Conheça os detalhes do navio que leva estudiosos brasileiros à Antártica
A viagem rumo à Antártica começou em Punta Arenas, a cidade chilena que fica no extremo sul do continente sul-americano e que serve de base para os navios que partem em direção ao continente gelado. A missão da Agência Brasil é acompanhar a reinauguração da Estação Brasileira Comandante Ferraz.
Nossa equipe embarcou no navio polar brasileiro Almirante Maximiano sem saber ao certo quando vai conseguir chegar à Antártica. Neste local do planeta, qualquer tipo de deslocamento é imprevisível. Afinal, as condições climáticas são severas e extremamente inconstantes.
Além disso, entre Punta Arenas e a Antártica fica o Estreito de Drake, ponto de encontro dos oceanos Pacífico e Atlântico. A região é considerada a mais perigosa do mundo para a navegação. As ondas podem chegar a 11 metros de altura e o vento ultrapassar os 200 quilômetros por hora. Um cenário assustador que já provocou o naufrágio de mais de 800 navios e deixou 10 mil marinheiros mortos.
Os relatos sobre o Drake não são nada animadores para quem vai seguir viagem. Logo na chegada a bordo foi realizada uma reunião para informar os procedimentos de segurança. A primeira recomendação foi de que seria prudente tomar remédios que evitam o enjoo. Passar mal a bordo é praticamente algo obrigatório para quem atravessa o Drake. Segundo os marinheiros, algumas pessoas sentem os efeitos de forma mais intensa e outras não, mas ninguém consegue cruzar o estreito sem apresentar nenhum tipo de mal-estar.
Para piorar a situação, descobri que a travessia do Drake deveria durar dois dias e que neste período o ideal seria ficar deitado para evitar acidentes. O navio balança muito e inclina fortemente no momento em que atravessa as ondas. Portanto, o risco de uma queda é grande.
A boa notícia é que todos os marinheiros são experientes e já atravessaram o Drake diversas vezes. Desde que foi comprado pela Marinha em 2009, o Almirante Maximiano fica seis meses por ano na Antártica e neste período precisa passar várias vezes pelo estreito. O comandante do Navio, o Capitão de Mar e Guerra Cândido Marques, admite que a região realmente é perigosa, mas tranquiliza os marinheiros de primeira viagem.
"O Drake é um lugar com o mar extremamente revolto, mas o Almirante Maximiano tem equipamentos modernos de segurança, e a operação na região conta com o suporte da equipe de meteorologistas da Marinha, que analisam o melhor momento para passar pelo estreito".
Apesar de obviamente ser impossível disfarçar uma certa ansiedade e um pouco de medo, estava confiante de que seria uma viagem com emoção, mas segura. Na previsão inicial, chegaríamos na Antártica em quatro dias. Nos primeiros dois dias, a viagem foi bem calma. O navio deixou Punta Arenas e seguiu pelo Estreito de Magalhães passando pelos canais chilenos, uma região cercada por ilhas que evitam a entrada das fortes marés do Drake.
Além do mar calmo, o cenário dos canais chilenos é muito bonito. Diversas montanhas verdes que se misturam com morros ainda cobertos pela neve, mesmo no verão. Quando vamos nos aproximando da Antártica surgem algumas geleiras e pequenos icebergs, que tornam a paisagem ainda mais bela. Um alívio para os olhos e para a mente de quem o tempo todo só pensa como vai ser o momento de chegar ao Drake.
A calmaria dos canais chilenos permitiu que nossa equipe andasse tranquilamente pelo navio e conhecesse a rotina do Almirante Maximiano. A embarcação é uma espécie de cidade flutuante com estoque de combustível e alimento para navegar durante 50 dias. As quatro refeições diárias são produzidas na cozinha industrial do navio, que pode transportar até 120 passageiros. Na temporada de seis meses no mar são preparadas 30 toneladas de alimentos.
Para não agredir o meio ambiente, todo o esgoto passa por um processo de tratamento biológico e o lixo que não pode ser reciclado é incinerado. A água que abastece os chuveiros e torneiras do navio é retirada do mar e passa por um processo de dessalinização.
O Almirante Maximiano é utilizado para transportar pesquisadores brasileiros que desenvolvem estudos na Antártica e militares que trabalham na Estação Comandante Ferraz. Para auxiliar os cientistas, o navio conta com cinco laboratórios e equipamentos de pesquisa.
O Capitão de Corveta Vitor Pimentel, que é o Chefe de Operações do Almirante Maximiano, diz que entre os materiais científicos estão sensores que podem coletar informações do mar em regiões de até 8.000 metros de profundidade. "Os pesquisadores a bordo do navio usam estes dados para atualizar as cartas náuticas da Antártica e também nos estudos oceanográficos sobre a região mais desconhecida do planeta".
Durante a viagem, também conheci as histórias de diversos militares que estão a bordo e que ficam seis meses longe de parentes e de amigos. O sargento Carlos Torres está pela segunda vez no Almirante Maximiano. No ano passado, a terceira filha dele nasceu enquanto o militar trabalhava na Antártica. Ele só conheceu a menina quando ela tinha três meses e agora vai perder seu primeiro aniversário.
"É claro que eu sinto saudade, mas a minha família sabe da importância da minha missão. A única que reclama é minha filha do meio, que fica triste porque não consigo participar das festas de fim de ano do balé e do colégio".
Depois de dois dias a bordo, o Drake estava cada vez mais perto e as previsões da meteorologia não eram boas. As ondas estavam acima de seis metros, o que tornaria a viagem bastante desagradável. A decisão do comandante do navio foi esperar o mar acalmar. "Vamos procurar um local abrigado para fundear o navio. Na Antártica, é preciso ter calma e não adianta tentar desafiar a natureza".
No fim da tarde de ontem, o Almirante Maximiano se aproximou da cidade de Porto Williams, no Chile, último local seguro antes do Drake. O navio parou e vamos ficar a bordo esperando pelo menos até amanhã.
Neste lugar do planeta, ter paciência é fundamental, afinal, é a natureza quem decide quando é possível chegar à Antártica.
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