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Entenda a origem da curva que alerta sobre a propagação do coronavírus

Diagrama do CDC dos EUA (em inglês) mostra dois cenários: sem intervenção contra o aumento de casos de coronavírus, mais alto; e outro com a intervenção da política de prevenção, com curva mais achatada - Reprodução
Diagrama do CDC dos EUA (em inglês) mostra dois cenários: sem intervenção contra o aumento de casos de coronavírus, mais alto; e outro com a intervenção da política de prevenção, com curva mais achatada Imagem: Reprodução

Daniel Dieb

Colaboração para Tilt

17/03/2020 14h14

Sem tempo, irmão

  • Diagrama da curva achatada mostra dois cenários possíveis para a pandemia
  • Um cenário mostra o que acontece se houver prevenção coletiva, e o outro, se não houver
  • Ele ilustra como hospitais podem ficar sobrecarregados nas primeiras semanas de pandemia
  • Um diagrama não é preciso como um gráfico porque é baseado em um conceito

Se as orientações de prevenção forem seguidas, os casos de coronavírus serão menores ao longo do tempo. Se não, os casos se acumularão em pouco tempo e o sistema hospitalar ficará sobrecarregado. Essa é a mensagem do diagrama de curva que vem ilustrando como a epidemia de covid-19 pode crescer nas primeiras semanas.

As ações preventivas são fundamentais para o achatamento da curva, ou seja, para que o vírus não se espalhe para muitas pessoas em pouco tempo e encha os hospitais de possíveis infectados.

Variações do diagrama se espalharam pela rede. O tuíte acima mostra o GIF feito pela microbiologista Siouxsie Wiles com desenhos do ilustrador Toby Morris. Ele mostra dois cenários possíveis para a pandemia.

O primeiro cenário é para uma situação que não ocorra mudança de hábito ou adoção de medidas preventivas. Nele, um rapaz diz: "Que seja, é como um resfriado ou uma gripe". O segundo é o que pode acontecer caso as ações de prevenção sejam tomadas coletivamente. "Não entre em pânico, mas seja cuidadoso", diz a mulher. Ao lado dela, atitudes para o achatamento da curva.

O diagrama original é de 2007, quando o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês), dos Estados Unidos, publicou um guia para intervenções não farmacêuticas (que não usam remédios) para o controle do influenza. "Devemos estar preparados para enfrentar a primeira onda da próxima pandemia sem vacina" diz o texto.

Sob o título de "Objetivos da Mitigação Comunitária", o diagrama tem dois eixos. Um para casos diários, e outro para a contagem de dias desde o primeiro caso. A curva em roxo mostra o cenário sem nenhuma intervenção. A curva transparente mostra o cenário com intervenção.

Os objetivos listados são: retardar o pico de casos, tirar a sobrecarga de hospitais e infraestrutura hospitalar e diminuir número geral de casos e impactos sobre a saúde. Versões atualizadas do documento, como o de 2017, tiraram os objetivos, e o de 2020 mudou o roxo para azul.

Entra o sistema de saúde

O original foi adaptado para uma matéria do The Economist pela jornalista Rosamund Pearce. Ao site Fast Company, ela disse que a dificuldade foi mostrar a incerteza dos cenários, visto que eles não são prognósticos exatos.

"É fácil para as pessoas o interpretarem como uma predição precisa, porque ele se parece com um gráfico e estamos acostumados à precisão dos gráficos", diz ela.

Vale lembrar que gráficos são feitos com base em dados apurados, como pesquisas de opinião. Já os diagramas são representações de um conceito ou uma ideia. No caso, como medidas de prevenção podem espalhar os casos ao longo do tempo e diminuir o impacto sobre a infraestrutura hospitalar.

A versão do diagrama feita por Pearce ao The Economist não tem a linha que representa a capacidade de sistema de saúde dos Estados Unidos. Ela foi acrescentada por Drew Harris, professor assistente de Saúde da População na Universidade Thomas Jefferson.

Harris conhecia o diagrama porque ele havia trabalhado com trabalhadores da área da saúde para informá-los sobre como se preparar para os piores cenários em caso de pandemias.

O diagrama de Harris foi publicado pelo jornal americano New York Times. A linha é uma invenção teórica e fez "toda a diferença", segundo ele.

Novamente, há a diferença entre diagrama e gráfico. Isso porque não há como dizer qual o número exato de mãos lavadas. Nem sabe-se quantas pessoas devem ficar em casa e por quanto tempo para não sobrecarregar o sistema de saúde, por causa dessa ou de outra pandemia.

No Twitter, Harris falou que as medidas de controle talvez apenas adiem os casos de covid-19, e que elas ajudam a limitar o impacto inicial e dão aos hospitais tempo para se preparar. "É a diferença entre encontrar leito na UTI e aparelho de ventilação ou ser tratado em uma tenda no estacionamento", argumenta.

Na opinião de Pearce, a linha para a capacidade dos hospitais é uma "brilhante, se especulativa, adição". Ela fala que não poderia ter feito o mesmo sem uma fonte para creditar. "É ótimo que tenha despertado tanta discussão online."

Para quem ainda não sabe, as precauções básicas contra o coronavírus são:

  • Lavar regularmente as mãos com água e sabão pelo menos 20 segundos, ou usar álcool gel;
  • Manter-se a pelo menos dois metros de distância de pessoas que estejam tossindo, espirrando ou com febre;
  • Deixar o ambiente ventilado;
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas;
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes;
  • Ficar em casa quando estiver doente;
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo;
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência

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