2019, o ano em que as figurinhas de WhatsApp chegaram e mudaram nossa vida
Sem tempo, irmão
- Figurinhas (ou stickers) revolucionaram o jeito como nos comunicamos
- Elas trouxeram o poder dos memes para as piadas internas, diz pesquisadora
- Fáceis de criar e colecionáveis, elas se espalharam pelas conversas
- Cultura do sticker é ainda forma de criar diálogo sobre todo e qualquer assunto
- O brasileiro abraçou a nova moda como ninguém, explica especialista
Muito mais do que mil palavras, uma imagem pode valer até 65.536 letras. Pelo menos no WhatsApp. Esse é o limite de caracteres que o aplicativo permite que se mande a cada mensagem. E, mesmo podendo escrever esse tanto, tudo que te bastou para responder aquele seu amigo sem noção foi uma simples figurinha.
Descrever a perplexidade nunca foi tão fácil. As figurinhas —ou stickers— do WhatsApp são um fenômeno, que vem revolucionando a forma como nos comunicamos.
Ainda assim, é um movimento difícil de se medir. Procurado por Tilt, o WhatsApp afirmou que não pode responder perguntas como: "quantas figurinhas foram usadas nos últimos meses?" ou "quais as mais populares?", porque o aplicativo de mensagens usa um sistema de criptografia de ponta a ponta.
Daí que, na prática, para o servidor do WhatsApp, suas mensagens são apenas números e letras impossíveis de serem traduzidos. Sistema ótimo para sua segurança, mas que torna bem difícil medir o real impacto das figurinhas na nossa vida. Mas há outras formas de captar, ao menos um pouco, o tamanho do sucesso da nova ferramenta.
Dá para ter ao menos uma noção quando olhamos para o número de downloads de aplicativos que servem para criar essas figurinhas. O Sticker Studio, por exemplo, foi baixado mais de 10 milhões de vezes só na versão para Android. O número também foi batido por concorrentes como o Sticker.ly, que na AppStore, do iPhone, garantiu o segundo lugar no ranking dos aplicativos mais usados da categoria "Utilidades", ultrapassando apps como Yellow e até Google Chrome.
Como ficou mais fácil brincar com as imagens e criar nossas próprias, a coisa se popularizou rapidamente. "As figurinhas trouxeram o poder dos memes para as piadas internas. É muito fácil você criar um sticker do seu colega de trabalho", afirma Dandara Magalhães, pesquisadora social da Universidade Federal Fluminense e uma das responsáveis pelo Museu de Memes. "Isso é relativamente inédito. A figurinha do WhatsApp faz sentido circulando apenas entre seus amigos. Até então, o comum era criar memes para ambientes abertos, como o Twitter, onde a mesma imagem pode ser usada por pessoas do mundo todo", completa.
As figurinhas também aparecem como a peça que faltava para um casamento ainda mais perfeito entre Brasil e "zap". Isso porque a gente gosta de memes e os usamos em todo tipo de situação. Todo.
"Memes são um fenômeno mundial. Eles acontecem em todo lugar, mas o Brasil tem algumas características muito específicas", explica Magalhães:
A gente abraça a nossa própria cultura como uma forma de criar diálogo sobre qualquer assunto. É uma forma de trazer a discussão para o espaço público, criar debates. Aqui a gente consegue falar de política usando a Gretchen, isso é muito único
O fenômeno, claro, não se restringe à política. "É um fenômeno muito legal, porque serve como uma representação rápida de um sentimento que você está tendo, em forma de imagem", conta Felipe Misale, fundador da Melted Videos, perfil de humor que acumula mais de 400 mil seguidores só no Instagram.
Por exemplo, na próxima vez que uma pessoa próxima a você fizer uma burrada mesmo depois de todo mundo desaconselhar, é só pedir para ela dizer "Xis!", e depois mandar essas figurinhas:
"Isso é a representação perfeita de um sticker", conta Misale. "A partir de uma reação espontânea, você consegue ter um meme. Se torna engraçado, porque as pessoas se identificam."
A variedade de imagens, que aparecem justamente pela facilidade de criação, amplifica ainda mais esse tipo de uso. "As figurinhas possuem esse caráter colecionável. Você vai coletando várias respostas prontas para usar em situações no futuro", diz Misale. "Isso acaba dando um tom mais bem humorado e atual sobre o assunto".
Há ainda um quê científico por trás dessa história: as figurinhas nos ajudam a transpor o gélido e apático espaço que é uma tela de celular só preenchida com texto. Não é só você que sente dificuldade em entender se a pessoa do outro lado está brava porque colocou um ponto final naquele "Está tudo ótimo". A falta de outros artifícios, como o tom de voz ou a expressão facial, complica a comunicação.
"As figurinhas nos ajudam a evitar as ambiguidades", afirma a linguista Anne Cristina Peres. "Elas facilitam a conversa. Isso não é simples. É algo que sempre foi perseguido na relação ser humano-comunicação."
Claro que tem meme para isso, sempre tem. E, pelo jeito, não precisa nem se envergonhar. Suas figurinhas, olha só, estão ajudando o Brasil a se entender. Só há mérito nisso.
"Na linguagem informal, na conversa cotidiana, não é nada confortável empregar termos técnicos ou extremamente formais", conta Peres. "As figurinhas representam a linguagem oral e expressam sentimentos e emoções. Isso é muito importante para a comunicação."
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