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Amazon: como Bezos fez empresa que vendia livros ganhar US$ 10 mil/segundo

Mario Tama/Getty Images North America
Imagem: Mario Tama/Getty Images North America

De Tilt, em São Paulo

22/08/2020 11h28

Sem tempo, irmão

  • Tudo começou modestamente com a venda do primeiro livro pela internet
  • A empresa, 25 anos atrás, ficava numa garagem da Califórnia
  • Hoje, a Amazon movimenta US$ 1 bilhão em menos de dois dias...
  • E a plataforma vê suas práticas de concorrência amplamente questionadas

Tudo começou de forma modesta, 25 anos atrás: em meados dos anos 90, Jeff Bezos era vice-presidente de um fundo de investimento em Wall Street (Nova York) quando reconheceu o potencial do comércio pela internet. Era um tempo sem smartphone nem wi-fi, em que, para se conectar à internet através da rede telefônica, usavam-se modems que emitiam assovios e chiados. As conexões eram tão lentas, que muitas vezes se esperava minutos para baixar uma única página online - com sorte, pois era comum a ligação cair.

"Encontrei num website a informação de que a internet cresceria num ritmo de 2.300% ao ano", contou Bezos numa de suas raras entrevistas. Na época, o informático e administrador de empresas formado, de 30 anos de idade, procurava possibilidades lucrativas de investimento para seu empregador, um fundo de investimento livre.

"A ideia de criar uma livraria online me deixou fascinado."

Sua base de cálculo era que os americanos gastavam US$ 19 bilhões por ano em livros. Para uma livraria na internet, praticamente não haveria limites de área comercial e prateleiras disponíveis. "Ficou totalmente claro para mim, refletindo, que eu fundaria uma empresa para vender livros pela internet", conta Bezos. "Eu sabia que se não tentasse, ia lamentar pelo resto da vida."

Inicialmente sob o nome Cadabra, ele fundou sua empresa em 1994 numa garagem, claro —embora isso não signifique sem um bom investimento.

Três anos mais tarde ela já entrava para a bolsa de valores, sobreviveu ao estouro da bolha "ponto-com" na virada do século, e cresceu sem parar, enquanto outros pioneiros do comércio eletrônico abriam falência, um atrás do outro.

Ano após ano, Bezos conseguiu manter seus investidores motivados, embora empregasse quantias milionárias no crescimento de sua "loja para tudo" e não tivesse ganhos... Até o primeiro trimestre de 2001, quando apresentou pela primeira vez um lucro de US$ 5 milhões e um faturamento superior a US$ 1 bilhão.

No Brasil, o domínio Amazon.com.br foi ao ar em 6 de dezembro de 2012, inicialmente apenas com livros eletrônicos, e foi gradualmente ampliando sua oferta nos anos seguintes.

Cliente é rei... às custas de empregados e vendedores

Hoje, a Amazon movimenta tranquilamente US$ 1 bilhão em menos de dois dias: em 2019, seu faturamento foi de mais de US$ 280 bilhões. Em meados de abril de 2020, o jornal britânico The Guardian calculou que, devido ao boom das compras online gerado pela pandemia de covid-19, a multinacional fazia US$ 10 mil por segundo, 24 horas por dia.

Ao lado do comércio online, ela oferece serviços como Amazon Pay e as plataformas de streaming Amazon Music e Prime Video. Além disso, o serviço de cloud Amazon Web Services (AWS) é uma das maiores fazendas de servidores (server farms) do mundo, contendo bilhões de volumes de dados produzidos por outras empresas online. Atualmente a AWS responde por mais da metade do lucro da Amazon.

Bezos compreendeu desde cedo que "lá fora está acontecendo uma corrida do ouro do ecommerce", recorda James Marcus, contratado em 1996 para escrever resenhas literárias para o site. Já na época, a visão do fundador era oferecer em sua plataforma tudo o que se pudesse enviar pelo correio. "Marcas são como cimento de secagem rápida: não queremos ser conhecidos só como livreiros online", argumentava Bezos.

O segredo dos 25 anos de sucesso da Amazon é o foco total na satisfação do cliente, muitas vezes às custas de seus funcionários e vendedores associados.

Só o ritmo de trabalho acelerado nos centros de logística permite a entrega dos artigos em tempo recorde. E quando a firma generosamente aceita a devolução das mercadorias, muitas vezes os vendedores externos é que arcam com os custos.

Em 27 de julho, duas décadas e meia depois de ter vendido seu primeiro livro, o chefe da Amazon se apresentou sob juramento diante da comissão de concorrência do Congresso americano para se submeter a perguntas incômodas sobre o tamanho do império que criou.

Ao lado dos colegas da Apple, Facebook e Google, respondeu aos deputados americanos sobre as práticas comerciais do conglomerado. Os comerciantes que utilizam sua plataforma de vendas são tratados de forma justa? A Amazon usa dados de rivais para definir preços e produtos próprios? Na hora de responder, Bezos claramente se enrolou. (Com Deutsche Welle)