Recife rastreia o celular de 800 mil pessoas para saber quem sai de casa
Sem tempo, irmão
- Recife adotou tecnologia que monitora a localização das pessoas pelo celular
- Com isso, prefeitura manda mensagem para as que saem de casa durante a pandemia
- Só nesta sexta, 120 mil pessoas foram avisadas de que deviam ficam em casa
- Ao todo, são 800 mil indivíduos cuja geolocalização é acompanhada pelo serviço
Recife está contando com apoio da tecnologia para mapear os locais onde há pessoas nas ruas, ou seja, descumprindo a orientação para ficar em casa. Uma parceria da prefeitura com uma empresa de geolocalização montou uma plataforma que acompanha, em tempo real, a movimentação de 800 mil pessoas por meio de smartphones. O recurso permitiu até que a cidade criasse o índice de isolamento social, que calcula o percentual de pessoas que estão em casa.
As informações de geolocalização ajudaram a prefeitura a identificar 120 mil pessoas que furaram a quarentena e enviar a elas nesta sexta-feira (27) mensagens pedindo para que ficassem em casa. Elas foram mandadas para pessoas localizadas em 20 bairros da capital pernambucana e que tiveram movimentação acima da média dos demais pontos da cidade. Dos indivíduos que receberam o aviso, 110 mil já leram. O Rio de Janeiro possui uma ferramenta semelhante, que mensura o deslocamento e a concentração de pessoas, fornecida pela TIM.
Hoje, sabemos que temos 53% da população fazendo isolamento. Com essa plataforma a gente passa a ter uma leitura onde está a maior circulação das pessoas. Quem mora na Jaqueira, em Santo Antônio, por exemplo, está saindo mais de casa
Tullio Ponzi, secretário Executivo de Inovação Urbana do Recife
"Isso nos dá uma eficiência impressionante, tanto para envio das mensagens, como para ações de acompanhamento de rua, seja por carros de som ou fiscalização", completa.
Os dados de localização são feitos sem acesso a informações pessoais do dono do smartphone. "A gente consegue isso pelo IP do aparelho, e a partir daí consegue ter dados cartográficos para ter inteligência", conta Ponzi.
Antes de serem usados, os dados passam por uma interpretação. Por exemplo: no bairro da Ilha do Leite há uma maior movimentação de pessoas, mas isso é considerado normal porque lá há hospitais. Já na Jaqueira há um grande parque, o que pode explicar um percentual menor de movimentação.
"A gente precisa fazer outros raciocínios para fazer as ações de campo, com comparação entre comunidades para saber qual está com maior e menor circulação, cruzando com as características de cada local", explica o secretário.
Expansão à vista
A empresa criadora da tecnologia é a In Loco. Para André Ferraz, CEO da companhia, a parceria com Recife tem sido proveitosa e eficiente. "Estamos conseguindo observar a efetividade das medidas de isolamento. Começamos a ver os dados se transformarem em ações", diz.
Graças aos dados coletados, outras secretarias estão tendo o trabalho direcionado. "A gente orientou para passar carros de som em bairros como Vasco da Gama e Brasília Teimosa, porque observamos mais pessoas circulando", explica Ponzi.
Para o presidente da In Loco, o modelo criado para Recife pode ser levado a outros lugares. Já há estados interessados. "Estamos trabalhando para que essa solução seja amplamente utilizada, e a 'In Loco' consiga contribuir no combate à disseminação da covid-19", conta.
Ferraz explica que a empresa já investiu mais de R$ 150 milhões na plataforma de localização ao longo dos últimos 10 anos. "Essa tecnologia é própria da In Loco e já é usada para outras aplicações nas áreas de segurança e marketing. Recentemente, percebemos que ela poderia adaptada para o combate à covid-19. Trabalhamos apenas em pequenos ajustes técnicos para viabilizar as informações e desenvolver o índice. Temos uma parcela grande do nosso time trabalhando no projeto. É a nossa prioridade, no momento", finaliza.
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