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Religiosos se adaptam e levam igreja para celular: "tem de se reinventar"

Transmissão de missa da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas (SP) - Reprodução
Transmissão de missa da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas (SP) Imagem: Reprodução

Thiago Varella

Colaboração para Tilt

07/04/2020 04h00Atualizada em 07/04/2020 11h23

Há três domingos, o pastor Ricardo Ribeiro, da Igreja Metodista de Valinhos, no interior de São Paulo, conecta seus dois celulares a vídeos ao vivo: um ao Facebook e outro ao Instagram. De forma simples e meio improvisada, com um quadro de fundo e só as palavras do pastor, Ribeiro mantém suas celebrações. Algo que os religiosos começaram a experimentar mais no Brasil em tempos de coronavírus.

A transmissão de vídeos ao vivo de cultos e missas poderá ter um pico no Brasil nesta semana, quando ocorre as celebrações de Páscoa.

Ribeiro tem apenas um conhecimento básico do uso de tecnologia, mas acredita que, por causa do fechamento de templos religiosos causado pelo avanço da epidemia, seu conteúdo ao vivo pela internet é suficiente para o seu propósito evangelizador.

"A gente teve de se reinventar. Mas dou graças a Deus por isso. Em tempos de necessidade, a gente trabalha com as ferramentas que tem", afirmou.

Online, sem ver o rosto dos fiéis, Ribeiro prega e tenta dar conforto espiritual nesse momento delicado para a sociedade. Mas ele sabe que, apesar de toda sua boa vontade, o contato virtual é muito diferente do físico.

"São duas coisas diferentes. No culto presencial, a pessoa tem um contato pessoal. Você ora por ela, leva pro altar. Ela pode extravasar os sentimentos dela de forma mais real", disse.

Mesmo assim, o pastor respeita a decisão do fechamento de templos e afirma que por mais que o templo esteja fechado, a igreja segue operante.

"A igreja somos nós. O local é apenas um templo. A igreja é viva e é caminhante. Jamais vamos deixar de atender os que necessitam porque o templo está fechado", disse.

Ações como a do pastor Ribeiro têm se tornado comuns. Ao buscar por "culto" ou "missa" na busca por vídeos do Facebook, há inúmeras opções das mais diferentes denominações religiosas.

Até a Congregação Cristã no Brasil, uma igreja conservadora, avessa a tecnologia e que tradicionalmente nunca usou rádio, TV ou internet para propagar sua doutrina, está transmitindo seus cultos pelo YouTube e pelo Vimeo.

Claro que seus fiéis precisam atender a algumas exigências como se estivessem no templo, como se vestir com os mesmos trajes usados na igreja —o que inclui terno e gravata para os homens e véu para as mulheres —, procurar um ambiente silencioso, antes do culto fazer uma oração particular e, por causa do novo coronavírus, seguir recomendações das autoridades sanitárias.

Muito mais moderna e acostumada às redes sociais e a vídeos no YouTube, a Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, viu o número de fiéis conectados a seus cultos crescer por causa da quarentena. A celebração do último dia 22 de março já teve mais de 105 mil visualizações.

Para o líder da igreja, pastor Ed René Kivitz, o culto online tem o mesmo valor que o presencial para os fiéis. "Virtual não é oposto de real, mas o oposto de presencial. Nesse sentido, não importa se as pessoas estão presentes no mesmo lugar físico, mas sim que estejam em conexão e interação", disse.

Kivitz também afirma que sua igreja permanece aberta, por mais que o templo esteja fechado.

"O verdadeiro sentido de igreja é comunidade. Ela não fecha; o que fecha é o templo, que é apenas o lugar de reunião. A comunidade se expressa na sua rede de relacionamentos e serviços que se estende para além do templo", explicou.

As igrejas católicas também estão transmitindo suas missas pela internet. A Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas (SP), adotou a prática por causa da quarentena.

Durante a missa, cerca de 700 pessoas passam pela celebração online, mas, segundo o padre Vinicius Ricardo de Paula, cerca de 60 ficam o tempo todo, pedindo orações e refletindo sobre a mensagem evangélica.

"O que mais chama minha atenção é que, depois daquele momento, muitas pessoas que não puderam ver na hora, entram e assistem a celebração da missa, podendo beber daquela palavra de Deus posteriormente", afirmou.

Segundo o padre Vinicius Ricardo de Paula, a missa pela internet não substitui a forma presencial, apesar de ter forte valor espiritual para quem a assiste e a acompanha. Mas, para ele é claro que hoje há uma impossibilidade de se comparecer fisicamente nos templos.

Um dos grandes problemas da missa online é a questão da eucaristia, já que o fiel fica sem comungar do corpo e do sangue de Jesus, comendo a hóstia e bebendo o vinho, de acordo a tradição católica.

"É preciso receber Jesus de modo espiritual. Não podemos deixar de ligar nosso coração em Deus e recebê-lo em graça e sabedoria", explicou o padre.

Para o padre Vinicius, não é preciso um templo aberto para que o fiel se una a Deus. "Somos tempo de Deus e Ele habita em nós. Quando nós viemos ao templo, é para não esquecer o vínculo de comunidade de fiéis", disse.

Como muitas paróquias em todo o país estão começando agora a transmitir suas missas pela internet, a diocese de Jundiaí fez um guia com dez dicas para o fiel que quer participar da celebração online.

Segundo a diocese, o católico precisa preparar mente, espírito, corpo e a casa para a missa. "Cria um ambiente celebrativo: toalha na mesa, uma vela, o crucifixo, a Bíblia aberta. Tua casa é a Igreja doméstica", diz o documento.

Para o momento da eucaristia, o fiel deve "se colocar de joelhos, adorando piedosamente o Senhor". Além disso, ele deve rezar "enquanto o padre comunga por si e pela comunidade paroquial".

A Igreja Universal do Reino de Deus, uma das principais denominações neopentecostais do Brasil, também está transmitindo diversos cultos pela internet todos os dias.

"Atendendo às determinações das autoridades de suspender cultos presenciais nas igrejas, a Universal disponibiliza as reuniões online por diversos canais", afirma a igreja em um comunicado.

Às segundas, a igreja transmite cinco cultos ao vivo; aos sábados, são quatro celebrações; e de terça a sexta e aos domingos, três.

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