Crispr: médicos testam técnica que edita DNA em corpo humano pela 1ª vez
Sem tempo, irmão
- Paciente com condição genética que causa cegueira na infância foi primeiro a ser testado
- Técnica permite edição de partes do DNA para tratar doenças
- Pesquisadores acreditam que experiência marca uma nova era na medicina
- Se resposta for positiva, experiência deve ser repetida com 18 adultos e crianças
O Crispr foi testado pela primeira vez dentro do corpo humano. Cientistas dizem ter usado a técnica de edição de genes do DNA para tratar de um paciente com amaurose congênita de Leber, uma condição genética rara que causa cegueira na infância.
O procedimento —realizado na Casey Eye Institute, do Oregon Health & Science University, em Portland, nos Estados Unidos— injetou gotículas de fluido com DNA no globo ocular do paciente. A equipe médica não deu detalhes sobre o estado de saúde dele e sobre quando aconteceu a cirurgia.
Os pesquisadores planejam que dentro de um mês terão um resultado e saberão se a tecnologia foi eficaz para restaurar a visão. Caso a resposta seja positiva e parecer segura, o procedimento deve ser repetido com 18 crianças e adultos.
"Temos literalmente o potencial de levar as pessoas que são essencialmente cegas e fazê-las ver", opinou Charles Albright, diretor científico da Editas Medicine, uma empresa de Massachusetts que desenvolve o tratamento. "Acreditamos que poderia criar um novo conjunto de medicamentos para alterar o DNA", acrescentou.
Para Jason Comander, cirurgião ocular do Massachusetts Eye and Ear em Boston, que também planeja inscrever pacientes no estudo, o experimento marca "uma nova era na medicina" e com uma tecnologia que "facilita a edição do DNA que é muito mais eficaz".
A amaurose congênita Leber é causada por uma mutação genética que impede que o corpo consiga produzir uma proteína necessária para converter luz em sinais no cérebro, permitindo a visão. Muitas pessoas com essa condição genética nascem com pouca visão e podem perder até esse percentual dentro de alguns anos.
No procedimento —feito sob anestesia geral e com duração de uma hora— os cientistas pretendem editar ou até mesmo excluir a mutação fazendo dois cortes em ambos os lados do gene. A expectativa é que as extremidades do DNA se reconectem e permitam o funcionamento completo.
Por meio de um tubo da largura de um fio de cabelo, os médicos pingam três gostas de líquido que contém o mecanismo de edição de genes logo abaixo da retina, onde estão as células sensíveis à luz. Os pesquisadores acreditam que precisam consertar de um décimo a um terço das células para restaurar a visão. A cirurgia ocular apresenta poucos riscos, segundo os especialistas.
O Crispr surgiu em 2012, mas a técnica que permite que os cientistas modifiquem permanentemente genes em células e organismos vivos por meio de recortes precisos do DNA "bombou" mesmo a partir de 2015.
O experimento já foi usado para alterar o genoma de embriões humanos, criar cães extramusculosos e até amendoins antialérgicos. Além disso, a técnica surge como uma promessa na cura do câncer e até como possibilidade de impedir a extinção das bananas. No entanto, a utilização da tecnologia tem gerado muitos debates, principalmente porque a edição genética abre caminho para a ideia de "bebês por encomenda".
No ano passado, Jennifer Doudna, uma bioquímica norte-americana e uma das inventoras do Crispr, declarou que temia o uso da técnica e apontou a necessidade de controle governamental.
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