Já pensou na morte hoje? App lembra usuários que ela está próxima
Sem tempo, irmão
- WeCroak lembra cinco vezes por dia que você pode morrer a qualquer momento
- Inspiração do app é ditado que diz que para sermos felizes, "é preciso contemplar a morte"
- Se no início lembretes incomodavam, depois serviram de inspiração para seguir mais feliz
Imagine que você está em casa lavando a louça quando de repente chega uma notificação em seu celular. Pode ser uma mensagem no WhatsApp ou no Facebook, é claro. Mas e se for apenas um lembrete de que sua morte é algo inevitável? Essa é a proposta do aplicativo WeCroak (iOS, Android), que testei por cinco dias e que me surpreendeu positivamente.
Todo mundo sabe que a morte é a única certeza. Apesar disso, o assunto é difícil para algumas pessoas, enquanto outras evitam completamente conversar sobre o fim da vida. O WeCroak, que significa "nós coaxamos" em tradução literal, lembra cinco vezes por dia que você pode morrer a qualquer momento.
Inspirado em um ditado butanês que diz que "para uma pessoa ser feliz é preciso contemplar a morte", o aplicativo envia notificações diariamente com citações relacionadas ao fim da vida. Algumas animadoras, outras sombrias. A intenção é chegar aleatoriamente até o usuário, assim como a morte.
O funcionamento é muito simples: basta baixar o aplicativo WeCroak. Não é necessário realizar nenhum tipo de cadastro ou dar "start" para que a morte passe a bater diariamente à sua "porta" —mas as mensagens são em inglês.
"Acreditamos que uma prática regular de contemplar a mortalidade nos ajuda a aceitar que devemos deixar de lado as coisas que não importam e honrar as coisas que importam", diz o site do app.
"Não se esqueça. Você vai morrer!"
Para saber como é a sensação de ser lembrado sobre a iminente chegada da morte, resolvi baixar o aplicativo e passar pela experiência. Nos primeiros dias, receber um lembrete com os dizeres "Não se esqueça. Você vai morrer!" é bastante desconfortável. Ainda mais quando meu primeiro dia com o aplicativo era aniversário da minha mãe.
Segunda-feira
Estávamos reunidos em família para comer o famoso bolinho de aniversário quando meu celular vibrou. Além do lembrete, recebi uma mensagem do poeta inglês Donald Hall que dizia: "Você acha que a morte deles é a pior coisa que poderia acontecer. Assim eles permanecem mortos".
É exatamente assim! O aplicativo chega como a morte, você não espera o momento. Com esse lembrete não me restou nada mais do que ir até meus pais e dar um belo abraço. Não custa nada demonstrar um pouco de amor, certo?
Terça-feira
Acordei cedo com o celular vibrando. Olhei pensando ser uma mensagem da minha noiva, já que tínhamos combinado de ir à academia. Para minha surpresa, uma mensagem na tela: "não se esqueça, você vai morrer!". Desconfortável, né!?
Junto ao lembrete, a mensagem que dizia: "Até o pior momento e as jornadas mais difíceis devem chegar ao fim", da escritora inglesa Emma Orczy. Uma mensagem inspiradora, de fato. Apesar de me fazer pensar na morte, me deu a esperança de que todas as dificuldades chegam ao fim —e não necessariamente por conta do fim da vida.
Quarta-feira
Dia de viagem em família! Desde o final de 2019 havíamos combinado de passar alguns dias na praia. Momento de relaxar, se divertir e (por que não?) pensar na possibilidade de morrer. Estávamos na rodovia Dom Pedro I quando chegou a mensagem macabra (que naquela altura, depois de ser lembrado da morte por 12 vezes nos últimos três dias passou a fazer parte do meu cotidiano).
Detalhe: eu não estava dirigindo —se estivesse ao volante e olhando a celular, a morte poderia estar mais perto, não!?
Mais uma vez, uma frase que me fez refletir de maneira diferente sobre a morte. Desta vez, dita pelo ex-presidente americano Abraham Lincoln: "Se eu for morto, posso morrer apenas uma vez; mas viver em constante medo disso, é morrer repetidamente". De fato, pensar na morte sem medo dela parece ser melhor do que evitar o assunto.
Quinta-feira
Já na praia, acordamos cedo, tomamos café e "bora para os momentos de diversão". Àquela altura os lembretes de que a morte era inevitável e que poderia chegar a qualquer momento já não me incomodavam mais. Pelo contrário, até começaram a fazer eu pensar que deveria aproveitar ainda mais o passeio.
Quiosque, cerveja, sol e, claro, um lembrete sobre a morte. "Não posso escapar da morte; mas não posso escapar do pavor disso? Devo morrer tremendo e lamentando?", dizia a mensagem do filósofo grego Epiteto. De fato, escapar da morte é impossível, então qual o motivo para que a gente tema tanto sua chegada? Não seria melhor pensar apenas na vida e seguir adiante? Que tal deixar o medo para lá e viver o presente?
Sexta-feira
No último dia de minha semana de experiência, recebi uma mensagem do aplicativo que me fez pensar se ele não estava me observando. Um passeio à beira-mar e uma mensagem no celular. Óbvio que eu já esperava o lembrete sobre a morte.
"Talvez a verdade dependa de um passeio ao redor de um lago", dizia o lembrete assinado pelo poeta americano Wallace Stevens. Um passeio, justamente o que eu estava fazendo. E assim, pensei: "Por que não aproveitar a vida, abraçar os amigos, a família e dizer para todos que os ama de verdade?".
No fim das contas, talvez os butaneses de fato vivam mais felizes por pensar que a vida pode estar próxima do fim. Se no início de minha experiência as mensagens e lembretes do WeCroak incomodavam, agora elas apenas me serviam de inspiração para seguir mais feliz.
Pense na morte, mas não como algo ruim. Que ela seja inspiradora para que vivamos os momentos de dificuldade de maneira mais leve e que pensemos no futuro como algo importante, mas que não chegará se não vivenciarmos o presente.
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