação será automática. Este é o nosso plano", conta Enrique Diego Bernardo, diretor de tecnologia da EMT.
E a privacidade?
A EMT assegura que o preço da passagem permanecerá o mesmo da tarifa convencional paga com o cartão (1,50 euros na zona mais central) e explica que o reconhecimento facial deverá ser opcional. "Trata-se de uma alternativa a mais para o usuário. Sob nenhuma circunstância vamos obrigar as pessoas a se cadastrar", diz Enrique.
Ainda de acordo com a EMT, o sistema inteligente não grava nenhuma imagem no ônibus. O reconhecimento facial só cruza as informações do banco de dados com a foto tirada no ato do pagamento. "A privacidade e a segurança dos usuários estão em primeiro lugar. Não permitiremos que os dados dos clientes sejam expostos a hackers", complementa Enrique.
O sistema de Madri faz parte do laboratório de inovação Madri in motion (Madri em movimento), da consultoria Barrabés, que busca bons projetos de mobilidade urbana. Mais de 300 startups de 53 países diferentes apresentaram ideias. A vencedora foi a Saffe, do Reino Unido mas criada pelo brasileiro André Coelho.
No Brasil, um dos clientes da Saffe é o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que oferece aos comerciantes um sistema capaz de registrar traços faciais e validar a identidade do comprador. Os dados são armazenados no banco do SPC e ajudam na prevenção de fraudes. A empresa também criou uma ferramenta que detecta quando tentam enganar o reconhecimento com o uso de fotos ou vídeos.
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