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Entenda por que dias na Terra eram mais curtos há 66 milhões de anos

Nasa
Imagem: Nasa

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

16/03/2020 19h00Atualizada em 17/03/2020 08h52

Os dias na Terra ficaram cada vez mais longos. Mas calma, não é que agora você tem mais de 24 horas para trabalhar, estudar e arrumar um tempo para se divertir. Isso porque essa mudança vem acontecendo há dezenas de milhões de anos, ainda na era em que os dinossauros dominavam nosso planeta.

Cientistas da Universidade de Bruxelas descobriram que no período Cretáceo, entre cerca de 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, a Terra demorava 23,5 horas para fazer uma rotação completa. Em um artigo publicado na revista científica "Paleoceanography and Paleoclimatology", o cientista Niels de Winter, um dos autores da pesquisa, afirmou que o estudo mostra que o ano terrestre durava 372 dias à época.

Segundo Winter, o estudo foi realizado em conchas fósseis do molusco conhecido como amêijoas rudistas, um grupo extinto e amplamente diversificado do final do período Cretáceo. A pesquisa utilizou lasers para observar fatias minúsculas de casca e contar os anéis de crescimento do molusco com mais precisão do que nas observações feitas com microscópio.

Os anéis de crescimento permitiram aos pesquisadores determinar a duração de um dia há 70 milhões de anos, além do número de dias em um ano terrestre. O levantamento também revelou informações sobre a temperatura da água no momento de formação da concha do molusco. Assim, foi possível determinar que a composição da concha cresceu mais rapidamente durante o dia do que à noite.

"A alta resolução obtida no novo estudo combinada com a rápida taxa de crescimento dos bivalves antigos revelou detalhes sem precedentes sobre como o animal vivia e as condições da água em que crescia, até uma fração de dia", afirmou o pesquisador.

De acordo com Winter, "estudos como este oferecem um vislumbre da mudança na escala de tempo dos seres vivos e têm o potencial de preencher a lacuna entre modelos climáticos", disse.

"Temos cerca de quatro a cinco pontos de dados por dia, e isso é algo que você quase nunca obtém na história geológica. Basicamente, podemos olhar para um dia 70 milhões de anos atrás. É incrível", completou.

A análise química realizada na concha índica também que as temperaturas do oceano estavam mais quentes no final do Cretáceo do que o estimado anteriormente. Segundo o levantamento, o oceano atingia 40 graus Celsius no verão e cerca de 30 graus Celsius no inverno.

Influência da lua

De acordo com a publicação, o número de 372 dias para se completar um intervalo anual não surpreendeu os cientistas, já que havia um consenso de que os dias eram mais curtos no passado. O resultado é importante porque permitiu modelar a evolução do sistema Terra-Lua.

A duração de um ano tem sido constante ao longo da história da Terra, já que a órbita do planeta ao redor do Sol não muda. Mas, o número de dias dentro de um ano foi diminuindo ao longo do tempo porque eles ficaram mais compridos. Esse aumento no tempo de duração de um dia tem crescido cada vez mais, à medida que o atrito das marés do oceano, causado pela gravidade da Lua, diminui a rotação da Terra.

"A atração das marés acelera um pouco a Lua em sua órbita. Assim, à medida que o giro da Terra diminui, a Lua se afasta. A lua está se afastando da Terra a 3,82 centímetros por ano. Medições precisas a laser da distância da Lua à Terra demonstraram essa distância crescente desde que o programa Apollo deixou refletores úteis na superfície da Lua", afirma Winter.

Apesar disso, os cientistas concluem que a Lua não poderia ter retrocedido a esse ritmo ao longo da história, já que a projeção linear baseada nesses números colocaria a Lua dentro da Terra há apenas 1,4 bilhão de anos.

Os cientistas sabem de outras evidências que a Lua está conosco há muito mais tempo, provavelmente unindo-se após uma colisão maciça no início da história da Terra, há mais de 4,5 bilhões de anos. Assim, a taxa de retirada da Lua mudou ao longo do tempo, e as informações do passado, como um ano na vida de um molusco antigo, ajudam os pesquisadores a reconstruir essa história e modelo da formação da Lua.

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