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Sucesso, série 'Cosmos' volta (ainda) mais necessária e projeta nanonaves

Versão moderna de "Cosmos" é guiada pelo popular astrônomo Neil deGrasse Tyson - Reprodução
Versão moderna de 'Cosmos' é guiada pelo popular astrônomo Neil deGrasse Tyson Imagem: Reprodução

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em São Paulo

06/06/2020 04h00Atualizada em 07/06/2020 10h25

Sem tempo, irmão

  • Sucesso em outras temporada, série 'Cosmos' volta neste sábado no Brasil
  • Primeiro episódio mostra que programa é mais importante do que nunca
  • Série traz explicações do passado e previsões para nosso futuro como humanidade

Quando a primeira edição da série 'Cosmos' foi ao ar em 1980, sob a batuta do icônico astrônomo Carl Sagan, o apelo era para que a humanidade "valorizasse a vida e continuasse sua jornada pelo Universo", em meio aos medos de batalha nuclear da Guerra Fria - que, ironicamente, foi responsável por um enorme avanço na nossa jornada espacial.

Ao voltar em 2014 em uma nova edição, a série documental comandada agora pelo também popular astrônomo Neil deGrasse Tyson abordou elementos como o aquecimento global —algo que a ciência já comprovou, mas segue sendo colocado em dúvida.

Pule seis anos no espaço-tempo e temos uma nova edição de 'Cosmos', chamada 'Mundos Possíveis', que estreia nesta noite no Brasil, às 22h30, no canal National Geographic —sem previsão de que vá para streaming, nem mesmo o da Fox. Tilt já assistiu ao primeiro episódio e conta por que a série documental que quebrou barreiras é mais importante do que nunca.

Evoluímos?

Como cantavam Belchior e Elis Regina, "o novo sempre vem". Na ciência, isso fica claro com novas hipóteses, novas perguntas e novas descobertas que transformam a nossa vida. A série original de 1980, por exemplo, foi ao ar sem as informações que descobrimos nos últimos 40 anos —e não foram poucas.

A humanidade não para de evoluir, mas, ao mesmo tempo, não deixa de retroceder. Se falássemos há 40 anos que no futuro teríamos uma minoria, ainda assim crescente, de pessoas que questionam se a Terra é redonda ou plana, ririam de nós.

Mas, ainda assim, aqui estamos, tendo que lidar cada vez mais com falta de ciência e muitas defesas de crenças sem racionalizações, na era da pós-verdade. E 'Cosmos' mostra como 'é necessário resgatar o passado para entender onde estamos'.

A insignificância humana

A primeira temporada de 'Cosmos' foi um marco para a televisão mundial pelo seu uso de efeitos especiais e tecnologia na produção da série documental. Nem precisamos dizer que, passados 40 anos, está mais espetacular do que nunca.

Com a mesma abordagem de 40 anos atrás de viajar por diferentes lugares e eras a bordo de uma espaçonave, no começo do episódio já somos colocados na dança de dois buracos negros ocorrida há bilhões de anos, o que mostra os efeitos especiais da série em todo seu esplendor.

Outro elemento clássico de 'Cosmos' também está presente: o calendário espacial. É ele que mostra toda nossa insignificância perante o universo.

Terceira temporada de 'Cosmos' volta neste sábado no Brasil - Reprodução - Reprodução
Terceira temporada de 'Cosmos' volta neste sábado no Brasil
Imagem: Reprodução

Funciona da seguinte forma: ele transforma a história do universo desde sua criação em um calendário anual, em que cada dia representa 40 milhões de anos e cada mês mais de um bilhão de anos. O surgimento dos seres na Terra seria somente no dia 15 de setembro. O ser humano, claro, está lá no fim do calendário.

A nossa insignificância na escala do tempo é mostrada de outra forma: uma simples alteração em uma escada de DNA é responsável pela existência de nossa espécie. Ao mesmo tempo, mostra nossa grandeza: essas mutações mínimas levaram a um novo ser vivo que mudou completamente a Terra —algo típico de "Efeito Borboleta", né?.

Passado 'socialista'...

A coisa mais gostosa de 'Cosmos' é, sem dúvida, a jornada da série. Neil deGrasse Tyson é um mestre para nos guiar por assuntos mais complexos - deixa qualquer assunto científico com uma leveza que qualquer criança fica vidrada no conteúdo. Assim como Carl.Sagan, ele tem a habilidade de deixar temas cabeçudos mais didáticos.

O programa conta com episódios que abordam tanto o passado quanto o futuro —e isso é sintomático, já que precisamos sempre entender o passado para projetar o futuro, a velha máxima da história. Ao olhar para o céu, ainda por cima, estamos sempre olhando para o passado, já que tudo o que vemos leva um tempo até chegar a nossos olhos.

Nessa viagem do programa, rola a explicação do surgimento dos primeiros mamíferos e humanos na Terra. Ao lembrar nossos antepassados, há um lembrete (e provocação, claro) para nos lembrarmos como eles viviam e como viam o mundo —não havia mazelas como minorias, desigualdade e outros problemas atuais.

"Os humanos viviam em harmonia entre si e com o ambiente. Compartilhávamos o pouco que tínhamos porque nossa sobrevivência dependia de todo o grupo. Não valorizávamos riqueza em relação à nossa necessidade", cita DeGrasse Tyson.

Ao mesmo tempo, somos os responsáveis por danos a esse ecossistema que nos deu vida. O "Museu da Extinção" está de volta, desta vez com um novo corredor com as extinções provocadas por humanos - que, se não controladas, podem extinguir o próprio humano. Um belo convite para refletir nossa relação com outras espécies.

...e futuro com "nanonaves"

Apesar dos pesares, a jornada termina de forma animadora. Isso é uma parte um pouco perigosa da série porque diminui um pouco todas as ameaças e perigos citados antes. Ao mesmo tempo, evoca a imagem da ciência e tecnologia triunfais levando o ser humano adiante —todo o custo disso está presente na discussão anterior sobre os perigos causados pela humanidade. Mas tudo bem: "passo pano" para isso por ser o momento que nos deixa maravilhados com o futuro.

O futuro próximo do primeiro episódio é a sugestão de que daqui a alguns anos uma frota de "nanonaves" partirá do Deserto do Atacama rumo ao universo, mais precisamente para Alfa Centauri, onde existe o planeta em zona habitável mais próximo da Terra que conhecemos. E que frota.

Elas teriam menos de 1 grama e são veleiros interestelares guiados por uma luz disparada da Terra, a uma velocidade de 20% da velocidade da luz. Demorariam 20 anos para chegar ao seu destino e mais quatro para mandar as informações —só precisariam de quatro dias para ultrapassar a Voyager-1, sonda mandada pela Nasa há mais de 40 anos que é o objeto humano mais longe no espaço. As gerações atuais ainda estarão vivas se esse momento acontecer.

'Cosmos' é uma série que faz sonhar e também necessária para tempos sombrios com negacionismo criando crenças perigosas. É uma série também para refletir. Que dirá a pergunta feita por DeGrasse Tyson logo em sua abertura:

"Onde estará a humanidade até o fim do século? E no próximo milênio?"

A ver...