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Deu Tilt #4: Crispr curará doenças e aumentará pênis, mas há dilema ético

De Tilt, em São Paulo

28/03/2020 04h00Atualizada em 27/08/2020 12h31

No quarto episódio do nosso podcast de ciência e tecnologia, o "Deu Tilt" (ouça no arquivo acima o programa), o colunista Ricardo Cavallini, o Cava, conversou com Martín Bonamino, pesquisador do grupo de imunologia tumoral do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e especialista da Fiocruz. No papo, ele explica o que é a ferramenta de edição genética Crispr e como ela vai mudar os rumos da medicina e dos tratamentos das doenças.

A edição genética em seres vivos é tão poderosa que levantam uma série que questões éticas. "A gente já teve os primeiros exemplos de crianças editadas geneticamente na China", ressalta Bonamino.

Cava pergunta se "é como brincar de Deus", porque pode levar a práticas absurdas, eugenistas, racistas ou especistas, desde escolher a cor do olho do filho a usar animais como escravos. "Exatamente, justamente por isso se pediu uma pausa para discutir as implicações e os limites éticos. Depois, se retomou. E a verdade é que hoje a gente já faz isso muito bem em laboratório há algumas décadas. Mas o que essas tecnologias fazem agora é fazer isso, acessar o genoma e cortá-lo, dentro do ser vivo." (a partir de 8:20)

Por outro lado, ao responder uma pergunta enviada pelo médico Dráuzio Varella, o especialista explica como podemos combater o câncer e outras doenças graves que hoje parecem longe de uma solução eficaz. "Um vertente trabalha testando como desligar um ou outro gene afeta no crescimento do tumor. Numa segunda vertente, a gente trabalha modificando o sistema imune para fazê-lo reconhecer, da melhor maneira possível, um tumor e eliminá-lo, usando Crispr para desligar alguns genes que atrapalham o reconhecimento", detalhou. "Isso vai ajudar a gente no combate ao câncer. Essa vertente já foi testada em humanos." (a partir de 19:43)

"Poderemos até aumentar o pênis de um adulto?", pergunta Cava, em referência a uma pergunta enviada ao programa. "É bem possível, você pode mexer em genes específicos", diz o pesquisador. (a partir de 13:59)

O lance é que modificações feitas em embriões passam para os filhos desse embrião. "Essa é uma das delimitações éticas que se discute hoje em dia. Seria aceitável você editar o seu gene, que vai beneficiar você e o risco é seu. Não seria aceitável você editar os seus tecidos que a gente chama de germinativos, os espermatozoides e os óvulos, que depois geram um indivíduo que carrega essa característica genética nova. Menos ainda se não houver um benefício claro comprovado", ressalta Bonamino. (a partir de 15:23)

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Referências citadas

  • Dráuzio Varella
  • Filme: Gattaca, uma Experiência Genética (1997)
  • Livro: O Gene, de Siddhartha Mukherjee e Laura Teixeira Motta