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Por que devemos ter mais cuidado com celular na tomada e crianças por perto

Em sete anos, 277 crianças de zero a dez anos morreram por choque no Brasil - Getty Images
Em sete anos, 277 crianças de zero a dez anos morreram por choque no Brasil Imagem: Getty Images

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

02/03/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Crianças são imprevisíveis e podem acabar mexendo onde não devem
  • Em 2019, 42 crianças (de zero a dez anos) morreram por choque elétrico
  • Uso de aparelhos genéricos e rede elétrica sem manutenção aumentam riscos
  • Dicas são evitar adaptadores e carregadores falsos, e cuidar da manutenção elétrica

A bateria do celular acaba, você o conecta na tomada e deixa ali, quietinho. Mas, quando bebês e crianças estão por perto, a atenção precisa ser redobrada. Algumas pessoas esquecem o quão fácil pode ser para os pequenos morder o cabo, mexer no carregador e colocar o dedo na tomada sem que ninguém veja.

Só em 2019, 42 crianças com idades entre zero e dez anos morreram por choque elétrico, segundo levantamento inédito da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). As causas de fatalidades como essas são diversas e costumam ir de problemas na rede elétrica da residência a choques causados durante a recarga de celular.

Ainda segundo o levantamento, nos últimos sete anos, quando os dados começaram a ser coletados, 277 mortes na mesma faixa etária foram registradas. Os números fazem parte do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, que será divulgado nesta quarta-feira (4) e foram obtidos com exclusividade por Tilt.

Em tese, carregadores, tomadas e celulares são fabricados para não darem problema. Existem normas nacionais e internacionais que regem os padrões de funcionamento seguros para os aparelhos.

No entanto, os riscos de choque, queimaduras e até uma parada cardíaca são reais, principalmente quando se trata de produtos não originais e rede elétrica sem manutenção preventiva, alertam os especialistas consultados pela reportagem.

Como o choque funciona?

A corrente elétrica acontece quando elétrons ficam se movimentando de um ponto ao outro em um fluxo ordenado. Mas isso só é eficaz se existe um meio de propagação que permite que esse movimento. O nosso corpo acaba servindo como um caminho para isso.

Marcelo Zuffo, doutor em engenharia elétrica pela USP, explica que nós somos elementos condutores de energia. O corpo humano possui alguns sistemas que transmitem impulsos elétricos, ainda que sejam em níveis de tensão e correntes muito baixas. O sistema muscular, que manda esses sinais para que a gente consiga se movimentar, é um exemplo.

Por isso, quando uma parte do nosso corpo entra em contato com a corrente de um choque, essa intensidade de energia entra com toda a força, percorre um caminho (não é possível saber qual será) e sai.

Imagine um raio atingindo uma pessoa. É bem parecido e as consequências são preocupantes. Elas vão desde um formigamento na área de contato, queimaduras (que pode ser durante a entrada e/ou saída da corrente elétrica no corpo) e podem resultar até em uma fibrilação, explica Zuffo, que é membro do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas).

Um choque de alta intensidade pode acabar em uma parada cardíaca ou insuficiência respiratória, acrescenta Edson Martinho, engenheiro eletricista e diretor executivo da Abracopel.

"Se é um adulto, o caminho que a corrente elétrica vai passar no corpo é maior. Mas no corpo de uma criança, os danos podem ser maiores em alguns casos. É mais frágil e a corrente tem um caminho menor para percorrer", ressalta.

Os especialistas reforçam que a recomendação é sempre deixar esses equipamentos o mais longe possível de bebês e crianças.

"Apesar de o celular consumir uma baixa energia elétrica, não é adequado. A criança pode eventualmente colocar o aparelho na boca, colocar o cabo, levando ao choque", reforça Zuffo.

Cuidados que todos devemos ter:

Não ao carregador de celular falso: Muitos aparelhos de segunda linha são vendidos a preços muito baixos no mercado, o que agrada o nosso bolso. Mas eles não têm as devidas certificações e garantias de segurança. Ele pode fornecer mais energia do que o necessário para o carregamento do celular, segundo os especialistas.

Atenção ao cabo: o uso de um cabo original é sempre a melhor escolha. Mesmo assim, antes de conectá-lo na tomada é importante ver se ele não está danificado, se a fiação interna não está exposta. Se tiver, está na hora de comprar um cabo novo e não usar o antigo.

Evite o uso excessivo de adaptadores e extensões: lembra da gambiarra elétrica com vários benjamins? Isso deve parar. Vários aparelhos ligados em um único adaptador de tomada e/ou filtro de linha também não é recomendado pelos especialistas. O risco de sobrecarga aumenta e até incêndios podem ocorrer.

Rede elétrica da casa em dia: é fundamental que a rede elétrica da sua casa tenha manutenção preventiva e seja avaliada por um especialista. Se ela é muito antiga e você nunca pensou nisso, procure logo um profissional de segurança para dar uma checada.

Já ouviu falar em DR? É o dispositivo de diferencial-residual. O nome é complicado, mas ele funciona como um interruptor que impede que correntes elétricas não detectadas pelo disjuntor continuem no sistema de energia. Ele é obrigatório há anos. Aproveite a visita do profissional que vai verificar a sua rede elétrica e peça para verificar se o DR está em dia.

Celular e água não combinam: a água (não pura) e eletrônicos não combinam. Ela funciona como um ótimo condutor de eletricidade. Evite usar o celular em ambientes com vapor de água, como no banheiro. Além da oxidação de componentes do telefone, o risco de curto-circuito, choque e incêndios após o contato com a água é real.

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