Colocamos a mão no Galaxy Z Flip: dobradiça encanta, mas falta utilidade
Não tem jeito: o saudosismo fala mais alto e está todo mundo pirando com os celulares Motorola Razr e Galaxy Z Flip, smartphones com telas dobráveis que lembram os aparelhos do início do século que tinham o formato flip. Apesar de toda essa animação, ambos os aparelhos - ainda - não me empolgam tanto.
É claro que os celulares são, de um ponto de vista, espetaculares. É sensacional uma tela que se dobra, inaugurada entre as grandes marcas pelo Galaxy Fold, da Samsung. E, nessa nova leva, essa tecnologia está mais estável. No meu rápido teste do Z Flip, deu para perceber que o display evoluiu muito.
Os dois celulares são, no entanto, um exemplo de que olhar para o passado às vezes não é uma boa solução para o presente nem para o futuro. Um celular Flip vai render manchetes, gerar frisson no público e disparar gatilhos emocionais que podem levar muita gente a comprar os produtos. Não é por isso que eles são o que há de melhor em tecnologia.
Quando penso nesses aparelhos com tela dobrável, o sonho verdadeiro é termos celulares que viram tablets - algo que Fold e Huawei Mate X fazem. Um celular que se dobra no estilo flip pode até ter seu público, que não deve ser pequeno, mas às vezes parece só a ponta de uma tecnologia.
Mais caros e piores
Há dois motivos para não achar que os novos flips são tudo isso. Eles são mais caros e piores do que os smartphones tops de linha da atualidade.
Vamos tomar o recém-lançado Z Flip como exemplo. Ele vai custar aqui no Brasil R$ 8.999, mais caro do que todos os aparelhos da linha Note e S da Samsung no ano passado - só é mais barato que o Galaxy Fold, que custa R$ 12.999.
Por esse preço, você vai levar um celular que não tem o melhor processador atual e com menos câmeras do que todos os celulares da linha S20 anunciados no mesmo evento da Samsung.
Ele usa o Snapdragon 855+, o melhor da Qualcomm, mas de 2019. Isso, por sinal, deve ser um dos motivos para o smartphone ter ficado mais barato.
Para se ter uma ideia, o Galaxy S20 Ultra vem com câmera de 108 MP, zoom de 100x e 5G por um preço de US$ 1.399 nos Estados Unidos. Já o Z Flip com apenas duas câmeras de 12 MP e sem 5G terá preço de US$ 1.380.
O Motorola Razr, então, nem se fala. Custando no Brasil o mesmo que o Z Flip, ele é um celular com um processador intermediário do ano passado e câmeras também abaixo. Simplesmente não faz sentido e a conta não fecha.
Ok, eles são mais portáteis
Poderem dobrar no meio, obviamente, é o grande benefício desses aparelhos. Enquanto custarem mais caro do que celulares melhores para só fazer isso, não vejo tanto sentido para morrer de amores.
Nos poucos minutos em que usei o Z Flip, achei muito bacana ter um celular que se dobra. Ao fechar, o aparelho fica bem compacto. Vira um quadradinho que cabe na palma da mão.
O benefício disso é claro. E muitas mulheres, por sofrerem com calças com bolsos pequenos, devem gostar. Homens, claro, também se beneficiarão disso - o celular não vai ficar mais com uma parte do corpo saindo pra fora do bolso e chamando a atenção pela rua. Nesse ponto, tanto Z Flip quanto o Razr se aproveitam da máxima "menos é mais".
O legal mesmo é ver como a tecnologia evoluiu. O Z Flip praticamente deixou imperceptível a depressão na tela no ponto onde ela dobra, algo que é mais visível no Fold. Isso faz o celular ganhar pontos e é um problema a menos para quem comprar.
Galaxy Fold e Mate X: os dobráveis dos sonhos
Não adianta. Os aparelhos que mais se aproximam do sonho de um celular dobrável são Galaxy Fold e Mate X. Ambos aproveitam a tecnologia de tela flexível para fazer um dispositivo do tamanho de um tablet caber no bolso.
O Fold foi ainda melhor que o Mate X ao fazer a tela se abrir como um livro. O chinês faz o movimento inverso, o que deixa a tela muito exposta.
Fold e Mate X também têm mais tecnologia. Só o da Samsung possui seis câmeras. Há defeito, claro: a tela exterior é estranha, ele é muito grosso quando dobrado e já teve problemas com a tecnologia de display flexível.
Quero comprar, mas qual é melhor?
Se você continuar achando que eu sou um babaca por segurar a empolgação com os flips, saiba que eu não te julgo: é viciante brincar com o Z Flip e relembrar dos celulares do início da década, inclusive com o icônico barulhinho de ele se fechando.
Agora, se você quer realmente comprar um desses dois flips dobráveis, cabe algumas avaliações. De cara, posso falar: o Z Flip aparenta ser a melhor opção.
O smartphone da Samsung tem uma tela interna melhor, design mais bem acabado, processador superior e câmera mais turbinada do que o concorrente. Ele ainda tem a útil opção de travar o smartphone em diferentes ângulos da dobra. Tudo isso pelo mesmo preço no Brasil do rival.
Pesa a favor do Motorola Razr o fato de ter uma tela exterior maior. Além disso, ele também ganha no quesito saudosismo. O modelo da Motorola foi fiel às origens até nas feiúras dos celulares do início do século — a borda inferior onde a tela se encaixa ao dobrar não faz o menor sentido e é completamente estranha para os padrões atuais, mas está lá para nos relembrar de tempos não tão distantes.
Na era dos reboots do cinema e de reverência ao passado, saudosismo vende muito sim, senhor. No caso dos flips repaginados com telas dobráveis, porém, eles vão ficar legais mesmo quando o preço cair e as especificações alcançar o mesmo nível dos smartphones que não se dobram.
*O repórter viajou a convite da Samsung
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