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Com veículo Perseverance e mini-helicóptero, missão dos EUA volta a Marte

Marcella Duarte*

Colaboração para Tilt

30/07/2020 08h51Atualizada em 30/07/2020 13h02

Sem tempo, irmão

  • Rover Perseverance decolou da Flórida (EUA) em um foguete Atlas V
  • Instrumentos de ponta podem detectar vida marciana e coletar amostras do solo
  • Tecnologias irão contribuir para futuras missões tripuladas
  • É terceira missão do mês rumo ao planeta vermelho; Emirados e China foram antes

A missão espacial Mars 2020 dos EUA decolou na manhã desta quinta-feira (30), rumo ao planeta Marte. Mas será uma jornada longa. O rover Perseverance, da Nasa, e o novo mini-helicóptero Ingenuity devem chegar ao campo de gravidade de Marte em 18 de fevereiro de 2021.

Um foguete Atlas V foi responsável pelo lançamento, da base de Cabo Canaveral, na Flórida. A sonda foi lançada às 7h50 (horário local, 8h50 em Brasília) com condições climáticas quentes no topo do foguete. Esta é a nona missão da Nasa ao Planeta Vermelho.

"Estou tão aliviado", disse o chefe da divisão científica da Nasa, Thomas Zurbuchen, durante a transmissão ao vivo que a agência espacial fez para o lançamento, acrescentando que tudo parece bem. "É realmente a chave de um monte de novas pesquisas que vamos fazer e que está concentrada na pergunta... há vida lá?", afirmou.

Com o lançamento, os Estados Unidos entraram na acirrada corrida rumo a Marte em 2020, isso porque, nas últimas semanas, os Emirados Árabes Unidos também enviaram a sonda Hope e a China lançou a missão Tianwen-1 ao planeta. Os três devem chegar ao planeta vermelho em fevereiro do ano que vem.

Como é o rover?

O rover Perseverance (Perseverança) é, basicamente, um robô com braços para coletar e analisar amostras do solo marciano. Quando pousar em Marte, ele vai embalar pedaços de rocha e poeira que serão estudados na Terra, além de procurar evidências imediatas de vida. A missão é feita em parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia) e tem um custo de US$2,7 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões).

É uma tonelada de instrumentos sobre seis rodas robustas, do tamanho de um carro popular, que demorou uma década e bilhões de dólares para ser desenvolvido. A primeira vista, o Perseverance parece com o robô Curiosity, que a Nasa enviou à Marte em 2012. Mas, seus sete recursos são muito mais modernos, ou totalmente inovadores.

Perseverance - AFP Photo/NASA - AFP Photo/NASA
Próximo veículo da Nasa a explorar Marte se chama Perseverance
Imagem: AFP Photo/NASA

Diferentemente dos rovers anteriores, o Perseverance é equipado para detectar vida diretamente —seja atual ou fossilizada. E suas 23 câmeras e microfones de alta definição prometem capturar detalhes nunca antes vistos do planeta.

Ele deve pousar na cratera Jezero, de 40 km de diâmetro e 500 m de profundidade, que há bilhões de anos foi um lago marciano. Se já existiu vida ou pelo menos atividade microbial no planeta, este é o local com mais chances de guardar evidências.

Uma das novidades do rover é o moderno mini-helicóptero Ingenuity (Engenhosidade). A aeronave de 1,8 kg vai ser liberada da "barriga" do Perseverance assim que um local ideal para isso for encontrado. É uma demonstração de tecnologia para ver se um helicóptero consegue voar no ar rarefeito — pouca pressão atmosférica e pouca concentração de gases — de Marte. Suas hélices duplas terão de girar extremamente rápido para conseguir decolar.

O Perseverance deve realizar seus experimentos por, pelo menos, 687 dias terrestres (um ano marciano). Ele é movido por um reator com núcleo de plutônio, capaz de produzir energia elétrica por até 14 anos. Energia solar foi descartada após o incidente com o rover Oportunity, que ficou inoperante 15 anos após pousar em Marte —uma tempestade de areia cobriu seus painéis solares.

Além das investigações geológicas e climáticas e a busca por vida interplanetária, a Mars 2020 é um ensaio para futuras missões tripuladas. O instrumento Moxie vai testar a extração de oxigênio da atmosfera do planeta, que é dominada por dióxido de carbono. Também há amostras de trajes espaciais a bordo, para ver como eles reagem ao ambiente hostil.

O que é a janela de lançamento?

Uma viagem até Marte leva entre seis e oito meses. Mas ela não pode acontecer a qualquer momento: é preciso respeitar uma janela de lançamentos, chamada Órbita de Transferência de Hohmann. A cada 26 meses, durante cerca de um mês, Marte está em oposição à Terra —ou seja, os dois planetas estão o mais próximos possível, a cerca de 55 milhões de quilômetros.

Até o dia 15 de agosto, temos o momento ideal para viagem. Além de gastar menos combustível, é a trajetória mais segura e inteligente. Por isso que missões ao planeta vermelho acontecem, em geral, a cada dois anos. Para voltar à Terra, também é preciso esperar uma oposição —a próxima janela acontece em 2022.

Usando essas janelas de transferência, o excêntrico bilionário Elon Musk tem seu projeto de construir uma cidade para um milhão de pessoas em Marte. Vale lembrar que, das quarenta missões soviéticas, americanas, europeias, japonesas ou indianas lançadas para o planeta desde 1960, a maioria fracassou.

*Com agências internacionais.