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Em ascensão, TikTok ama brasileiros: "são os mais engraçados e criativos"

TikTok só perde para WhatsApp e Messenger em downloads no mundo - Getty Images
TikTok só perde para WhatsApp e Messenger em downloads no mundo Imagem: Getty Images

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

09/12/2019 04h00

Sem tempo, irmão

  • Humor e criatividade de brasileiros contribuem ao sucesso do app por aqui
  • Temida por rivais e políticos, empresa enfrenta resistência à sua popularidade
  • Tentativas de cópia do TikTok pelo Facebook não surtiram efeito

O TikTok bota medo no Facebook. Propriedade da chinesa ByteDance, ele também preocupa o Ocidente por uma possível ligação com o regime chinês. Tudo isso é justificado pelo tamanho que a "plataforma de produção e consumo de conteúdo criativo e rápido" (palavras dela mesma) tomou: 1,5 bilhão de downloads nos últimos dois anos, segundo estimativa da Sensor Tower, empresa de inteligência de mercado.

Até o início de novembro, o TikTok perdia apenas para WhatsApp e Messenger em instalações em smartphones, superando Facebook e Instagram. A plataforma chinesa é um fenômeno entre jovens —um público desejado pela corporação de Mark Zuckerberg, que já tentou copiá-la no Facebook com a ferramenta Lasso e experimenta o mesmo, no Brasil, com as Cenas do Instagram.

Mas qual é o segredo do TikTok? Para Rafaela Furtado, chefe de parcerias estratégicas da empresa na América Latina, os motivos vão desde sua tecnologia proprietária, que prende a atenção do usuário, a um público criativo e divertido que produz e consome os vídeos dentro do próprio app, em vez de levá-lo a outras plataformas. E música: muitas vezes os vídeos trazem hits do momento como trilha sonora.

"O TikTok é uma plataforma de conteúdo criativo para experiências divertidas e positivas. Os millennials e a geração Z desfrutam especialmente de nossa plataforma, mas há uma diversidade incrível em nossa comunidade global em idade, raça, gênero, carreira e muito mais", afirma Rafaela.

A empresa diz ser a líder mundial em vídeos para celular de formato curto, um tipo de mídia que disputa espaço com os Stories do Instagram e os Status do WhatsApp. A executiva destaca que, no Brasil, a plataforma está com uma "tendência ascendente" no crescimento de usuários.

"Adoramos os usuários brasileiros porque eles são um dos mais engraçados e criativos de todos", destaca.

O bom desempenho do TikTok por aqui fez com que a ByteDance apontasse o Brasil como um dos países para receber seu novo serviço de streaming de música, que pode chegar neste mês, segundo o Financial Times. A empresa não nos confirmou a informação: só disse que quer continuar fortalecendo sua presença na região.

Mas, a forte pegada musical do TikTok faz com que a ByteDance tenha boa relação com gravadoras e artistas. "Trabalhamos em estreita colaboração com os detentores de direitos para criar e proteger uma biblioteca de sons na plataforma", explica Furtado.

Como ser viciante e autêntico

O Lasso ainda não ganhou tração, enquanto as Cenas do Instagram são muito recentes para se chegar a qualquer conclusão. Mas as críticas diretas de Mark Zuckerberg ao TikTok, pintado como um aplicativo ameaçador à liberdade de expressão, soam mais como lobby de um gigante que está com dificuldade para frear a ascensão de um desafiador.

Com o Snapchat, a estratégia foi copiar e colocar Stories em todos os produtos do Facebook. O mesmo parece não funcionar contra o TikTok, que tem uma carta na manga: seu algoritmo.

Você não precisa seguir ninguém no TikTok, pois o aplicativo já te oferece, de pronto, uma seleção de vídeos populares. Não gostou? Só arrastar a tela para cima e ver se o próximo vídeo curto te agrada. Se sim, só apertar o coração de curtida e pronto.

Furtado diz que o objetivo da plataforma não é a socialização, como no Facebook ou Instagram, mas o entretenimento via consumo de conteúdo —e o aplicativo entrega isso de uma maneira viciante e difícil de copiar.

O TikTok oferece uma experiência de visualização sem esforço, atraente e personalizada com seu processo de descoberta inteligente. Tudo que você precisa fazer é assistir, se engajar com o que gosta, pular o que não gosta e você encontrará um fluxo interminável de vídeos personalizados apenas para você, em vez de receber vídeos no feed apenas dos mais populares e famosos da plataforma
Rafaela Furtado, chefe de parcerias estratégicas da ByteDance na América Latina

Ao contrário de Facebook, Instagram ou até mesmo Twitter, o TikTok tem na sua essência a descoberta de novos conteúdos que têm a ver com seus interesses, mas que vão além de quem você segue ou de seus amigos. O resultado é um estímulo diferente àquele das redes sociais que estávamos acostumados.

"A chave do sucesso do TikTok é a autenticidade e sinceridade da nossa plataforma", argumenta Furtado. "No TikTok, as pessoas comuns estão se expressando de forma criativa, de maneiras únicas que representam quem são autenticamente. É uma comunidade muito positiva, onde não há expectativas sobre as pessoas. Você é livre para ser o seu eu autêntico."

A empresa também rejeita a classificação como uma plataforma exclusivamente jovem, de difícil entrada para veteranos da internet. Como exemplo disso, ela cita a variedade de vídeos de dicas de "faça você mesmo", construção, decoração, arquitetura e gastronomia.

E as polêmicas?

Zuckerberg e seu Facebook pressionam políticos americanos a agir contra o TikTok. É um movimento que tem sido bem recebido por um Congresso cético em relação a empresas de tecnologia da China. Um dos argumentos contra o app é que há censura sobre publicações que tratam sobre temas indesejados ao governo chinês.

Na última semana, a empresa suspendeu a conta de uma adolescente que havia publicado um tutorial de maquiagem que, na realidade, era uma denúncia sobre os acontecimentos em Xinjiang, no oeste da China. A conta foi restabelecida e a empresa pediu desculpas, explicando que um erro humano resultou na suspensão da usuária.

"O trabalho de preservar o TikTok como um ambiente seguro, positivo e acolhedor para nossos usuários, além de proteger sua liberdade de expressão criativa para postar conteúdo que possa ser sério ou desconfortável, é complexo e desafiador", diz Furtado.

Na semana passada, um estudante universitário da Califórnia acusou o app, em um processo coletivo, de transferir dados dos usuários a servidores na China. No estado de Illinois, outro processo acusa a empresa de coletar e expor dados pessoais de menores de 13 anos, uma violação da lei de proteção da privacidade de crianças.

Apesar de a ByteDance ter sua sede em Pequim, o TikTok usado por aqui não existe na China e, de acordo com a empresa, têm independência das leis de censura do país, pois realiza toda sua operação fora dele.

"O TikTok não remove conteúdo com base em sensibilidades relacionadas à China. Nunca fomos solicitados pelo governo chinês a remover qualquer conteúdo e não o faríamos caso requisitado. Não somos influenciados por nenhum governo estrangeiro, incluindo o governo chinês. O TikTok não opera na China, nem pretendemos fazê-lo no futuro", defende Rafaela.

A ByteDance tem um equivalente ao TikTok na China, chamado Douyin. Este segue as rigorosas regras de censura do país, como dezenas de termos relacionados ao Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989 na capital Pequim.

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