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Nova máquina com AI renova fígado e deixa órgão vivo por dias fora do corpo

Máquina tem potencial para melhorar espera por transplantes - Freepik
Máquina tem potencial para melhorar espera por transplantes Imagem: Freepik

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

22/01/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Máquina desenvolvida por suíços pode preservar fígado fora do corpo humano
  • Com equipamento, órgão pode ficar até sete dias sem um hospedeiro humano
  • Aparelho também pode melhorar a "qualidade" dos órgãos ao recriar organismo humano
  • Novidade pode diminuir filas de transplante de quem necessita do órgão
  • Máquina ainda precisa passar por novos testes para ter sua viabilidade confirmada

Cientistas suíços acabaram de desenvolver uma máquina que consegue manter um fígado vivo por até sete dias fora de um corpo. O avanço é mais um passo importante para um dia diminuir as longas filas de espera dos transplantes e as taxas de mortalidade por doenças hepáticas.

O aparelho também pode melhorar a "qualidade" dos órgãos ao recriar o ambiente do organismo humano, incluindo a pressão, a temperatura e os movimentos. São utilizados músculos artificiais, incluindo um diafragma (músculo entre o pulmão e o estômago), para que o fígado não sofra os danos de ficar parado na mesma posição.

Por meio de tubos removíveis, são bombeados sangue, oxigênio e nutrientes para esses fígados para mantê-los funcionando sem a necessidade de um corpo. Ao mesmo tempo, filtra o sangue com um sistema de diálise, removendo "lixos" celulares, como o dióxido de carbono e toxinas - um processo que acontece em um rim saudável, mas que com o uso da máquina é ainda mais eficiente.

As quantidades de nutrientes, sangue e oxigênio são automaticamente ajustadas por algoritmos. Por isso, a máquina, chamada "Liver4Life", não requer supervisão constante.

O aparelho Liver4Life - Reprodução/ Wyss Zurich - Reprodução/ Wyss Zurich
O aparelho Liver4Life desenvolvido por cientistas da Universidade de Zurique, na Suíça
Imagem: Reprodução/ Wyss Zurich

O aparelho demorou quatro anos para ser desenvolvido por uma equipe de cirurgiões, biólogos e engenheiros, de acordo com a pesquisa publicada esta semana na Nature Biology, da revista Nature.

Os cientistas da Universidade de Zurique utilizaram fígados de porcos em seus experimentos. Apenas no teste final foram utilizados dez fígados humanos que haviam sido rejeitados para transplantes por estarem muito danificados. Seis desses órgãos sobreviveram e tiveram uma melhora em sua saúde, com uma redução nos níveis de componentes degenerativos. De acordo com a pesquisa, os fígados se regeneraram ao ponto de poderem ser transplantados para um paciente em necessidade.

Futuro dos transplantes

Com as tecnologias e aparelhos atuais, fígados podem ser armazenados por apenas 24 horas, no máximo, antes de ser transplantado. Basicamente, eles ficam armazenados em gelo, sem realizar funções metabólicas. Uma máquina que consiga ampliar este tempo para uma semana pode ser a esperança para que as pessoas que mais precisam consigam receber um novo órgão.

As filas por um fígado são enormes no mundo todo. No Brasil, a espera por um transplante chega a demorar mais de um ano. De acordo com o Ministério da Saúde, foram realizados 2.221 transplantes de fígado, totais ou parciais (apenas um pedaço do órgão, com doador vivo, em geral para crianças) em todo o país em 2018. Muitas vezes, fígados viáveis são rejeitados porque não sobreviveriam ao longo transporte até o paciente - em 2015, por exemplo, foram 75 "para o lixo".

Uma pessoa pode sobreviver por algum tempo com um pedaço de fígado - já que o órgão tem poder de se autorregenerar. A máquina suíça pode acelerar esse processo e salvar fígados não-viáveis, recuperando a saúde deles para que pudessem ser transplantados. Mas ela ainda precisa de testes para comprovar que pode funcionar na prática em grande escala - e que os fígados mantidos são totalmente seguros para um paciente.

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