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Jovem se matou ao vivo no TikTok, e app só avisou polícia 4 horas depois

TikTok soube de morte de jovem, mas tentou abafar e só avisou polícia quatro horas depois - Arte UOL
TikTok soube de morte de jovem, mas tentou abafar e só avisou polícia quatro horas depois Imagem: Arte UOL

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

06/02/2020 15h16

Sem tempo, irmão

  • Jovem se suicidou ao vivo no TikTok, e app tentou abafar o caso por horas
  • Segundo Intercept, aplicativo soube da morte, mas só avisou a polícia horas depois
  • Caso ocorreu em fevereiro do ano passado, com jovem brasileiro do Paraná
  • TikTok não é único com relatos do tipo - Facebook, Instagram e YouTube também têm casos
  • TikTok diz prezar pela "saúde e bem-estar dos usuários", além de ter mudado políticas

Um jovem influenciador brasileiro filmou seu próprio suicídio ao vivo pelo aplicativo TikTok, muito popular entre adolescentes, no início do ano passado. Mesmo sabendo da situação, o app chinês tomou providências para que o caso não vazasse e só avisou a polícia mais de quatro horas depois da morte do usuário, segundo reportagem do The Intercept Brasil.

O trágico caso ocorreu em 21 de fevereiro de 2019, quando um jovem paranaense de 19 anos fez sua última transmissão ao vivo no TikTok, às 15h23. No dia anterior ele havia dito que faria uma exibição "especial", o que levou a cerca de 280 pessoas assistirem ao rapaz se suicidar, enquanto transmitia tudo ao vivo. A empresa, por outro lado, trabalhou durante horas para que o caso não manchasse a imagem do aplicativo.

O The Intercept afirma ter ouvido uma ex-funcionária da ByteDance, empresa dona do TikTok por aqui, e aponta que o vídeo obteve 497 comentários e 15 denúncias de espectadores antes de ser tirado do ar, mais de uma hora depois de sua exibição ao vivo. A reportagem também mostra documentos com horários que comprovariam a ciência do TikTok sobre a trágica situação horas antes das autoridades serem avisadas.

Segundo a fonte, que não quis se identificar, entre 17h e 19h56 uma operação tomou conta do escritório brasileiro da empresa para tentar abafar uma possível crise por causa do vídeo.

De acordo com a fonte ouvida pelo The Intercept, os cerca de 60 funcionários do escritório da ByteDance, localizado no Itaim Bibi, em São Paulo, dividem-se em equipes de redes sociais, conteúdo, influenciadores, parcerias, moderação e administração. O time de moderação, conteúdo, seria o único que trabalha de maneira isolada, sendo deles a responsabilidade de tirar do ar conteúdos que contrariam os termos de uso da plataforma - ou seja, ofensivos.

Contudo, as transmissões ao vivo são monitoradas por uma equipe que fica na China, e era essa equipe chinesa que tinha a responsabilidade de ter monitorado e descoberto o suicídio do jovem brasileiro. A equipe de moderadores só ficou sabendo do vídeo depois que foi avisada em um grupo de WhatsApp, segundo o The Intercept. Assim, o conteúdo foi exibido por mais de uma hora e meia, sendo que a conta do jovem paranaense só foi excluída às 17h13, mais de uma hora e meia depois de sua morte.

De acordo com os documentos obtidos pelo site, apenas às 19h56, ou seja, mais de quatro horas e meia após a exibição do conteúdo - e duas horas e meia após ter acionado a equipe de relações públicas -, o TikTok avisou as forças polícias do Paraná. O corpo do rapaz deu entrada no Instituto Médico Legal de Curitiba às 20h05, apenas nove minutos após a comunicação do app sobre a morte.

Nota que não foi usada

O The Intercept teve acesso à nota de pêsames elaborada pela equipe de relações públicas do aplicativo, na qual o Tik Tok se dizia "extremamente triste com esta tragédia", além de apontar que a empresa possui "medidas para proteger usuários contra o uso indevido do app, incluindo mecanismos fáceis de denúncias que permitem denunciar conteúdo que violem nossos termos de uso".

Em entrevista ao The Intercept, a ex-funcionária da ByteDance afirmou que a nota foi feita apenas para amortecer as críticas à imagem da empresa, caso o suicídio viesse a público, o que não ocorreu até agora. Além disso, segundo ela, Marta Cheng, líder geral do Brasil e da América Latina, orientou os funcionários a não comentarem nada sobre o ocorrido.

"Marta foi acionada, lá [China] era de madrugada. Ligaram até ela atender. Após isso, ela ficou online, acionou outras pessoas e a orientação foi clara: não deixem viralizar essa história", afirmou à publicação.

Por fim, a ex-funcionária ainda afirmou ao Intercept que um documento interno destacou que a equipe do escritório deveria monitorar Twitter, Instagram e Tik Tok por 48 horas para acompanhar os desdobramentos do suicídio, mas a história nunca veio a público.

O TikTok, claro, não é o único a ter casos de suicídio ou mortes registrados ao vivo em redes sociais. Isso já ocorreu também com Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, entre outros sites que permitem compartilhamento de vídeos ou lives. Os casos fizeram as plataformas criarem políticas internas de detecção de possíveis suicídios e de ajuda a pessoas que mostrem sinais de depressão profunda.

TikTok diz prezar pelo bem-estar dos usuários

Em contato com o Tilt, o TikTok afirmou que "a segurança e o bem-estar de nossos usuários são prioridades".

"Há quase um ano removemos esse conteúdo e alertamos as autoridades locais porque não permitimos conteúdo que promova danos pessoais ou suicídio, conforme declarado em nossas Diretrizes da Comunidade", afirmou o app.

A empresa ainda ressaltou que, desde o ocorrido, atualizou as políticas de transmissão ao vivo e melhorou as medidas de segurança e moderação, além de adicionar novos treinamentos, ferramentas e protocolos de denúncia.

"Continuamos profundamente tristes com esse trágico incidente e nos solidarizamos com a dor da família. Incentivamos qualquer pessoa que precise de apoio ou que esteja preocupada com um amigo ou membro da família a entrar em contato com a linha direta de prevenção ao suicídio: Centro de Valorização da Vida - CVV 141", relatou o app.

Prevenção de suicídios

A existência de redes sociais, inclusive com recursos de vídeos ao vivo, aumentou a exposição de casos de suicídio, que em algumas situações extremas ocorrem ao vivo. O tema deixou de ser tabu e passou a ser falado de fato para ser combatido.

Por trás do suicídio, estão sentimentos como desesperança, hostilidade, angústia exacerbada ou desprezo social. Se você passa por algo assim, ou conhece alguém nesta situação, é recomendável que converse com especialistas ou órgão especializados, como:

  • CVV - Centro de Valorização à Vida - Telefone: 188
  • CAPS - Centro de Atenção Psicossocial - Procure a Secretaria Municipal de Saúde para informações sobre a unidade mais próxima
  • GASS - Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio
  • API - Apoio a Perdas Irreparáveis

Saber reconhecer pedidos de ajuda, que muitas vezes podem vir por meio de redes sociais, também é um primeiro passo para entender que alguém pode estar no limite. Você pode ajudar alguém que relate sintomas depressivos da seguinte forma:

  • Dê a entender que percebeu uma mudança de comportamento ou na aparência da pessoa
  • Inicie uma conversa quando tiver tempo para levar adiante
  • Não menospreze a dor alheia
  • Não transforme o desabafo em "competição"
  • Não tente mudar o foco ou acelerar a conversa
  • Não trate o desabafo como chantagem emocional
  • Incentive a cuidar da saúde mental

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