Cérebro anormal poderia explicar comportamento delinquente, diz estudo
Sem tempo, irmão
- Pesquisa analisou 7.000 pessoas e viu que um terço delas já havia cometido algum crime
- Quem teve toda uma vida de condenações tinha também cérebros menores
- Os que causaram problemas só na adolescência não tiveram diferença relevante
- Para especialistas, descobertas são insight 'valioso' sobre o que leva pessoa ao crime
Um vasto estudo sugere que criminosos insensíveis têm uma estrutura cerebral anormal, que estaria relacionada a um comportamento agressivo desde a infância. A pesquisa, feita pela University College London e publicada no renomado jornal científico "The Lancet", analisou as varreduras cerebrais de quase 7.000 pessoas com 45 anos.
Desse contingente, um terço tinha um histórico de comportamento antissocial que variava de brigas físicas a evasão escolar.
Cientistas começaram observaram que esse histórico de comportamento antissocial e violência e viram que, quando ele é persistente, existe uma relação muito próxima com o tamanho do cérebro dos indivíduos, que estaria impedindo o desenvolvimento de habilidades socais.
Os pesquisadores alertam: não é o caso de usar a imagem cerebral como uma ferramenta de triagem, capaz de identificar pessoas que podem se tornar criminosos ao longo da vida. Os que cometem crimes ao longo da vida podem ter cérebros menores também pelo uso de drogas, cigarro, por sofrerem de problemas de saúde mental ou terem um QI mais baixo. Somente mais pesquisas poderão elucidar esse enigma.
Além disso, o entendimento das diferenças da estrutura cerebral não é suficientemente robusto para ser aplicado em um nível individual. As imagens de ressonância magnética foram realizadas aos 45 anos de idade —não está claro se as diferenças estruturais do cérebro, portanto, foram causa de comportamento antissocial ou resultado de uma vida conturbada associada ao crime.
O nível de comportamento antissocial dos participantes foi medido a cada dois anos, de sete a 26 anos, a partir de relatos deles próprios e relatórios de pais, responsáveis e professores. Acompanhados até a idade adulta, 80 deles tiveram o que os pesquisadores classificam como comportamento antissocial "persistente no curso da vida" —não à toa, eles haviam sido condenados cinco vezes entre 26 e 28 anos de idade.
Praticamente um em cada cinco dos pesquisados, ou 151 no total, apresentou comportamento antissocial somente quando adolescentes, enquanto 441 não tinham histórico de comportamento antissocial persistente. Por outro lado, os que somente causaram problemas quando adolescentes não apresentaram diferenças cerebrais relevantes em comparação com a população em geral.
Com os dados em mãos e com exames cerebrais de ressonância magnética dos participantes aos 45 anos, os pesquisadores compararam a área da superfície cortical e a espessura cortical de 360 diferentes regiões do córtex cerebral. Os resultados foram reveladores: aqueles que eram antissociais na idade adulta tinham uma área superficial menor em 282 das 360 regiões cerebrais, ao todo e em média, se comparados aos que não tinham histórico de comportamento antissocial.
Eles também tinham um córtex mais fino em 11 das 360 regiões cerebrais analisadas, de modo que as áreas afetadas foram previamente vinculadas ao comportamento antissocial por meio do envolvimento na regulação de emoções, motivação e comportamento de direcionamento de objetivos.
Para os estudiosos, as descobertas representam um insight valioso, pois se trata da primeira evidência robusta para sugerir que as diferenças cerebrais subjacentes podem levar a um comportamento antissocial.
"O que vimos com esses dados é que eles estão realmente operando sob alguma deficiência no nível do cérebro", afirma a coautora do estudo, Terrie Moffitt. "Então, para mim, isso muda minha concepção dos indivíduos antissociais persistentes do curso da vida, agora, para pensar em alguém que está vivendo a vida com algum nível de deficiência e lidar com isso como parte de seu estilo de vida", completou.
Autora principal do estudo, Christina Carlisi avalia ainda que os que têm histórico de crimes não persistentes podem se beneficiar de "mais apoio ao longo da vida", já que muitas das abordagens políticas para os delitos juvenis focam medidas punitivas.
"Nossas descobertas apoiam a necessidade de diferentes abordagens para diferentes infratores", comentou. "Para a pequena proporção de indivíduos com comportamento antissocial persistente ao longo da vida, pode haver diferenças em sua estrutura cerebral que dificultam o desenvolvimento de habilidades sociais que os impedem de se envolver em comportamento antissocial."
Pode ser muito polêmico, mas os pesquisadores acreditam que esse tipo de descoberta poderia mudar a maneira como o sistema de justiça criminal trata os adolescentes infratores. Os magistrados adotariam um olhar mais generoso, já que a chance de a maioria dos infratores se recuperar é bem grande.
"A maioria das pessoas que exibe comportamento antissocial o faz principalmente apenas na adolescência, provavelmente como resultado de anos sociais difíceis de navegar. Esses indivíduos não apresentam diferenças estruturais no cérebro", diz Carlisi.
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