Cientistas prolongam vida de verme em 500%, e isso é notícia boa para nós
Sem tempo, irmão
- Cientistas acharam um modo de fazer que vermes vivam cinco vezes mais.
- Em humanos, isso equivaleria a aumento de 400 anos na expectativa de vida.
- Não se sabe como esse mecanismo se mostra diretamente útil nos seres humanos.
- Conhecimento dessa relação, por outro lado, abriu novos caminhos para a pesquisa.
É possível prolongar a vida de humanos e de outros animais para algumas centenas de anos a partir do estudo sobre a longevidade de... vermes? Para um grupo internacional de pesquisadores, a resposta é menos improvável do que possa parecer —embora não esteja ainda, necessariamente, na ponta da língua.
O estudo mais recente sobre o tema foi publicado em julho passado na revista Cell Reports. A condução dos trabalhos é do Laboratório Biológico MDI, no Maine (EUA), em colaboração com cientistas do Instituto Buck de Pesquisa sobre o Envelhecimento em Novato, Califórnia, e da Universidade de Nanjing, na China.
Por meio de algumas mudanças genéticas aparentemente simples, os pesquisadores identificaram caminhos celulares sinérgicos para a longevidade capazes de aumentar em até 500% o tempo de vida no verme Caenorhabditis elegans. O nematódeo é usado como modelo na pesquisa sobre o envelhecimento.
Para os estudiosos, o feito equivaleria, nos humanos e em outros mamíferos, a um aumento de 400 anos na expectativa de vida.
Os C. elegans estão muito longe de um humano, mas, comparados aos mamíferos, vivem por duas ou três semanas, o que os torna perfeitos para o estudo de vários genes e vias metabólicas também compartilhadas pelos seres humanos. Esse é um dos motivos pelos quais esses vermes integram a pesquisa sobre envelhecimento.
Uma vez que seres à primeira vista tão rudimentares podem ter a vida útil drasticamente ampliada, apostam os estudiosos, por que não aplicar o conhecimento aos seres humanos ou a outros mamíferos?
Cientistas já demonstraram, no passado, que alterar a via de sinalização da insulina (IIS) em vermes gera um aumento de 100% em sua vida útil. Mudanças na chamada via TOR (alvo da rapamicina), por sua vez, resultaram em um aumento de 30%.
No entanto, o estudo de julho conseguiu alterar geneticamente os dois caminhos da maneira correta para causar um resultado quatro ou cinco vezes maior que a soma de seus efeitos separados.
"A extensão sinérgica é realmente selvagem", constatou o biólogo molecular Jarod Rollins, do MDI, em um recente comunicado à imprensa. "O efeito não é um mais um é igual a dois: é um mais um é igual a cinco", comparou.
Segundo o site Science Alert, uma descoberta desse tipo mostra que o envelhecimento não é simplesmente o resultado de um gene ou caminho individual agindo por si só: é uma confluência de redes, e todas, trabalhando juntas a longo prazo.
Por essa razão, certamente se poderia explicar por que não foi encontrado um único gene ou caminho celular capaz de proporcionar uma vida mais longa a vermes, humanos ou qualquer outro animal.
Uma vez feitos ajustes nas vias IIS e TOR, os pesquisadores envolvidos no estudo descobriram que sua atividade corrente trabalha de maneira sinérgica ao induzir uma resposta ao estresse mitocondrial que promove a longevidade.
Tanto o Science Alert quanto outro site especializado, o Futurism, ressalvam: ainda não se sabe como esse mecanismo pode ser diretamente útil nos seres humanos. Um ponto, porém, já parece deixar os cientistas mais empolgados: o conhecimento dessa relação certamente abriu novos caminhos para a pesquisa.
Mesmo assim, o presidente do MDI, Hermann Haller, é cauteloso: apesar da descoberta em C. elegans de vias celulares que governam o envelhecimento, não ficou claro como essas vias de fato interagem.
"Ao ajudar a caracterizar essas interações, nossos cientistas estão preparando o caminho às terapias necessárias para aumentar a expectativa de vida saudável de uma população que envelhece rapidamente", ponderou, também em comunicado à imprensa.
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