Por que seria revolucionário criar creche para bebês robôs brincarem
Sem tempo, irmão
- A infância é fundamental para o desenvolvimento do cérebro humano
- Robôs, pelo contrário, nascem prontos e só vão bem em ambientes controlados
- Talvez seja a hora de também deixá-los "crescer", brincando e aprendendo
- A psicóloga Alison Gopnik propõe uma espécie de creche tecnológica
- Deixar robôs se desenvolverem sozinhos repensa toda a lógica da área
Bebês humanos não conseguem enfrentar o mundo sozinhos, precisam de cuidados para sobreviver e não realizam atividades úteis de fato. Mas seus primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento de nosso atributo mais notável: o cérebro. Robôs, pelo contrário, já nascem prontos. Mas por enquanto, só funcionam bem em ambientes controlados, como fábricas e laboratórios, executando atividades específicas.
Com a evolução da inteligência artificial e os robôs cada vez mais presentes em nosso dia a dia, talvez seja a hora de também deixá-los "crescer". Em uma espécie de creche tecnológica, eles poderiam desenvolver a curiosidade e... brincar.
É o que acredita uma psicóloga da Universidade de Berkeley, na Califórnia. "Talvez a gente precise de robôs que tiveram uma infância", diz Alison Gopnik em entrevista à revista "Wired". "Podemos criar robôs pequenos, indefesos, não muito fortes para não quebrar coisas, e cuidar deles por algum tempo. Então, transformamos essas experiências em um sistema."
A proposta de Gopnik é radicalmente diferente da maneira como os pesquisadores normalmente fazem um robô aprender. Um método comum é um humano levar um robô, passo a passo, como um espelho, para aprender determinada ação —por exemplo, jogar uma bola.
Outra abordagem é deixar o robô realizar movimentos randômicos e recompensá-lo pelos bem-sucedidos. Nenhuma das duas opções cria um robô flexível, adaptável —você não pode treiná-lo para jogar uma bola e esperar que ele descubra facilmente como fazer o mesmo com outros objetos.
Já as crianças reagem com facilidade a novos ambientes e mudanças. "Elas não somente exploram o mundo para encontrar informação e resolver problemas, como fazem essa coisa incrível que é brincar. Ações aparentemente sem sentido, mas muito ricas para o desenvolvimento", analisa a psicóloga.
Por trás das despretensiosas brincadeiras, há um método: movida pela curiosidade, a criança vai construindo um modelo complexo do mundo em seu cérebro. Isso permite a ela facilmente adaptar o que foi aprendido e surpreender.
Pelo contrário, um robô, programado para aprender a partir de um objetivo bem específico, não é encorajado a fazer coisas fora do comum. "Dar a eles um senso de curiosidade, de brincar sem propósito, poderia ajuda-los a lidar com o desconhecido", acredita Gopnik, que reuniu um grupo de cientistas para descobrir como colocar isso em prática.
Primeiro, eles precisam quantificar de alguma maneira como as crianças resolvem seus problemas brincando. Então, estão deixando as crianças brincar. Mas a tarefa não é fácil. "Afinal, são crianças. Nós perguntamos o que elas pensam sobre determinada coisa, e elas acabam fazendo um monólogo sobre pôneis e festas de aniversário", brinca a psicóloga.
Uma das soluções que encontraram são brinquedos customizados que, por exemplo, só funcionam se a criança encaixar uma peça correta nele. "Como nós que desenvolvemos e controlamos o brinquedo, sabemos qual o problema que a ela precisa resolver, o tipo de informação que está recebendo sobre ele e qual o caminho correto", conta Gopnik.
Eles também realizaram os experimentos com adultos, e descobriram que crianças são melhores em resolver problemas. Principalmente quando o brinquedo funciona de uma maneira esquisita, fora do que estamos acostumados. Crianças são mais propensas a esbarrar na solução ao mexer de maneira aparentemente ilógica nos objetos.
Se dermos o mesmo poder aos robôs, podemos entender melhor como as máquinas e as próprias crianças aprendem. "Durante os esforços de treinar os robôs, nós vamos descobrindo mais sobre o aprendizado humano. E, ao estudar como as crianças aprendem, teremos mais ideias sobre como ensinar melhor os robôs."
Talvez, num futuro não muito distante, teremos nos ajudando nas tarefas domésticas um robô que "cresceu" e brincou muito em um laboratório —só não usou fraldas.
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