"Porco do futuro": comi a carne feita de planta e até que não é ruim
Sem tempo, irmão
- Porco feito de plantas está sendo oferecido pela Impossible Foods em Las Vegas
- Alimento não é ruim como eu, amante de carne, imaginava
- Gosto misturado com temperos é bom, mas ele lembra um pouco os congelados
- Alimentos do futuro são desafio em mundo que precisará de mais comida e menos poluentes
- Comidas a partir de plantas, contudo, sofrem críticas pelo alto processamento
Em primeiro lugar, preciso ser transparente aqui: este texto está vindo de uma pessoa que é viciada em carnes "reais" e não nega um churrasco. Em segundo lugar, não sou nenhum Erick Jacquin para saber diferenciar exatamente ingredientes e "tompêros". Ponto.
De qualquer forma, por mais que eu não seja um chefe de cozinha, gosto de comer e apreciar comidas saborosas. É com esse pensamento que fui enfrentar o tal "porco do futuro", que a Impossible Foods está apresentando em Las Vegas nesta semana durante CES 2020, a maior feira de tecnologia do mundo.
Caso não se lembre, o nome da empresa ficou famoso depois do lançamento de seu "hambúrguer do futuro", alimento feito à base de vegetais criado para simular o sabor da carne bovina.
Confesso que cheguei no stand deles por aqui com o pé um pouco atrás. Como disse, curto carne real e não me imagino sem aquele pedaço mal passado de uma picanha. Mas prometo, em respeito a quem não curte carne, que daqui em diante só vou falar da comida feita de plantas.
Como foi a experiência?
Não foram poucas as pessoas que estavam atrás do porco do futuro aqui na CES — existiam várias bandejas saindo a cada minuto com a carne que não é carne preparada em um pequeno lanche com pão para ser apreciada. Peguei um e fui me sentar para ver qual que era o sabor.
De fora, o aspecto dela parece exatamente como a o hambúrguer do futuro que, inclusive, experimentei ontem. O gosto da carne de porco de plantas contudo, foi surpreendente.
Tempero se destaca
O porco do futuro veio acompanhado de temperos em volta. Apesar de concordar que esses mix de sabores deixam as nossas comidas realmente boas (né, Jacquin?!), o uso deles acabou sendo um problema na hora de experimentar a "carne". O sabor se sobressaiu muito em relação ao porco.
O bom foi que isso durou pouco. Quando consegui finalmente saboreá-la, fiquei surpreso. Realmente o gosto dessa carne de planta não é ruim, como outras pessoas tinham comentado comigo.
Mas devo dizer que a diferença para o hambúrguer do futuro não é tão grande. A textura dos dois, inclusive, é semelhante. Os dois me lembraram um pouco aqueles congelados Hot Pocket, com a diferença, claro, de serem mais saudáveis do que esses lanches que você esquenta no microondas.
Ainda que o gosto do lanche de porco do futuro tenha sido muito bom —confesso fiquei com uma vontade de "quero mais" depois de acabar com o meu —, eles não me convenceram tanto como um substituto para a carne de origem animal.
Sim, eu comeria tranquilamente essa carne diferente em algumas ocasiões, mas não me vejo tomando isso como base de uma refeição.
A não ser que seja por ideais — muito corretos e nobres por quem os possui, claro — de mudar minha alimentação por um futuro mais sustentável do planeta e por menos sofrimentos aos animais.
E o que tem de tecnologia nisso tudo?
O porco do futuro é feito de plantas, como já havia destacado. Segundo a Impossible Foods, ele não tem glúten e nem possui hormônios animais ou antibióticos.
Em 100 gramas, o produto tem 16 gramas de proteína, 3 miligramas de ferro, 0 mg de colesterol, 13 gramas totais de gordura, 7 gramas de gordura saturada e 220 calorias, segundo a empresa. O porco real, na mesma proporção, tem 17 gramas de proteína, 1 miligrama de ferro, 86 mg de colesterol, 32 gramas de gordura total, 11 gramas de gordura saturada e 350 calorias.
Ao desenvolver a fórmula, os cientistas da Impossible Foods procuraram fatores que diferenciassem o porco da carne bovina. Pelo alimento ser mais usado em refeições bem temperadas, ele foi conceituado com um sabor mais neutro.
A textura também foi modificada. Apesar disso, a plataforma usa a mesma tecnologia no processo, com nutrientes como aminoácidos, açúcares e gorduras que reagem com moléculas-chave para gerar o produto. A diferença entre a carne de porco e o alimento da empresa está na concentração de nutrientes.
O futuro da alimentação e a polêmica
Existem muitos debates sobre como será a alimentação do futuro em um mundo que necessitará cada vez mais de alimentos para combater a fome — já mostrei em Tilt, por exemplo, que insetos são vistos como uma alternativa. Ao mesmo tempo, a necessidade de encontrar ações para conter os causadores das mudanças climáticas é inquestionável.
Dentro dessas mudanças estratégicas, a Impossible Foods quer oferecer uma linha completa de produtos feitos à base plantas e já vislumbra até frango. Recentemente, ela lançou também a "salsicha do futuro", com um visual que lembra bastante a verdadeira. Ambos os produtos são direcionados para diferentes receitas, segundo a marca.
Por outro lado, a qualidade nutricional desses alimentos ainda é alvo de polêmica pelo alto nível de processamento deles. Os benefícios ao corpo humano são colocados em dúvida por alguns críticos dessa alimentação.
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