"Senti como se estivesse em consultório", diz paciente sobre telemedicina
Quando a psicóloga Larissa Silva foi ao ginecologista em 7 de fevereiro, o Brasil ainda não registrava nenhum caso de covid-19, embora o assunto já estivesse bem presente no noticiário mundial. No fim de março, quando precisou apresentar os exames e retornar à médica, o cenário já tinha mudado totalmente.
A maioria das empresas tinha adotado o home office. A telemedicina começava a receber liberações de entidades como Conselho Federal de Medicina (CFM) e Ministério da Saúde, com posterior aprovação no Congresso Nacional, para o período em que durar o combate à pandemia no país. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro sancionou o serviço.
Essas ações foram suficientes para que o segmento de telemedicina explodisse no País. O serviço ganhou espaço desde o SUS, com contratação de empresa para atendimento exclusivo de pacientes da covid-19, até plataformas privadas como:
- Conexa Saúde, com aumento em uma semana de 100 mil para 1 milhão de vidas dos clientes dos parceiros que representa
- Saúde Concierge, com alta de 1000% na demanda após ajustes em seu sistema de teleorientação
- Dr. Consulta, onde os números de teleatendimentos dobram a cada três ou quatro dias
- A operadora Sulamérica, que incrementou o serviço Médico na Tela, antes restrito a certos pacientes, e que registrou um crescimento de 15 vezes em março em relação aos meses anteriores.
Larissa fez o seu retorno à médica por videoconferência, após o envio prévio dos resultados dos exames.
A consulta foi ótima, não senti diferença entre a consulta presencial e por videoconferência. Como não havia necessidade de exame físico, a consulta por vídeo me atendeu super bem
A psicóloga considerou a economia de tempo como um benefício adicional, considerando o quase sempre caótico trânsito paulistano.
A aposentada Giselia Rodrigues, de 71 anos, em tratamento de um enfisema pulmonar desde o início ano, também adotou a telemedicina para continuar com os cuidados médicos.
Conversei com ele normalmente e não tem grande diferença. A grande questão é que você não precisa perder horas do seu dia para ser atendida. Se eu pudesse, eu não iria mais a consultórios, faria tudo online. Em comparação com outros médicos que eu tenho ido, a experiência foi bem-sucedida
Para ela, a telemedicina pode ser uma "ótima" solução para situações que podem ser resolvidas no próprio atendimento. "Falar diretamente com o médico e receber a prescrição de medicação é uma ótima opção. Agora, não tem muito o que melhorar, porque para fazer exames, por exemplo, a gente vai precisar se deslocar."
Médicos entrevistados por Tilt revelam algumas preocupações com o atendimento, principalmente para casos que demandam exames físicos mais detalhados e diagnósticos mais difíceis.
É o caso da clínica geral Ana Elisa Carvalho Cruz, que precisou informar ao seu paciente a existência de um tumor no pâncreas.
Foi extremamente difícil dar esse diagnóstico 'a distância'. Parece que a empatia que conseguimos demonstrar estando frente a frente com o paciente se esvai diante da tela ou do telefone, por mais que nos esforcemos para demonstrar toda a solidariedade que sentimos naquele momento
A médica, que evitou no início o uso da telemedicina por considerar uma prática "estranha", disse que precisou se adaptar para atender às queixas dos pacientes. "Continuo pensando que não é o ideal, pois uma boa parte das condutas depende do exame físico detalhado, mas é o que melhor atende às demandas do momento", contextualiza.
Para o médico do esporte Ruben Chavez, a atenção com os exames físicos também é uma questão muito presente.
"Funciona bem para a anamnese [entrevista do médico ao paciente]. Agora, para descobrir se as queixas de um paciente estão relacionadas à apendicite, você precisa fazer um exame físico. Tive a queixa de um paciente de dor no ombro e não passar a orientação 100% porque me falta esse contato físico. E, a depender do caso, precisamos indicar a ida ao consultório", explica.
Do ponto de vista de aceitação, os médicos relatam que os pacientes têm adotado bem a solução. Ana Elisa se surpreendeu especialmente com os mais idosos.
"Talvez por estarem em isolamento mais pronunciado, longe dos filhos e netos, e por, habitualmente, terem maior carência de atenção", afirma. De acordo com ela, a telemedicina tem ajudado a tornar a consulta mais informal, leve e amistosa.
Telemedicina pós-pandemia?
Em um cenário pós-pandemia, com uma regulação da telemedicina por lei definitiva, os profissionais analisam que as suas atividades médicas devem seguir um caminho de trabalho que contemple tanto o atendimento presencial quanto o virtual.
"É uma experiência nova e da qual estou gostando. Pensando no futuro, poder fazer as consultas de retorno por vídeo seria uma estratégia interessante para esse tipo de situação", explica o médico do esporte Ruben Chavez.
Ana Elisa concorda. "Encaixaria muito bem em casos já conhecidos, mas que necessitem de supervisionamento mais cuidadoso, como efeitos colaterais em uma medicação recém-introduzida. Pode ser importante para evitar idas desnecessárias ao consultório ou ao pronto socorro, por exemplo", complementa.
Entre os especialistas ouvidos pela reportagem, a expectativa é de que a telemedicina ganhe mais relevância com moradores que estão distantes dos grandes centros e capitais.
De acordo com Ricardo Mucci, diretor de Setor Público da Cisco Brasil, empresa que disponibilizou a sua ferramenta de teleconferência Webex para as secretarias de Saúde para o combate à Covid-19, alguns secretários já colocam a adoção com algo definitivo.
"Em estados com interior um pouco mais humilde, a telemedicina será forte porque se deixará de fazer a locomoção de pessoas que, às vezes, têm algum tipo de dificuldade ou problema financeiro para se deslocar até a capital para atendimento com especialistas", sinaliza.
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