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Bill Gates tem um plano detalhado para nos tirar da crise de saúde

Bill Gates "previu" crise do coronavírus e agora aponta caminhos para saída - Toshifumi KITAMURA / AFP
Bill Gates "previu" crise do coronavírus e agora aponta caminhos para saída Imagem: Toshifumi KITAMURA / AFP

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em São Paulo

29/04/2020 16h52

Sem tempo, irmão

  • Bill Gates "previu" a pandemia e agora aponta caminhos para sairmos da crise
  • Bilionário acredita que bilhões de pessoas serão vacinadas nos próximos dois anos
  • Ele ressalta que reabertura a curto prazo precisa ser acompanhada de testes
  • Como esperança no futuro, Gates espera que a crise deixe o mundo mais unido
  • Fundador da Microsoft também se preocupa com mortalidade em países como Brasil

No ano de 2015, Bill Gates apontou que seu maior medo era uma nova pandemia como a da gripe espanhola, que mataria milhões de pessoas pelo mundo globalizado. Cinco anos depois, estamos vivendo uma crise de saúde pública com o coronavírus.

Em uma longa entrevista para o site Vox, Gates, que teve o nome envolvido em várias notícias falsas que o relacionavam ao coronavírus devido à sua "previsão", falou como sairemos dessa quarentena, quanto tempo falta para termos uma vacina e outros temas.

O fundador da Microsoft, que tem uma fundação voltada para a saúde, tem um plano para enfrentar o vírus - semelhante ao que todo mundo imagina. Ele resume-se a corrermos atrás de aumentar urgentemente a escala de testes, a curto prazo; pesquisarmos um medicamento a médio prazo; e corrermos com a vacina a longo prazo.

Para ele, tal vacina deve ser complexa, mas não tanto quanto a do HIV (que ainda não temos), e mais próxima da de outros surtos recentes, como Sars. O mais importante: ele acha "muito provável" que bilhões de pessoas sejam vacinadas em até dois anos.

Confira abaixo os melhores trechos da entrevista de Bill Gates ao Vox:

Bill Gates - Reuters - Reuters
Imagem: Reuters

Críticas aos atuais testes sorológicos:

A taxa de falso positivo nesse teste sorológico é muito, muito alta. Estatisticamente. Quando você tem um grupo em que 98% certamente não foram infectados, falsos positivos sobrecarregam completamente os dados oficiais

Inovações que precisamos para reabrir os países e comércios:

Tem que aumentar a escala de testes, em que se você poderia testar todo mundo antes de entrar em um navio de cruzeiro ou em um parque temático ou um galpão. Nós estamos longe disso. (...) Eu colocaria rastreamento de contatos nisso também porque pode reduzir infecções. Então você tem a terapia de remédios. E aí finalmente tem a vacina

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Sobre medicamentos:

Um medicamento é mais fácil do que vacina. (...) Têm compostos em particular que parecem muito promissores. Tem um em que você olha o sangue dos pacientes recuperados e acha os melhores anticorpos. E aí ou você diretamente usa aquele sangue ou fabrica os anticorpos. (...) Estamos tentando deixar isso bem até o fim do ano

Dificuldades da manufatura da vacina:

Para algumas construções de vacina é difícil aumentar a manufatura porque ou é muito novo ou porque a química é complexa. E estamos em um novo regime no qual você conversa sobre fazer bilhões de vacinas. Nós não fazemos bilhões de vacina nenhuma. Fazemos centenas de milhões, mas para essas tivemos décadas de trabalho na eficiência

Bill Gates dá entrevista coletiva junto a representantes dos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

Probabilidade de vacinar bilhões de pessoas

É muito provável [que sejam vacinadas bilhões de pessoas em dois anos]. O alvo não é tão difícil como o HIV. Isso quer dizer que a proteína não está mudando tanto seu formato com a do HIV. Para o Sars nós tivemos uma vacina e então a doença foi embora. Nós até temos um antiviral para o Ebola. Então eu não acho que o coronavírus vai ser um alvo impossível, mas não posso garantir isso

As diferentes abordagens para vacina

A maioria das novas vacinas são de subunidades, onde você não coloca o vírus inteiro dentro. Você só pega partes dele - como a proteína principal no caso do coronavírus. (...) Você só precisa manufaturar RNA, o que é trivial porque são só os códigos conhecidos que você monta junto. Se funcionar, essa vai ser a plataforma para respostas rápidas em pandemias futuras

18.nov.2019 - Bill Gates discursa durante a inauguração da 8ª Conferência Internacional sobre Estatísticas Agrícolas em Nova Délhi, na Índia. - Indraneel Chowdhury / NurPhoto via Getty Imagens - Indraneel Chowdhury / NurPhoto via Getty Imagens
Imagem: Indraneel Chowdhury / NurPhoto via Getty Imagens

Sobre a "previsão" de uma pandemia com 33 milhões de mortos

Realmente não sabemos o que vai ocorrer nos países em desenvolvimento, onde a maioria da população vive. Os casos reportados desses países até agora são muito pequenos. Mas, a não ser que ocorra algum fator mágico, a probabilidade da maioria das mortes ser lá é muito grande

Por que países em desenvolvimento como Brasil não estão tão mal quanto se imaginava?

Eu espero que existam razões que não sejam: que eles simplesmente não estão testando muitas pessoas, ou as pessoas estão com medo de procurar testes, ou as pessoas que viajam pelo mundo são separadas da maioria da população, e por isso a difusão da doença para um trabalhador de uma favela levaria um ou dois meses a mais

Bill Gates fala na 'Reivented Toilet Expo' em Pequim, na China - Thomas Peter/Reuters - Thomas Peter/Reuters
Imagem: Thomas Peter/Reuters

O que não sabe sobre a covid-19 e que gostaria de saber

A sazonalidade e os efeitos do clima. Está parecendo que uma transmissão em ambientes fechados é uma parte importante da infecção, e que o modo como nossa circulação funciona em ambientes fechados, como o metrô, atua contra você.

(...) Nós não sabemos ainda como é a resposta imunológica humana. Isso é muito importante porque se for fraca, então você não está protegido de uma segunda infecção. Eu não acho isso provável.

Com um pote de fezes humanas ao lado, o filantropo bilionário Bill Gates deu o pontapé inicial na Expo Reinventada na China - AP - AP
Imagem: AP

Temor de uma segunda onda nos EUA com uma reabertura

Estou muito preocupado com isso. A não ser que seja muito gradual e escolha as coisas que sabemos que não vão aumentar a taxa de infecção, então você vai ter uma heterogeneidade em que partes dos EUA vão estar bem e outras mal. A tentação de impedir viagens entre essas partes será muito difícil. Sem testes, a reabertura é uma coisa cega. Odeio falar de novo disso, mas onde está a priorização dos testes?

Sobre a priorização de testes

Algumas pessoas tiveram acesso a testes sem terem sintomas e algumas pessoas com sintomas não tiveram acesso a testes. Então uma porcentagem substancial dos testes não ajuda. É quase corrupto que se você tem uma relação próxima com um médico no hospital você vai ter acesso à máquina de PCR sem importar as circunstâncias. (...) É difícil entender por que as pessoas não estão furiosas com isso

Bill Gates - Arnd Wiegmann / Reuters - Arnd Wiegmann / Reuters
Imagem: Arnd Wiegmann / Reuters

Sobre a vigilância das empresas de tecnologia

É complexo categorizar isso. Alguns são para ajudar a lembrar onde você esteve. Então se você for entrevistado, pode lembrar: 'é, fui naquela loja, naquela outra loja'. Isso pode ajudar. Se você só usar bluetooth, a distância é muito grande, então os falsos positivos vão ser enormes. (...) Mas a abordagem da Alemanha, que requer poder humano, pode funcionar muito bem. Se aquela base de dados for gerida corretamente, ela não afeta a privacidade tanto quanto algumas das abordagens asiáticas afetam.

As esperanças para um futuro daqui a cinco anos, já com vacina

Eu espero que isso una o mundo. Depois da 2ª Guerra Mundial nós criamos novas instituições e fomos bem-sucedidos em evitar outra guerra. Isso foi fenomenal. Nós não explodimos uma bomba nuclear como parte de um conflito. E fizemos isso ao nos unir por meio de instituições —como a OMS é para a saúde. Então, por pior que tenha sido, tivemos resultados positivos

Para o que mais devemos nos preparar

As coisas já estão difíceis o suficiente. Não quero me debruçar sobre o bioterrorismo, mas seja qual for a taxa de fatalidade atual, não está nem perto do bioterrorismo —varíola ou outro patógeno que foi intencionalmente escolhido para uma alta taxa de mortalidade

Sobre as teorias da conspiração do coronavírus

É meio que triste. Quem imaginaria que a Lysol (fabricante) teria que lembrar as pessoas para não tomarem desinfetantes? Algumas pessoas realmente agem em cima de notícias falsas. Desinformação é perigosa, particularmente nesse tipo de crise em que as pessoas estão mais dispostas a acreditar em coisas absurdas.