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Quarentena: emocional se adapta mais rápido que racional, diz cientista

De Tilt, em São Paulo

11/04/2020 10h30

O cérebro é uma verdadeira máquina: processa informações, constrói padrões mentais e cria dinâmicas para nos ajudar a não sucumbir. Essa herança herdada da nossa história evolutiva ainda nos ajuda no dia a dia do século 21. Afinal, nos tempos atuais a ideia de sobrevier pode estar ainda mais viva, mas se engana quem pensa que somente a racionalidade tem um papel de protagonismo nisso.

Para entender a influência de ambientes diversos no mundo e nos aprofundarmos sobre como o cérebro tem semelhanças com sistemas de inteligência artificial, convidamos uma neurocientista para o sexto episódio do podcast "Deu Tilt". Nele, o colunista do canal de ciência e tecnologia do UOL Ricardo Cavallini, o Cava, entrevista Carla Tieppo, doutora em neurofarmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

O papo girou em torno das projeções do que se pode esperar no campo organizacional depois do coronavírus. Apesar de demonstrar preocupações com os executivos mais agressivos, Tieppo trouxe uma visão otimista sobre a manutenção de ambientes diversos nas empresas e lembrou o quanto esse cenário é benéfico para as pessoas e as organizações (ouça a partir de 24:33).

"Já se mostrava claramente que empresas diversas cresciam mais rápido do que empresas que não cultuavam a diversidade. [...] o ser humano se comporta melhor em ambientes colaborativos, empáticos, justos", explicou ela.

Tieppo ainda lembrou que apesar de justiça ser algo pouco comentado no mundo corporativo, no campo cerebral ela tem um papel fundamental para as pessoas (ouça a partir de 25:42).

"Na dinâmica cerebral é uma das que tem maior importância, porque a justiça te fala que você está andando num grupo social que te aceita exatamente como você é [...] a justiça tem esse pilar que dá uma certa segurança para o indivíduo de que ele não vai ser vítima de uma puxada de tapete. Isso faz a gente se sentir muito mais engajado, muito mais motivado, mais pronto para fazer as entregas", comentou a neurocientista.

Cava questionou como é possível transformar essa dinâmica emocional em recurso e não em ameaça. Carla esclareceu que cabe fundamentalmente ao sistema emocional dizer o que é recurso e o que é ameaça, que exemplificou que é necessário passar por uma mudança:

"Eu tenho um ambiente que me é agressivo e eu acho que não tenho recursos para combatê-lo. Eu acho que eu tenho que ficar quieta [...] e esperar passar essa tempestade, eu não tenho condição para ela. Então, essa é uma forma de reagir [...] Para que você possa transformar uma situação de ameaça em uma situação de desafio, em algum momento você tem que vislumbrar a potência de ter um resultado positivo", afirmou a neurocientista.

Sobre trazer a emoção para o trabalho, que há muito tempo foi considerado um tabu, do tipo que deve ficar em casa, e que no ambiente corporativo temos que ser seres com dinâmicas muito mais racionais do que emocionais, Carla também trouxe uma reflexão interessante sobre mudanças que aconteceram a partir do século 19 e explicou que foi a partir desse período que a forma de se entender o mundo por meio de uma racionalização se tornou a melhor forma (ouça a partir de 28:59).

"Isso vai criar o conceito de homo economicus, que é o ser humano que decide a partir de dinâmicas racionais. Então, todo esse conceito é muito bem blindado e a emoção é sempre a parte frágil dessa história", comentou Carla.

No entanto, a neurocientista explicou que ao identificar as dinâmicas emocionais e racionais dentro do subcérebro [parte responsável por reações instintivas] é possível observar que as dinâmicas emocionais são mais antigas do ponto de vista evolutivo e são mais potentes em reconhecer padrões.

"Você sabe o valor de reconhecer padrões? A inteligência artificial está aí para nos dizer isso. A sua emoção reconhece padrões com muito mais eficiência do que a sua racionalidade. Ela reconhece de forma instantânea e ela [emoção] começa a dar sugestões, do tipo: neste momento a gente costuma ter benefícios, neste momento a gente costuma ter prejuízos e esse finalizador de valências que você pode em um modelo matemático colocar de -1 a até +1 [...] você dando essa nota, consegue selecionar os comportamentos que deve executar e a emoção faz isso de forma automática [...] coisa que a razão é incapaz de fazer", explicou.

Carla Tieppo é pioneira na aplicação da ciência do cérebro no desenvolvimento organizacional e humano, é CEO e sócia-fundadora da Ilumne Consultoria, é professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, é faculty da Singularity University Brazil, corporação beneficente que atende corporações e executivos brasileiros nos campos da tecnologia, tendência, estratégias e inovações e é autora do livro "Uma viagem pelo cérebro: a via rápida para entender Neurociência".

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  • Platão
  • Aristóteles
  • René Descartes