Projeto com brasileiros melhora em 100 vezes visão de "caçador de planetas"
Sem tempo, irmão
- Novo pente de frequências a laser aumentou visão do equipamento em 100 vezes
- "Caçador" é espectrômetro HARPS que fica no Observatório de La Silla, no Chile
- Além de brasileiros da UFRN, cientistas da Alemanha e Espanha participaram
- Suas vantagens para lâmpadas é vida mais longa e cobrir todo espectro eletromagnético
Uma pesquisa desenvolvida por um consórcio internacional com participação de cientistas brasileiros deve revolucionar a busca por exoplanetas no universo. Trata-se do novo pente de frequências a laser, que aumentou a visão do caçador de planetas similares à Terra em pelo menos 100 vezes.
Nos últimos 25 anos, cerca de 4.000 exoplanetas foram descobertos no universo. O grupo de pesquisadores que se dedicou ao projeto inclui cientistas de Brasil, Alemanha e Espanha. Três integrantes são da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
O pente está instalado desde abril de 2015 no tal "caçador de planetas", que na verdade é o espectrômetro HARPS (sigla em inglês para Buscador de Planetas em Velocidade Radial de Alta Precisão) do Observatório de La Silla, no Chile, operado pelo ESO (Observatório Europeu do Sul). O Brasil é um dos países com pesquisadores e operadores dos equipamentos instalados no local.
O projeto que criou o pente chegou à sua fase final e já está em operação. A pesquisa foi desenvolvida ao longo dos últimos nove anos.
A dificuldade até hoje em descobrirmos planetas do tamanho da Terra é a falta de precisão, de sensibilidade dos instrumentos disponíveis. Com o pente, vamos melhorar essa precisão e sensibilidade em pelo menos 100 vezes, o que faz com que a ciência possa dizer: descobrir planetas tão pequenos quanto a Terra é apenas uma questão de tempo
José Renan de Medeiros, do Departamento de Física da UFRN e um dos autores das pesquisas que resultaram no novo equipamento
Precisão única
Com o pente, a técnica classicamente usada para a busca por exoplanetas —conhecida como Doppler— consegue medir espectros astronômicos com uma precisão nunca então alcançada.
Depois de mais de dois anos e meio de período de testes, desde o final do ano passado, porém, ele está aberto à comunidade astronômica. Os primeiros resultados do novo caçador de planetas foram destaque em artigo publicado no último dia 10 no portal da Nature Astronomy. Em março, o tema deve ser o destaque de capa da revista impressa.
Segundo o artigo já publicado, há "uma precisão sem precedentes" na busca espacial. "Esse desenvolvimento é considerado fundamental na busca por exoplanetas rochosos de baixa massa em torno de estrelas do tipo solar", diz o artigo assinado por 26 autores. Além de Medeiros, os pesquisadores Bruno Leonardo Canto Martins e Izan de Castro Leão, também da UFRN, assinam o texto.
Uma "régua" espacial
Medeiros explica que os pentes funcionam como uma espécie de "régua" espacial, que servirá para calibrar a intensidade da luz recebida das estrelas.
"Eles são calibradores para as medidas que nós fazemos ao buscar um exoplaneta em torno de uma estrela. Até hoje, os instrumentos disponíveis usavam lâmpadas como calibradores. Acontece que as lâmpadas envelhecem, estragam e não cobrem completamente o espectro eletromagnético. Isso não ocorre com o pente de frequência a laser, que vai cobrir todo o espectro", diz.
O pesquisador ainda cita um outro aspecto fundamental para a ciência dos pentes. "Existe uma pergunta que a física busca responder há muito tempo, que é sobre a possível variação das constantes fundamentais da natureza no espaço e no tempo como, por exemplo, a velocidade da luz", diz.
"Exatamente devido à sua estabilidade a longo prazo, devido a sua sensibilidade e alta precisão, os pentes também vão representar um passo importante no estudo sobre a possível variação, ou não, de constantes fundamentais da natureza", explica.
As pesquisas em astronomia da UFRN têm ligação estreita com o físico suíço Michel Mayor, que é um dos maiores nomes da astronomia do mundo. Em 1995, ele descobriu um planeta orbitando a estrela 51 Pegasi, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física de 2019. Mayor foi condecorado como doutor honoris causa pela UFRN em 2006 por conta de seus serviços prestados à universidade.
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