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Sidarta Ribeiro critica descaso com ciência: "ou Bolsonaro entende, ou sai"

De Tilt, em São Paulo

07/01/2020 00h08

Em sua participação no Roda Viva desta segunda-feira (6), o neurocientista e professor Sidarta Ribeiro criticou o descaso e a falta de investimento na ciência por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O professor afirmou que é preciso mudar a maneira de conduzir o orçamento para pesquisas científicas:

Se não mudar, a ciência do Brasil vai acabar. E tem que mudar rápido. Ou Bolsonaro entende isso, ou ele sai e deixa alguém que entende fazer

"Quando o Bolsonaro foi candidato e disse que ia investir 3% em ciência, todos os cientistas riram, porque nossa bandeira histórica era de 2%. Mas dissemos 'ótimo, vamos, que o ministro Marcos Pontes [da Ciência e Tecnologia] possa ser o guia dessa reformulação positiva'. Não é o que está acontecendo. Os recursos já vinham em queda brutal, no governo Temer foi muito ruim, e no governo Bolsonaro é pior ainda. Está acontecendo uma humilhação da ciência brasileira que, literalmente, está se mobilizando para garantir a bolsa do mês que vem. Isso não é um discurso nacionalista, é um recurso de desmonte."

Quero saber qual é o nacionalismo que está envolvido em desmontar a ciência de um país. É preciso urgentemente que as pessoas se conscientizem que não haverá futuro se a gente continuar por esse caminho
Sidarta Ribeiro, neurocientista

Ribeiro revelou que diversos professores das universidades públicas brasileiras estão pagando as bolsas dos alunos com seu próprio salário para impedir que as pesquisas parem. "As pessoas estão trabalhando com pouquíssimo dinheiro. É muito difícil manter a moral da tropa", lamentou.

No ano passado, o ministro Paulo Guedes ordenou que verbas direcionadas para ciência e tecnologia fossem congeladas, assim os estudantes bolsistas da Capes e da Cnpq ficaram sem receber dinheiro por suas pesquisas.

O diretor do Instituto do Cérebro da Universidade federal do Rio Grande do Norte ainda defendeu o aumento de investimento privado na ciência brasileira, mas alertou que essa não é a única saída.

"A filantropia privada é importante, o investimento privado que visa lucro também é importante, mas a gente tem que ter clareza. Nos Estados Unidos o principal investidor em ciência é o governo".

Fuga de cérebros

Tendo estudado fora, mas escolhido se estabelecer e pesquisar no Brasil, Sidarta afirmou que não se arrepende da decisão. Ainda assim, ele alerta que existe uma "fuga de cérebros" em curso no país.

"Hoje em dia, o Brasil está formando gente em alto nível para mandar para fora do país", disse ele.

Para o professor, a resposta para o descaso com a ciência e os questionamentos a fatos comprovados está na falta de investimento em educação.

Se você tem uma educação de qualidade, ninguém vai chegar na idade adulta achando que a Terra é plana

"Como a gente quer construir um país decente se não faz o básico? Na Argentina, há 100 anos, tiveram uma revolução educacional. Os cientistas têm que fazer divulgação científica, é importante e faço. Mas o problema não começa ali. Começa no ensino fundamental muito ruim, no ensino médio muito ruim. O que é ensino fundamental à distância senão uma grande irresponsabilidade. As crianças vão receber educação de seus pais que também não sabem absolutamente nada?", questionou.