Avião militar pousa após mais de 2 anos voando; o que ele fez lá em cima?
Sem tempo, irmão
- O avião militar X-37B acabou de pousar após bater um recorde em órbita: 780 dias
- Ele é envolto em mistérios, como o projeto de origem e o que faz para voar tanto tempo
- Alguns deles podem ser desvendados; ele foi, por exemplo, feito pela Boeing a pedido da Nasa
- Outros detalhes, como o que ele fez enquanto voava, ainda são obscuros
- Este texto tenta desvendar que tipo de atividade o X-37B nos 2 anos que ficou em órbita
O avião espacial X-37B, da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), acabou de quebrar o próprio recorde de tempo voando: 780 dias em órbita. Ele pousou no Kennedy Space Center, na Flórida, na semana passada, mais de dois anos após ter decolado da estação de Cabo Canaveral, também na Flórida, em setembro de 2017.
Não-tripulado, o X-37B é o único veículo espacial reutilizável do mundo —nenhum outro retornou, porque foi destruído no pouso. Ele é lançado verticalmente, com auxílio de um foguete (nesta missão foi usado um SpaceX Falcon 9), mas pousa em uma pista, como um avião. Assim, tem a habilidade única realizar experimentos no espaço, por um longo tempo, e trazê-los de volta à Terra, para serem analisados pelos cientistas e engenheiros.
Esta foi a quinta missão do X-37B. Nomeada de OTV-5, ela bateu o recorde de dias em órbita - o anterior era de 717 dias seguidos, da quarta empreitada (OTV-4), realizada entre 2015 e 2017. Somando todas elas, já são 2.865 dias em órbita ao redor da Terra.
Paira em torno da aeronave uma aura de mistério. Como ela consegue voar por tanto tempo é algo que até pode ser explicado. Isso ocorre devido à presença de painéis solares, que o abastecem de energia, e ausência de seres vivos. Desse ponto de vista, é o veículo espacial com a tecnologia mais avançada da atualidade.
Há, no entanto, algumas lacunas abertas. A principal é o que o X-37B fez durante todo este tempo orbitando nosso planeta. De acordo com a USAF, todos os objetivos da quinta missão foram cumpridos com sucesso. Mas, como o programa é classificado como confidencial, há muitas especulações em torno do projeto e do que a espaçonave tem transportado.
Confira alguns fatos que sabemos sobre ele:
É pequeno
Fabricado pela Boeing, o X-37B é bem menor que um avião comercial. Tem o formato do icônico ônibus espacial (space shuttle) da NASA, mas em miniatura: apenas 8,8 metros de comprimento, 1,9 metro de altura e 4,6 metros de envergadura (da ponta de uma asa à outra). Inclui um compartimento de carga, para levar objetos ao espaço, mais ou menos do tamanho da caçamba de uma caminhonete (2,1 metros x 1,2 metro), que pode ser equipado com um braço robótico. É feito com materiais mais leves, resistentes e tecnológicos que os dos antigos ônibus espaciais norte-americanos. Aposentados em 2011, eles tinham cerca de 37 metros de comprimento - só no cargueiro de um shuttle, caberiam dois X-37B.
Pode ser visto da Terra
Apesar de a órbita precisa de cada missão não ser revelada, astrônomos e observadores perspicazes conseguiram rastrear o X-37B daqui da Terra. Mas não espere uma cena dramática: o avião espacial, voando a 300 km de altitude, aparece como uma estrela se movendo pelo céu.
Foi projetado pela NASA
A pequena espaçonave foi incialmente projetada pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA), em 1999, para serviços como reparar satélites em órbita, em voos de no máximo 270 dias consecutivos - ou seja, nesta quinta missão, o X-37B voou mais que o triplo do tempo originalmente previsto. O avião, porém, só foi construído em 2006, após o programa ser classificado como secreto e ser militarizado, o que resultou em sua transferência para o Departamento de Defesa. Hoje, a Força Aérea tem pelo menos dois X-37B da Boeing - os cinco voos foram feitos com dois veículos diferentes. Cada um teria custado cerca de US$ 1 bilhão.
É movido por energia limpa
O veículo possui um pequeno tanque de combustível e um de hidrogênio, mas, durante os meses em órbita, é movido pela energia captada por seus painéis solares retráteis, compostos por células fotovoltaicas de arseneto de gálio e baterias de íon de lítio. É como um Prius espacial.
Suas missões são muito longas
A Força Aérea vem utilizando o X-37B, chamado de "veículo de teste orbital" (OTV), em missões ultrassecretas, uma mais longa que a outra. A primeira (OTV-1), em 2010, durou "apenas" 224 dias, dentro do limite inicialmente previsto; a segunda (OTV-2), em 2011, levou 468 dias; a terceira (OTV-3), em 2012, 674 dias. A quarta e a quinta, 717 e 780 dias, respectivamente. Cada missão teria custado cerca de US$200 milhões. Uma sexta empreitada do X-37B já está agendada para o ano que vem. Será que vai bater seu próprio recorde mais uma vez?
Os objetivos e as cargas são confidenciais
Um veículo reutilizável é peça fundamental para o futuro da exploração espacial. Mas a Força Aérea divulga apenas alguns vagos detalhes das missões do X-37B - e os segredos levam a especulações. Especialistas e organizações já levantaram diversas teorias, como a de que o governo dos Estados Unidos estaria utilizando-o como uma espécie de plataforma militar no espaço, capaz de atacar alvos na Terra ou em órbita. Mas isso já foi negado pelo Pentágono, que garante que o X-37B nunca carregou armas - uma nave espacial com armamentos seria uma violação do Tratado do Espaço, de 1967. Outro rumor é que o principal objetivo do projeto seja testar um dispositivo espião de inteligência, que interceptaria atividades e comunicações de satélites, permitindo vigilância a nível global.
Fato é que a quinta missão voou em uma inclinação orbital maior que a das anteriores, para explorar novos caminhos e sobrevoar uma área maior do planeta, incluindo zonas mais ao sul e mais ao norte - a Rússia, por exemplo. Também deu carona para pequenos satélites até o espaço.
A USAF alega que o X-37B está apenas experimentando novas tecnologias para futuras espaçonaves - como sensores, câmeras e radares -, para que o desempenho e durabilidade delas no espaço possa ser aprimorado, evitando possíveis degradações. A facilidade de pouso e de manobras do veículo permite que ele leve algo à órbita, para um período de testes, e depois retorne com o equipamento em segurança para os ajustes necessários em terra. Uma dessas novas tecnologias seria o "espalhador térmico avançado" (ASETS-II), uma espécie de sistema de aquecimento para viagens de longa duração, composto por equipamentos eletrônicos e tubulações. Também teria testado a propulsão de Efeito Hall, que usa íons para produzir empuxo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.