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Depois de rejeitar ideia, Facebook considera banir anúncios políticos

Mark Zuckerberg ao ser questionado no capitólio sobre a falha do Facebook em impedir a propagação do discurso de ódio em Myanmar - Leah Millis / Reuters
Mark Zuckerberg ao ser questionado no capitólio sobre a falha do Facebook em impedir a propagação do discurso de ódio em Myanmar Imagem: Leah Millis / Reuters

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

12/07/2020 13h27

O Facebook está considerando proibir anúncios políticos dentro de sua plataforma nos dias que antecederem as eleições gerais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, informou a Bloomberg.

Segundo fontes familiarizadas com o assunto, ainda não há uma decisão, mas empresa discute a possibilidade de proibir temporariamente esse tipo de conteúdo. A notícia surge em meio a forte pressão que o Facebook vem sofrendo para agir melhor contra a disseminação de notícias falsas e discurso de ódio.

O fato de o Facebook pensar em banir anúncios políticos dividiu opiniões. De um lado, existe a crença de que essa limitação vai ajudar a conter a propagação de notícias falsas.

Grupos de direitos civis, da sociedade civil e advogados exigem que a empresa dê respostas mais concretas contra a desinformação. Uma auditoria recente divulgou um relatório na última semana que mostra que a empresa não conseguiu proteger direitos civis, principalmente em relação aos conteúdos publicados pelo presidente Donald Trump.

De outro, há quem acredite que a limitação nos anúncios pode prejudicar campanhas de candidatos que aproveitam os últimos dias para tirar dúvidas e apresentar novas informações. Além disso, nessa etapa do processo há ainda as últimas tentativas para incentivar os norte-americanos a saírem de casa para votar, já que por lá a participação não é obrigatória.

Facebook x Zuckerberg

Caso o Facebook decida realmente proibir os anúncios políticos, a medida iria contra o que o presidente-executivo e fundador, Mark Zuckerberg, tem defendido há semanas. Para ele, a plataforma não deve servir para ficar monitorando conteúdos políticos e que a liberdade de expressão é fundamental.

Outro argumento defendido é que possíveis remoções de anúncios políticos podem prejudicar candidatos menores e que não possuem muitos recursos de financiamento de campanha, destacou a reportagem do New York Times sobre o caso.

Esse posicionamento de Zuckerberg e a falta de ações concretas da sua empresa tem repercutido negativamente. Críticas duras quanto a má administração do Facebook em relação ao discurso de ódio e fake news foram destacadas pela sociedade civil, funcionários e empresas— várias já anunciaram que vão deixar de fazer anúncios dentro da plataforma em um grande boicote.

Ao mesmo tempo que o Facebook passa por esse turbilhão de críticas, outras redes sociais se posicionaram mais firmes. Um exemplo é o Twitter que já classificou (com rótulos nas postagens) algumas publicações do presidente Donald Trump como potencialmente enganosa e de exaltação da violência.

Em entrevista ao New York Times, Vanita Gupta, diretora executiva da Conferência de Liderança em Direitos Civis e Humanos, afirmou que é positivo que o Facebook esteja pensando em estratégias. No entanto, é importante que a empresa consiga ter um sistema que identifique informações falsas em tempo real.

"A supressão dos eleitores está acontecendo todos os dias, e sua inação terá profundas ramificações nas eleições", afirmou.

Ainda segundo a reportagem, alguns grupos democratas não acreditam que a proibição dos anúncios políticos ou restrições serão eficientes para acabar com as fake news. Os argumentos são:

  • Conteúdos falsos podem circular facilmente em grupos fechados da rede social.
  • Essa limitação também iria impactar ferramentas digitais usadas em campanhas eleitorais e poderia dificultar a aquisição de novos doadores para elas.
  • Proibir o pagamento de anúncios no Facebook deixaria a disputa desigual. Donald Trump possui uma base de mais de 28,3 milhões de seguidores. O candidato democrata Joe Biden possui em torno de 2,1 milhões. Logo, Trump teria vantagem mesmo sem precisar investir em anúncios políticos.

Como explicado pela Bloomberg, o Facebook ainda não tem nada decidido. A única certeza é que essa possibilidade de restringir ou não os anúncios políticos da rede social ainda vai dar muita discussão.