Tem como bater ponto no home office: veja apps que ajudam a monitorar
Sem tempo, irmão
- Aplicativos de ponto eletrônico têm sido solução para empresas medirem horas de trabalho
- Março foi mês de alta demanda por causa do home office, dizem desenvolvedoras
- Pequenas empresas com até 20 funcionários são público-alvo
- Apps pedem selfies e medem até raio de localização; justificativa é evitar fraude do funcionário
A quarentena para achatar a curva de contágio do novo coronavírus tem levado muitas empresas a adotar o modelo de home office. Para as companhias não perderem o controle das horas trabalhadas, aplicativos de ponto eletrônico têm sido uma das soluções, e suas desenvolvedoras relatam aumento tanto na procura quanto no uso das soluções.
Um aplicativo de ponto, resumidamente, funciona como o relógio de ponto de uma empresa. Registra os horários de início e fim de jornada, início e fim do horário de almoço. A diferença, claro, é que o processo é feito em um smartphone.
A ideia é calcular quantas horas um funcionário trabalhou e compilar em um banco de dados, cumprindo as regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e garantindo que os pagamentos estejam corretos.
Para começar o uso, normalmente a empresa precisa criar uma conta e cadastrar cada um de seus funcionários no app. Os administradores têm mais funções, como acesso à localização e fotos dos colaboradores desde o momento que foram cadastrados. Eles também têm uma área para tratar e/ou corrigir pontos, além dos relatórios.
O teste
Tilt conseguiu testar o Mywork (Android, iOS). Para o funcionário criar uma conta nele, é preciso inserir nome e sobrenome, email, telefone, além de concordar com os termos de uso. No caso das empresas, é preciso inserir dados válidos de CPF e PIS para criar as contas dos gestores.
No aplicativo, o botão de bater ponto fica em destaque na tela inicial. Outro botão mostra ou esconde informações sobre os horários registrados. O painel da plataforma só pode ser acessado por um navegador em computadores, ou na versão para computador em dispositivos móveis.
Já o Marcação de Ponto (Android e iOS) consegue marcar crachás usando a tecnologia NFC (de aproximação) dos celulares, enquanto o MarQPonto (Android, iOS) permite escanear código QR para registrar o horário. A reportagem não pode testar os dois apps por causa da exigência de um CNPJ válido para criar contas de empresas.
As três empresas entrevistadas para esta matéria são unânimes: março foi um mês de alta demanda por causa do home office. "A busca pelo nosso sistema de gestão de ponto online aumentou entre 30% e 40% no Google", disse Thomas Carlsen, diretor de operações do Mywork.
De acordo com a Senior, que oferece o Marcação de Ponto, houve um aumento de 492% no número de downloads da ferramenta entre fevereiro e março. A MarQPonto diz que viu aumento na taxa de uso e de clientes ativos de mais de 40%. As empresas não revelaram os números absolutos do crescimento.
A quem se dirige?
As desenvolvedoras defendem que usar um aplicativo para gestão de ponto é mais barato. Uma busca no ecommerce brasileiro indica que um relógios físicos de ponto têm preço entre R$ 112 e R$ 1.500. Já os aplicativos de ponto são usados com assinaturas, e os valores variam de acordo com a quantidade de funcionários por empresa.
Na MarQPonto, existem três planos:
- Plano básico: para até 10 funcionários por R$ 54 mensais
- Plano exclusivo: para empresas com 11 a 100 funcionários por R$ 6 por funcionário ao mês
- Plano premium: para empresas com mais de 100 funcionários, preço por consulta
Já na Mywork existem cinco planos distintos:
- Individual: para apenas um funcionário, R$ 12 ao mês
- Micro empresa: até 10 funcionários, R$ 7 por funcionário ao mês
- Pequena empresa: de 11 a 25 funcionários, R$ 6 por funcionário ao mês
- Média empresa: de 26 a 100 funcionários, R$ 5 por funcionário ao mês
- Grande empresa: mais de 101 funcionários, também sob consulta
A Senior não quis informar os valores para o Marcação de Ponto.
Ricardo Kremer, gerente de produtos de RH da Senior, diz que o relógio exige o custo do equipamento e da manutenção, porque "gasta energia e quebra com o desgaste natural". Já com o aplicativo, a empresa "paga um valor por mês para usá-lo e bola pra frente."
O diretor da Mywork afirma que o principal público-alvo são pequenas empresas com funcionários externos. "O nosso perfil de cliente costumava ter muitas dessas por uma questão de custo, porque usar um relógio de ponto é caro", diz Carlsen. Ele deu o exemplo de uma rede com três restaurantes, cada qual com cinco funcionários, e instalados em diferentes pontos da cidade.
"A gente tinha muita força com empresas de até 20 colaboradores. 80% da nossa base de clientes, até então, era [formada por] empresas menores", afirmou Thiago HC, sócio e diretor de marketing da MarQPonto.
Segundo a Medida Provisória (MP) da Liberdade Econômica, aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro em setembro de 2019, o registro de ponto é exigido para empresas com mais de 20 funcionários.
Há privacidade?
Aplicativos de ponto eletrônico precisam de algumas permissões para funcionar, como de localização, câmera, fotos (mídias e arquivos), armazenamento, acesso à internet e afins. O uso do GPS, por exemplo, serve para criar um "cerco eletrônico", e o de câmera, para fornecer mais detalhes sobre o local que o trabalhador remoto está.
Eles normalmente funcionam offline, mas sincronizam o horário correto —mesmo que no telefone ele esteja errado— quando há conexão à internet. O que pode ser interpretado como invasão de privacidade é justificado pelas empresas como uma garantia de que o trabalhador está cumprindo as cargas horárias corretamente e no local adequado.
Segundo Carlsen, a localização e as selfies são usadas "tanto para checar se é ele mesmo quanto para se, em muitos casos, se está uniformizado [colaboradores externos]".
Os gestores podem delimitar um raio para o aplicativo funcionar, como a casa do colaborador. Se o smartphone sair desse raio, ele não permitirá que o ponto seja marcado.
Thiago HC, da MarQPonto, explica que a empresa toma precauções para garantir que os dados coletados permaneçam em segurança. "Hoje a gente já está adaptado à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a gente tem bastante cuidado com essa informação", disse ele.
Mudança nas relações de trabalho
Com a adoção massiva do home office, há a possibilidade deste modelo se tornar algo mais relevante nos próximos anos. Carlsen destaca que, de fato, nem todas as empresas podem (nem devem) adotar este modelo de forma brusca. "Eu acho que vai ter uma exploração maior do home office, é uma boa oportunidade para essas empresas experimentarem".
Já Kremer diz que o momento é desafiador para todas as empresas, mas que também será de aprendizado, tendo em vista a possível mudança de cultura.
"Às vezes é tão difícil contratar gente, que você não acha gente dentro da sua praça, ou perto da sua empresa para contratar. Mas aquela pessoa está disponível lá numa outra cidade, região ou estado. Por que não contratá-la e permitir que ela trabalhe remotamente, né?", completou.
Entre 2016 e 2017, trabalhadores remotos, em regime de home office, chegaram a 16,2% no Brasil. Já entre 2017 e 2018, o número atingiu 21,1%. Os dados são da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
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