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Startup usa algoritmos para criar leite vegano com sabor brasileiro

Cena de peça publicitária do NotMilk, produto da NotCo Imagem: Reprodução/ NotCo

Pedro Katchborian

Colaboração para Tilt

29/03/2020 04h00

Uma startup utiliza algoritmos para recriar alimentos de origem animal utilizando apenas ingredientes vegetais. A NotCo une inteligência artificial e comida para produzir leite, sorvete e maionese. Na verdade, seus produtos são chamados de não-leite, não-sorvete e não-maionese ou NotMilk, NotIceCream e NotMayo, no original em inglês.

A NotCo surgiu no Chile, em 2017, e chegou no Brasil há pouco mais de um ano. Por aqui, desembarcou com um contrato de exclusividade com o GPA— grupo que é dona de marcas varejistas como Pão de Açúcar e Assaí— importando e vendendo a NotMayo até novembro de 2019.

A partir de agosto do ano passado, iniciou a produção dos seus três produtos em território nacional. Em dezembro eles chegaram às prateleiras dos supermercados.

Luiz Augusto Silva, chefe da operação brasileira da NotCo, diz que há demanda no Brasil. "Percebemos que há muitos consumidores interessados", afirma. Como estão apenas no terceiro mês de venda, o objetivo agora é aumentar a distribuição dos produtos. Segundo Silva, é possível encontrar os três produtos no varejo.

O chef "artificial" Giuseppe

A tecnologia é a maior aliada da NotCo para o desenvolvimento de suas soluções. Mas como funciona o processo de criação? Silva explica como o Giuseppe, nome dado à inteligência artificial da NotCo, ajuda a desenvolver os produtos.

"Primeiro, informamos ao Giuseppe qual alimento de origem animal queremos criar", diz. Então, o algoritmo entende a estrutura molecular do alimento e procura em sua base de dados de vegetais combinações de plantas que podem gerar um alimento similar em sabor, aroma, aparência e propriedades nutricionais.

"Ele nos dá receitas com os ingredientes e as proporções, e nossa equipe de chefs de cozinha e cientistas testa essas receitas para ver se atingem o resultado esperado", completa. Por último, é repassado um feedback ao Giuseppe, que pode fazer ajustes na receita. Um exemplo é o leite vegetal feito de abacaxi, repolho, chicória, entre outros ingredientes.

O sabor e a textura dos produtos da NotCo podem ser diferentes em cada país em que a empresa opera — Brasil, Chile e Argentina. "Como o sabor do leite é diferente em cada país devido a tipo de raça, alimentação e manejo do animal, o produto é adaptado. Ou seja: o NotMilk do Brasil é diferente do argentino", afirma Silva. Já a NotMayo é a mesma em todos os lugares.

Dinheiro de Jeff Bezos

A proposta da NotCo está de acordo com a tendência de mudança de hábitos alimentares. Uma pesquisa de 2019 feita pelo Ibope mostrou que há cerca de 29 milhões de vegetarianos no Brasil, com 14% da população declarando que não consome carne. Em 2012, esse número era de 8%.

"A NotCo é uma companhia que surge da tensão de um sistema alimentar que não é viável para sete bilhões de pessoas. Ao mesmo tempo que existe uma preocupação com animais, poluição e meio ambiente, as pessoas não querem mudar aquilo que comem. Existe uma relação emocional com a comida", diz Silva.

Recentemente, a NotCo apareceu na lista das 100 startups de inteligência artificial mais promissoras do mundo, feita pela CB Insights. Foi a única empresa do setor de foodtech e também a única representante latino-americana.

O negócio vem chamando a atenção de investidores desde a sua criação, em 2017. O mais famoso deles é Jeff Bezos, dono da Amazon. O bilionário fez um aporte de US$ 30 milhões na NotCo, em março de 2019.

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