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Equipadas com veículos de ponta, avós aborígenes combatem fogo na Austrália

Charmaine Sellings, que fundou a brigada Lake Tyers Aboriginal Trust Country Fire Authority - CFA
Charmaine Sellings, que fundou a brigada Lake Tyers Aboriginal Trust Country Fire Authority Imagem: CFA

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

16/01/2020 18h30

Os incêndios florestais estão destruindo a Austrália em proporções devastadoras: 10 milhões de hectares queimados, 1.200 casas destruídas, 28 pessoas e 1 bilhão de animais mortos, um terço da população de coalas dizimada.

Em Victoria, um dos estados mais atingidos pelo fogo, a brigada de incêndio aborígene de Lake Tyers protege uma área de 5.000 hectares, cerca de 40 casas e 200 moradores. Uma terra considerada sagrada, com grande carga de história e cultura, pela população tradicional da etnia Gunai/Kurnai.

Você deve imaginar homens brutos, jovens e fortes, à frente deste serviço. Mas, são todas mulheres, todas indígenas, mães e avós, algumas com mais de 50 anos de idade. São elas que fundaram o grupo, que comandam as operações e que são as bombeiras.

A Autoridade de Incêndio aborígene de Lake Tyers é comandada por Charmaine Sellings, de 52 anos, que fundou a brigada há duas décadas, depois que um incêndio proposital destruiu parte da comunidade —o caminhão de bombeiros mais próximo estava a quase uma hora de distância.

As mulheres voluntárias receberam, então, treinamento da CFA (sigla em inglês para Autoridade de Incêndio do País), veículos modernos e equipamentos de ponta para enfrentar a difícil missão de controlar as chamas que nos tempos de seca se alastram pelas florestas da região. Esta temporada de incêndios é a mais severa da história.

"Estamos trabalhando sem cessar. As condições são extremas, as represas estão vazias, é bem desesperador. Nosso papel é muito importante, somos a linha de vida caso algo dê errado", disse Charmaine à Women's Weekly australiana.

Hoje, elas pilotam caminhões e operam motosserras, limpando o terreno e combatendo alguns dos piores incêndios de Victoria. Além de proteger sua comunidade, suas famílias, sua história e sua terra sagrada das chamas, elas são chamadas para atender acidentes na estrada e outras emergências na região.

Charmaine Sellings com sua caminhonete - CFA - CFA
Charmaine Sellings com sua caminhonete
Imagem: CFA

"A primeira vez que usei uma motosserra, fiquei apavorada. Tive de cortar árvores que haviam caído para que pudéssemos passar. Eu odiei aquilo. Agora eu adoro. Empunho uma motosserra e abro o caminho em um piscar de olhos", contou Charmaine, que tem duas filhas e três netos.

Com as previsões de muita seca e mudanças climáticas nesta temporada, que têm alimentado terríveis incêndios desde a primavera de 2019, a brigada recebeu um novo aliado: uma caminhonete de última geração, ultraleve e com tecnologia de ponta.

As mulheres não perderam tempo e deram um toque especial a ele: uma pintura aborígene, batizada de "Trabalhando Juntas". Todo vermelho, azul e roxo, o veículo chama a atenção e ajuda a disseminar um senso de inclusão e orgulho por onde passa, espalhando a história dos aborígenes que vivem neste santuário em volta do lago Tyers.

"Nos sentimos muito empoderadas por conseguir cuidar de nós mesmos, do nosso povo e da nossa terra. E a comunidade tem muito orgulho e gratidão", disse Charmaine. A brigada também é conhecida por "Banana Women", devido aos uniformes amarelos.

Começou como uma brincadeira dos homens da comunidade, mas o apelido pegou. "Acho que eles estavam com um pouco de inveja de nós", brinca a comandante. Ela garante que homens são bem-vindos no grupo. "Adoraríamos que eles se juntassem a nós. Vez ou outra algum quer participar, mas em geral não dura muito. Acho que eles não gostam de aceitar ordens minhas."

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