Deu Tilt #9: Para Nicolelis, torcedor é mais apto a acertar placar que IA
Quem gosta muito de futebol, às vezes consegue acertar o que vai acontecer em uma partida sem nem saber muito bem o motivo daquela, digamos, premonição. Mas isso não é nenhum poder sobrenatural. Para o neurocientista Miguel Nicolelis, que também é médico e pesquisador da Universidade Duke (EUA), isso ocorre porque a mente humana lê certas circunstâncias e as sintetiza bem rapidamente.
Ele falou sobre esse assunto no papo que bateu com o colunista Ricardo Cavallini, o Cava, no nono episódio do nosso podcast de ciência e tecnologia, o "Deu Tilt" (ouça no arquivo acima).
Para Nicolelis, essa habilidade do nosso cérebro não é replicada por máquina nenhuma e, por isso, inteligência artificial nenhuma tem chance de bater um sujeito que vê jogos de futebol há 50 anos para acertar o resultado final de uma Copa do Mundo (a partir de 22:27).
"O cérebro sendo relativístico, ele tira as comunalidades desses 50 anos de observar jogos de futebol. Quando o cara olha [a partida], ele fala: 'Ok, esse time vai ganhar'. Isso é muito difícil de uma máquina fazer", afirmou.
Outro exemplo é a eleição americana de 2016. Segundo Nicolelis, os jornais americanos usaram todos os mesmos modelos, baseados em dados da eleição anterior, de 2012, para tentar acertar o resultado de um pleito que teve nos últimos meses uma mudança dramática na opinião pública americana por causa da crise financeira.
O próprio neurocientista se surpreendeu quando viu que Donald Trump havia ganho e não Hillary Clinton como a mídia previa (a partir de 19:24).
"A inteligência artificial tenta prever o futuro baseada no passado. É nada mais do que usar estatística multivariada sofisticada baseada em dados coletados até o momento presente pra tentar ver o que acontece no futuro", disse.
"Isso [a eleição de Trump] mostra claramente o que acontece quando você usa um modelo inferencial do passado para tentar construir o futuro em fenômenos que não necessariamente são lineares", completou.
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Referências citadas:
- Alan Turing, matemático e cientista da computação britânico
- Livro: O verdadeiro criador de tudo: Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos, de Miguel Nicolelis
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