Idosos confinados: netos ajudam Stênio, Rosamaria e Pitanga a adotar tec
Se antes idosos se acostumavam aos poucos com a tecnologia, o confinamento imposto por causa do coronavírus fez a digitalização da terceira idade se tornar quase obrigatória. Com as presenças de atores da velha guarda da televisão brasileira, o UOL Debate desta sexta (5) mostrou que as novas e as velhas gerações amplificaram a troca de conhecimento no atual momento.
Os convidados foram os atores Antônio Pitanga, Rosamaria Murtinho e Stênio Garcia —além deles, Sérgio Serapião, fundador do Lab60 e especialista em longevidade, e Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, participaram da conversa.
Para entrar na transmissão, os atores tiveram que aprender como fazer uma live. Rosamaria disse que só isso já fez o dia dela melhor. "Gosto de aprender e ouvir. Hoje aprendi como faço essa live, foi difícil. Isso já valeu meu dia", afirmou a atriz, que inclusive entrou um pouco depois dos colegas por dificuldades técnicas.
Muito do conhecimento dos idosos nesse momento de distanciamento, em que o digital ganha mais relevância, vem dos filhos e netos. "São novas ferramentas, uma nova maneira de ver o mundo. As minhas três netas são uma fonte tão bonita. Se eu não tiver humildade para ter essa leitura, fico estático em vez de crescer. Tenho que beber dessa fonte, dialogar com essa geração", disse Pitanga. "Acho até que essas crianças vieram com chip", brincou.
Stênio Garcia ressaltou que entender da tecnologia é importante, principalmente para sua área, que lida com imagem pessoal. E cravou: não tem vergonha de perguntar nada para ninguém. "Consigo numa boa perguntar, não sei tudo. Tenho que aprender muita coisa ainda. Sou um garoto com quase 88 anos. A gente está aprendendo sempre, adoro perguntar. Gosto mais de perguntar do que responder", disse.
Preconceito contra terceira idade
A presença dos três atores com mais de 80 anos mostrou, também, que o sentido de "terceira idade" mudou. "O aposentado é quem se retira do convívio social e vai para o seu aposento e não teria nenhuma função na sociedade. E não é nada disso. Temos aqui exemplos de como é ativa essa longevidade. Quando chega o Covid, estamos todos confinados em casa e isso para fora questões que temos embaixo do tapete. O preconceito com a idade cresceu muito. Países escolhendo leito de hospital por idade. Será que o jovem tem mais direitos que o velho?", questiona Sérgio Serapião..
"Existe muito preconceito contra o mais velho, porque eles acham que não sabemos muitas coisas. Por termos idade, sabemos mais. Todos nós temos tantas histórias, é a gente que sabe. Mas o preconceito não deixa a gente entrar nos papos", afirma Rosamaria.
Serapião ainda aponta um problema das novas tecnologias serem feitas por pessoas de menos de 30 anos que não levam em conta as dificuldades de idosos —como auditivas e de visão. "Falamos que o idoso tem dificuldade, mas não é isso. A tecnologia não foi feita para ele e aí ele tem que correr atrás", destacou.
Rotina na quarentena
Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva mostrou que os idosos estão entre o grupo que menos respeita o isolamento social e os conselhos para que as pessoas fiquem em casa. Ao compartilhar suas rotinas diárias, os debatedores mostraram um certo reflexo disso —ainda assim garantem tomar cuidados.
"Tenho andado muito cedo, quando está vazio. Moro próximo de um aterro, onde não tem multidões. Tenho lido muito. Tenho sido uma pessoa que vai à feira, supermercado, com todo cuidado. Como a minha mulher Benedita (da Silva, deputada federal pelo PT) é grupo de risco, vou eu. Me disseram que sou grupo de risco, mas tenho uma idade cronológica que eu duvido, algo aconteceu que não tenho 81 anos", relatou Pitanga.
Já Stênio afirmou que tem vivido bem por estar em uma casa no meio do mato, com animais e companhia. Tudo isso ajuda a não se sentir sozinho. "Eu aproveito sempre tudo, moro em um lugar com uma natureza muito linda. Minha casa tem bichos, tenho quem faz companhia. E tem vocês, que posso recorrer. Não fico sozinho, não", contou.
Na contramão da tendência de idosos, Rosamaria afirmou que faz 76 dias que não deixa sua casa. Ela conta seguir uma rotina rigorosa para não perder o foco durante o isolamento social.
"Começo com alongamento na cama, tomo café, depois faço ginástica. Às 15h, rezo o terço com a Elba Ramalho, depois assisto 'Chocolate com Pimenta', às 16h30 vou ler, depois vou para Netflix ver The Crown. Meu dia é muito cheio de coisas nessa quarentena, então não tenho tempo de lamentar que estou velha. Estou velha sim, mas não faz mal, estou trabalhando", orgulhou-se.
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