Na pandemia, robô entra em cena e ajuda mil mulheres em relação abusiva
Sem tempo, irmão
- Lançada em março, Maia tira dúvidas de mulheres sobre relacionamentos abusivos
- Mais de mil mulheres conversaram com a robô durante o período de distanciamento social
- Conteúdo das conversas e perfil das usuárias é preservado para haver segurança e privacidade
Em quase três meses, a chatbot Maia (Minha Amiga Inteligência Artificial) ganhou um papel mais importante do que o original. Lançada em março pela campanha Namoro Legal, do Ministério Público de São Paulo, a robô para conversas "nasceu" como uma cartilha sobre violência contra mulheres. De lá para cá, se tornou a "boa amiga virtual" de muitas vítimas de abusos.
Durante o período de distanciamento social de prevenção ao novo coronavírus, em que houve registros de aumento da violência doméstica no Brasil, a ferramenta auxiliou mais de mil mulheres a identificarem, anonimamente, aspectos abusivos em suas relações com parceiros.
Por trás desta ferramenta está o trabalho de Valéria Scarance, promotora do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), que desenvolveu a cartilha Namoro Legal. Ela marcou a primeira fase do projeto, pensado para ajudar mulheres jovens a identificar comportamentos abusivos do seu respectivo parceiro.
"Segundo levantamentos, 42% das jovens já sofreram alguma forma de violência e 66% assédio sexual. Apesar desses índices, para mulheres jovens é mais difícil perceber a violência e mesmo saber como agir diante de uma situação de violência, atos de controle, isolamento ou ciúmes excessivos", relata Scarance.
Trabalhando neste cenário, a promotora pensou na campanha com uma linguagem "fácil, acessível e atrativa" para jovens. A cartilha, lançada em 12 de junho do ano passado —Dia dos Namorados no Brasil —, foi o pontapé inicial e a base para o desenvolvimento da Maia, segundo marco do projeto.
Apoiando o MP-SP, a Microsoft iniciou o desenvolvimento do chatbot em parceria com a consultoria Elo Group e a Ilhasoft, empresa especializada na criação deste tipo de robô. Foram meses de trabalho antes que a Maia começasse a funcionar em março deste ano.
A revista Capricho, o Instituto AzMina, Plan International e o movimento Girl Up contribuíram na campanha e com a criação da Maia.
Sempre aprendendo
Considerada a segunda fase da campanha Namoro Legal, a tecnologia por trás do funcionamento da Maia faz com que ela ouça e aprenda com as experiências das amigas que buscam ajuda. Isso significa que a plataforma segue sendo aprimorada —e nem precisa da intervenção de engenheiros para que as melhorias ocorram.
Em um teste com Maia, a reportagem avalia a experiência como positiva. A inteligência artificial consegue entender bem algumas frases e termos simples como "acho meu namorado possessivo" e dá exemplos de outros casos de abusos, com uma linguagem leve e sensível ao problema.
A IA também dá sugestões de como perceber sinais de relação abusiva e dicas de empoderamento. Como em muitos chatbots, muitas respostas são pré-prontas, mas as orientações são boas e servem para muitos casos.
"A Maia conta com todos os recursos e ferramentas cognitivas da Azure (plataforma de nuvem da Microsoft), que incluem inteligência artificial, aprendizado de máquina e compreensão de linguagem. Ela continua aprendendo a partir de cada interação que é feita com ela", destaca Alessandra Karine, vice-presidente de Setor Público e líder de Diversidade e Inclusão da Microsoft Brasil.
Por ouvir perguntas sensíveis e particulares das usuárias, preservar a privacidade das consultas seria um elemento imprescindível, por isso detalhes sobre o perfil das usuárias não são registrados. Apenas sabe-se o número de mulheres que acionaram o serviço.
"Costumo dizer que a Maia é uma boa amiga virtual, pois dá bons conselhos sobre relacionamento e guarda segredo. Isso porque todas as dicas da Maia foram elaboradas com base na cartilha Namoro Legal e testadas durante um ano. Além disso, a Maia não armazena nenhum tipo de dados das usuárias", explica.
A proteção à identidade de quem usa o recurso foi priorizada no desenvolvimento da Maia. A criação do chatbot foi verificada pelo Aether (Comitê de Inteligência Artificial e Ética em Engenharia e Pesquisa da Microsoft), grupo que avalia iniciativas de chatbot para garantir que os robôs sigam as normas de segurança e ética da empresa.
Onde acessar
Mulheres de todo Brasil que buscam as orientações dadas pela Maia podem acessá-la no site do MP-SP e no site AzMina, clicando no ícone circular no canto direito da página. O próximo plano da campanha é implementar o acesso à Maia nos sites da Plan International e da Girlup.
3 Comentários
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A classe política deste País age de forma tão desumana que chega a superar o limite da dignidade das pessoas honestas. Além de faturarem de forma salafraria nos produtos de prevenção dos infectados, adquirindo com preço super faturados, agora, fazem politicagem em cima dos falecidos. Estes governadores e prefeitos deveriam ser condenados por CRIME HEDIONDO.
O MP tem campanhas e programas?!? Preocupante viver num país no qual o Judiciário quer ser executivo e não tem qualquer forma de controle.