Da Apple e Google à Vivo e TIM: veja empresas que nos monitoram na pandemia
Sem tempo, irmão
- Apple e Google anunciaram parceria para ajudar a monitorar covid entre usuários
- Amazon, Samsung e Facebook também desenvolveram ferramentas de rastreamento
- No Brasil, empresas de telefonia têm se unido para rastrear zonas de movimentação
Em tempos de coronavírus o que não faltam são teletelas —a "televisão-câmera" do livro "1984", de George Orwell"— para chamarmos de nossas. Isso porque nossos celulares estão na mira de gigantes da tecnologia, que estão formando alianças com governos para entender a movimentação da população (e do vírus) durante a pandemia.
Abaixo você vê algumas dessas empresas e, claro, o que elas estão fazendo. Apesar de toda ação bem intencionada ser bem vinda agora, já rola o fantasma da excessiva invasão de privacidade no monitoramento em tempo real e do tratamento de dados dos usuários. Quando a emergência de saúde passar, o tempo mostrará as implicações positivas e negativas disso tudo.
Apple e Google
Na semana passada, o mundo da tecnologia viu duas rivais darem as mãos: Apple e Google passarão a mapear a movimentação de seus usuários. Usando bluetooth, os celulares iOS e Android identificarão e registrarão quando você estiver a uma certa distância física de outra pessoa.
É como no app de relacionamentos Happn, mas voltada ao contágio. Caso alguém que se aproximou de você registre que foi infectado, você recebe um aviso. Daí você saberá que suas chances de contrair e repassar covid-19 aumentaram.
"Ai, mas eu não quero que essas empresas me vigiem!", você pode estar reclamando. Tudo bem: Apple e Google deixaram claro que o sistema é voluntário. Usuários de Android que toparem terão que baixar um app. No iOS, a possibilidade de ativação aparecerá depois de uma atualização do sistema.
O sistema combinado deve ser lançado em maio. No caso da Apple, a maior limitação é que só donos de iPhones e usuários do Apple Maps entrarão na estatística. Talvez por essa limitação que o Google tenha entrado para ajudar, já que é dona do Android, sistema operacional mais popular dos celulares do mundo todo.
Ainda há algumas desconfianças. Tanto a Apple quanto o Google garantem que tudo será 100% anônimo —ou seja, você não saberá nada sobre as pessoas com quem cruzou. E os testes terão que ser verificados, para que falsos positivos não assustem os demais usuários.
Mas especialistas em segurança já tentam entender que garantias de privacidade as empresas podem dar aos usuários. Não há consenso de que o anonimato e a validação dos diagnósticos possam ser realmente prometidos.
Samsung
A outra gigante do mundo dos celulares, a Samsung, entrou em ação também. A operadora local Telkom fez parceria com a fabricante sul-coreana para distribuir 1.500 aparelhos para pessoas contratadas, que devem usá-los para identificar e rastrear infectados nas províncias mais atingidas pelo vírus. Os telefones contarão com conexão gratuita pelos próximos seis meses.
Este banco de dados será do governo, e a ministra das Comunicações sul-afriacana, Stella Ndabeni-Abrahams, jura que não será usado para invadir privacidades ou espionar cidadãos.
Amazon
A Amazon também rastreia a covid, mas por enquanto indiretamente. A empresa divulgou em seu blog que sistemas de inteligência artificial desenvolvidos na AWS, a plataforma de computação em nuvem da empresa, têm sido usados mundo afora para fornecer levantamentos de dados sobre a epidemia e prevenir aglomerações.
Na América Latina, a startup Whyline está usando IA para reduzir a superlotação nos hospitais, para que os pacientes visualizem os tempos de espera e entrem na fila remotamente. No Chile, o CloudHesive usou sua tecnologia para ajudar o governo a reduzir acúmulo de viajantes nos aeroportos. Na Itália, o Exprivia II aplica aprendizado de máquina às imagens médicas, para saber como o novo vírus se propaga no corpo.
O Facebook anunciou no início de abril que pesquisadores ao redor do mundo podem usar plataformas da rede social, para construírem mapas de calor, visualizarem moradores de quais regiões estão se movimentando mais, e distribuírem formulários para a coleta de dados que ajudem a trazer um panorama do covid.
Esse trabalho aconteceu também no Brasil, quando a empresa divulgou gráficos do nível de adesão à quarentena nos estados brasileiros. Também afirma que os dados usados são obtidos de forma 100% consensual pelos usuários.
Outros duas ferramentas de dados do Facebook trazem a probabilidade de pessoas de uma área entrarem em contato com grupos de outra em um país; e o grau das conexões sociais (amizades) nos estados, para especialistas terem mais um dado para prever as áreas que serão mais atingidas.
Tencent
Pouco conhecida no Brasil, a Tencent é a responsável pelo WeChat e AliPay, principais apps da China e peças chave no rastreamento da população durante a pandemia. O governo local baseou toda sua estratégia de isolamento em um sistema integrado com os aplicativos.
O AliPay serve, por exemplo, para liberar os acessos das catracas de metrô chinesas e se transformou em uma espécie de RG digital —cada morador tem seu próprio QR code. Nem todos, no entanto, eram da mesma cor. E isso passou a ser importantíssimo.
No começo, todos ganharam códigos amarelos. Significava que você tinha que ficar de quarentena. Com esse código, é impossível entrar no metrô ou em prédios de uso comum (como escritórios).
Quatorze dias depois, o código ficava verdinho. Ou seja, tudo liberado, mas se você apresentasse sintomas ou fosse diagnosticado com coronavírus, imediatamente seu código ficava vermelho e voltava à quarentena —e todos que cruzaram com você rua voltavam a ter o QR code amarelado.
GSMA
Outra gigante de nome pouco conhecido é a GSMA, associação que regula e padroniza as telecomunicações de celulares no mundo todo. De acordo com o The Guardian, o órgão está estudando um monitoramento global de aparelhos, para rastrear áreas onde pessoas não respeitam a quarentena, e exibi-los aos seus governantes.
Na última semana a sigla lançou um manual para que operadoras telefônicas do mundo todo saibam como lidar com o limite entre privacidade e saúde pública. No texto eles tentam explicar "como a indústria dos celulares deve manter a confiança enquanto respondem a governos e agências de saúde pública que lutam contra a covid-19".
O texto não é muito específico mas prega, em linhas gerais, que as empresas devem evitar identificar os usuários, usando metadados e estatísticas não-individualizadas para informar os órgãos de saúde.
No Brasil
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Marcos Pontes, até chegou a comemorar em postagens nas redes sociais a possibilidade desses rastreamentos, mas apagou as publicações a pedido de Jair Bolsonaro.
De acordo com o ministro, o presidente não tem a intenção de fazer os monitoramentos no momento —mas governos estaduais seguem com a autonomia para concretizá-los em seus territórios. Foi o que fez São Paulo.
Vivo, Claro, Oi e TIM
As quatro maiores empresas de telefonia se uniram ao governo de São Paulo para alimentar dados do Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo (SIMI-SP), plataforma que calcula a porcentagem da população em isolamento social em municípios com mais de 30 mil pessoas.
Quem dedura são as estações de rádio base, ou antenas telefônicas. Quando você se movimenta, se afasta de uma ou se aproxima de outra. Para não ficar sem sinal, o sistema telefônico te conecta com uma nova torre. Assim, dá para saber que você mudou da região próxima da antena A para a área de alcance da torre B.
Na prática, a plataforma traduz as entradas e saídas das antenas em mapas de calor de aglomerações de pessoas nos bairros, mas não diz quem participou dessas aglomerações. Na terça (14), São Sebastião foi a cidade mais adepta à quarentena, com 66% da população em casa. Limeira e Catanduva, por outro lado, só tinha 42% de moradores em isolamento.
"Um ponto importante é que essa informação é trazida de uma forma completamente anônima. O governo não tem acesso a dados individuais; têm acesso a dados agrupados, o que é o suficiente para entender o comportamento em cada região, cidade e bairro", afirmou Patricia Ellen da Silva, secretária de Desenvolvimento Econômico do governo paulista.
In Loco
A In Loco, startup de tecnologia recifense é dona de um sistema de rastreamento inicialmente pensado para evitar fraudes e mostrar anúncios segmentados, e agora tem usado a ferramenta para registrar o comportamento do brasileiro durante a pandemia.
O Advertising ID, ou código de publicidade, é um número único que identifica os interesses dos usuários que navegam pelos serviços de plataformas como Google e Facebook. Esse dado é público —vem das operadoras— e o sistema da startup analisa, com ele, o comportamento de 60 milhões de celulares brasileiros, descobrindo por exemplo quantas pessoas estão em casa.
Estes gráficos da In Loco mostra o "índice de isolamento social", isto é, no Brasil. Não representa o total da populaççao brasileira, mas funciona como uma boa amostragem. A empresa já fechou parcerias com 14 governos estaduais de todo o país, além das prefeituras do Recife, Teresina e Aracaju.
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