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Google e 1.700 engenheiros: como EUA querem controlar coronavírus com site

Empresa desenvolve ferramenta para organizar testes de quem está com sintomas da doença - Getty Images/iStockPhoto
Empresa desenvolve ferramenta para organizar testes de quem está com sintomas da doença Imagem: Getty Images/iStockPhoto

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

14/03/2020 10h00

Sem tempo, irmão

  • Donald Trump decretou estado de emergência por conta do coronavírus
  • Presidente anunciou que 1.700 engenheiros estão trabalhando em um projeto do Google para rastrear americanos com coronavírus
  • Plataforma fará levantamento de sintomas e indicará teste para confirmar doença
  • Coreia do Sul e Taiwan controlaram a epidemia utilizando a tecnologia

Os Estados Unidos estão tomando atitudes para conter o coronavírus. Na sexta-feira (13), o presidente Donald Trump fez um anúncio oficial decretando estado de emergência no país, dando acesso a US$ 50 bilhões para combater a doença. Além do aporte financeiro, Trump anunciou que 1.700 engenheiros trabalham em um projeto do Google para rastrear americanos com coronavírus.

"O Google está ajudando a desenvolver um site, e isso será feito muito rapidamente, ao contrário dos sites anteriores, para determinar se um teste é necessário e para facilitar o teste em um local conveniente nas proximidades", disse o presidente a jornalistas na Casa Branca.

Na semana passada, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, afirmou que o país não possui "testes suficientes para antecipar a demanda que está por vir". A criação do site pode ser importante para suprir essa necessidade.

Apesar de o anúncio do presidente americano, em parceria com Debbie Berx, coordenadora de reposta ao coronavírus da Casa Branca, ter trazido poucos detalhes, ao que parece o objetivo da ferramenta é fazer com que as pessoas insiram seus dados e sintomas em uma plataforma que sinalize se são necessários testes para confirmar, ou descartar, a doença.

"Estamos desenvolvendo uma ferramenta para ajudar na triagem de indivíduos para os testes covid-19. A Verily está nos estágios iniciais de desenvolvimento e planeja lançar testes na área da baía de São Francisco, com a esperança de expandir mais amplamente ao longo do tempo. Agradecemos o apoio de funcionários do governo e parceiros do setor e agradecemos aos engenheiros do Google que se ofereceram para fazer parte desse esforço", disse o Google, em comunicado no Twitter, sem dar mais detalhes sobre o projeto. Verily é uma empresa de tecnologia da saúde pertencente ao conglomerado Alphabet, dono do Google.

Em comunicado ao site 9t5Google, especialista em notícias do gigante de tecnologia, o executivo-chefe do Google, Sundar Pichai, afirmou que "à medida que mais kits de teste se tornam disponíveis, os planejadores procuram desenvolver um caminho para as agências de saúde pública e assistência médica direcionarem as pessoas ao nosso site da Linha de Base, onde indivíduos com maior risco podem ser direcionados para sites de teste com base nas orientações mais recentes do público autoridades de saúde".

O anúncio presidencial, no entanto, pegou a liderança do Google de surpresa. A revista Wired, especializada na cobertura de tecnologia, reportou que "um site" não era bem o que a gigante de buscas tinha em mente. O plano era, via Verily (empresa irmã do Google), criar uma ferramenta com a intenção de atender trabalhadores da área da saúde e outras partes da população sujeitas a maior risco de contágio.

Taiwan e Coreia do Sul utilizaram tecnologia contra covid-19

A apenas 130 km da China continental, Taiwan utilizou a tecnologia para conter o covid-19, nome da variação do coronavírus. Para se ter uma ideia do fluxo de pessoas entre os dois países, apenas em 2019, 2,71 milhões de chineses visitaram Taiwan. Ainda assim, o país asiático possuía apenas 50 casos confirmados da doença até sexta-feira, ocupando a 25ª posição na lista mundial de contágio.

Mas como um país tão próximo ao epicentro da doença conseguiu controlar a epidemia? A resposta está em um grande cruzamento de dados, agilidade no processamento dessas informações e transparência na orientação à população.

Em 31 de dezembro de 2019, a China notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre um caso de pneumonia desconhecida em Wuhan. Enquanto os chineses não lidavam abertamente com o problema, autoridades taiwanesas passaram a investigar se passageiros vindos de Wuhan tinham febre ou sintomas de pneumonia.

Taiwan começou a reunir e cruzar informações, integrando duas bases de dado: uma delas é o banco nacional de seguro de saúde, que agrupa todas as interações dos pacientes com o sistema médico do país. Outra é de dados de imigração. Essa integração permitiu que o país passasse, já a partir de 27 de janeiro, a analisar em tempo real quem eram as pessoas que deveriam ser priorizadas no atendimento. No momento em que a pessoa ia a uma consulta, a equipe médica era alertada do grau de seriedade de seu caso, com base no histórico de viagens e dos sintomas do paciente.

Além disso, tecnologias especiais foram criadas para viajantes que acabavam de chegar ao país. Todos tinham que preencher formulários online sobre o histórico de viagens e os possíveis sintomas que apresentavam. Aqueles que não haviam viajado nos últimos 14 dias para áreas de risco elevado recebiam um SMS com um atestado de saúde para facilitar a entrada no país. Já os que haviam visitado regiões com alto contágio eram encaminhados para uma quarentena em casa. Para garantir que eles não burlassem, as autoridades os monitoravam por meio de seus smartphones. Todo esse sistema demorou 72 horas para ficar pronto.

A Coreia do Sul também utilizou tecnologia para reduzir significativamente o aumento no número de casos de covid-19. Até sexta-feira, o país registrava 7.755 casos confirmados, sendo o quarto país mais afetado no mundo. Contudo, o número de casos novos caiu drasticamente.

Para conter a doença, o país asiático fez com que os parentes de todas as vítimas contaminadas fossem procurados para realizarem os testes. Antes mesmo de serem diagnosticados como positivo, os pacientes tiveram os deslocamentos rastreados por meio de imagens de videovigilância, uso de cartão de crédito ou pelo celular. Além disso, a população recebe um SMS se algum caso novo é detectado perto de sua casa ou no trabalho.

Essa estratégia levantou questões sobre a proteção da privacidade, mas levou muitos a serem testados. A Coreia do Sul fez mais testes do que qualquer outro país, a uma taxa de cerca de 10.000 por dia, o que tornou possível enfrentar os focos de infecção muito cedo.

"Os testes são um passo inicial crucial no controle de um vírus", diz Masahiro Kami, do Instituto de Pesquisa de Políticas Médicas de Tóquio. "Portanto, um bom modelo para todos os países", completou.