Apps para triagem online da Covid-19 viralizam, mas eles são confiáveis?
Sem tempo, irmão
- Aplicativos de triagem da Covid-19 viralizam nas redes sociais
- Um dos problemas são os diagnósticos, que podem alarmar população
- Especialistas divergem quanto a algumas perguntas presentes no aplicativo
- Ministério da Saúde afirma que vai atualizar app oficial Coronavírus SUS
Tosse, nariz tapado, febre. Muitas pessoas com sintomas como os citados podem se preocupar sobre estar ou não com o novo coronavírus. Com a recomendação de procurar hospitais apenas em casos mais graves, muitos ficam em dúvida se devem ou não ir ao médico para um diagnóstico mais preciso.
Assim, alguns sites e aplicativos com triagens online têm viralizado nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, como o caren.app, o CoronaBR e o Coronavírus Sus, do Ministério da Saúde. Mas será que as informações que eles passam são confiáveis?
O Caren, por exemplo, pergunta ao usuário se ele está sentindo febre; sintomas como tosse, nariz tapado, falta de ar, vômitos; se tem 60 anos ou mais; se possui doença crônica; se teve contato com alguém que viajou para fora do país ou se viajou para fora do país, ente outras. O CoronaBR possui um enfermeiro virtual que faz perguntas parecidas com as do Caren.
Ao final dos questionamentos, o usuário recebe um diagnóstico e a recomendação para ir, ou não, ao pronto-socorro. Para chegar à conclusão, os aplicativos utilizam o conceito de árvores de respostas, casando o que os usuários respondem com algumas orientações médicas.
Para o médico infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, o problema é que as informações já estão desatualizadas.
"Estão completamente desatualizadas [as perguntas]. O Brasil já é um país com circulação em território nacional, não precisava viajar para lugar nenhum, basta ser brasileiro para poder estar contaminado", diz. "Não tem história de 'foi para exterior', não tem mais a história 'ter contato ou não com contaminados'. A partir de agora, qualquer sintoma de gripe é considerado potencial para a covid-19."
Já Eliie Fiss, médico pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e da Faculdade de Medicina do ABC, as perguntas relacionadas ao contato com quem estava fora do país devem ser mantidas, para ajudar a obter mais informações. "Ainda acho que tem que manter esse tipo de pergunta, porque os aeroportos ainda não foram fechados. Para os Estados Unidos, por exemplo, ainda está aberto", diz.
Mas, o pneumologista afirma que as pessoas devem tomar cuidado para não entrarem em pânico após o diagnóstico pelos aplicativos.
"Eles [apps] não podem criar pânico. Tem tantos aplicativos vindo e aparecendo sobre o coronavírus, que alguns eu nem olhei, mas avaliei alguns como um pouco alarmistas. Se ele indicar ir para o pronto-socorro por alguns sintomas, como febre, falta de ar e tosse, tudo bem. Mas, se não tiver com pelo menos dois sintomas ou tiver sem febre, o paciente não deve ir ao hospital", afirma.
O infectologista do Hospital das Clínicas segue a mesma linha. "As pessoas vão se assustar e dizer: 'quer dizer que se estou espirrando é coronavírus?' Sim, provavelmente é. Mas não muda o que a gente já falou: para 80% das pessoas, ele vai se manifestar como uma gripe comum". Nestes casos, é melhor evitar sobrecarregar o sistema de saúde.
Evaldo Stanislau, porém, disse que o aplicativo do Ministério da Saúde, o Coronavírus SUS (disponível para Android e iOS), dá muitas informações importantes, como os hospitais e postos de saúde mais próximos à localização do usuário.
O Ministério da Saúde afirmou a Tilt que o aplicativo vem recebendo melhorias funcionais e atualizações sobre as recentes alterações no quadro da covid-19 — a grande procura deixou o app sobrecarregado. A pasta não soube dizer quando as novidades entrarão no ar.
Segundo Aline Okita, responsável pelo conteúdo do coronaBR, o site está sendo atualizado. "Na versão original, a viagem e o contato com coronavírus eram necessários para suspeita, mas mudamos o fluxo e não é mais necessário a viagem ou contato apesar das perguntas continuarem. Mantivemos a pergunta, pois imaginamos que muitas pessoas da população ficam preocupadas com as viagens e poderiam questionar a ausência desse questionamento."
A reportagem entrou em contato com o Caren.app para falar sobre o funcionamento e possíveis atualizações nos aplicativos, mas até o momento não obteve retorno.
Telemedicina
Para evitar que as pessoas saiam às ruas e espalhem ainda mais o novo coronavírus, a telemedicina é uma alternativa. Assim, os pacientes podem fazer uma espécie de conferência com os médicos, ou seja, uma consulta em tempo real e em vídeo.
Para Ellie Fiss, atendimentos onlines são uma alternativa melhor que os aplicativos, porque colocam o paciente diretamente em contato com os profissionais. "O contato com seu médico vai prevalecer muito mais que qualquer outra coisa. Alguns hospitais e clínicas já estão disponibilizando a telemedicina. Utilizá-la é muito mais confiável", diz.
"As pessoas de mais idade que estão com doença crônica ou gripal podem se orientar pela telemedicina e ir talvez na saúde da família, mas não no pronto-socorro", completa o infectologista Evaldo Stanislau.
Seguindo essa linha de telemedicina, o site Doctoralia anunciou o lançamento de uma plataforma para realizar o pré-atendimento virtual gratuito, usando ferramentas de videoconferência.
Para agendar uma consulta, os pacientes com sintomas devem acessar a plataforma Doctralia e agendar com um dos profissionais cadastrados. Segundo o site, o médico realiza a consulta por meio da própria plataforma, evitando o deslocamento e a exposição até uma unidade de saúde.
"A ferramenta segue o padrão americano de criptografia avançada AES e está de acordo com a GDPR [a lei de dados europeia], garantindo também a segurança das informações", diz o site.
Outra solução foi anunciada pela startup de inteligência artificial Laura. A partir do dia 30 de março, ela colocará à disposição dos hospitais públicos uma plataforma chamada Laura PA Digital, que oferece triagem digital aos pacientes e orienta a ida ao hospital em caso de necessidade, seguindo parâmetros da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.
A startup diz que a ideia é pegar os dados da triagem virtual para prever a demanda nos pronto-atendimentos e evitar hospitais sobrecarregados por conta da covid-19. A IA será usada para saber quantos e quais pacientes já estão a caminho para o atendimento e se há sinais de gravidade relatados, afirma Cristian Rocha, executivo-chefe da Laura.
SIGA TILT NAS REDES SOCIAIS
- Twitter: https://twitter.com/tilt_uol
- Instagram: https://www.instagram.com/tilt_uol/
- WhatsApp: https://uol.page.link/V1gDd
- Grupo no Facebook Deu Tilt: http://bit.ly/FacebookTilt
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.