Final feliz desta vez! Como David Blaine sobreviveu ao voo dos balões
O mágico David Blaine subiu aos céus na quarta-feira (2) usando apenas balões e transmitiu tudo em tempo real pelo YouTube, que financiou o projeto. Após levantar voo preso a 52 enormes balões cheios de gás hélio, ele saltou de paraquedas de uma altura de aproximadamente 7.600 metros, chegando ao chão com segurança. A transmissão começou por volta das 10h de Brasília, e o voo durou cerca de uma hora.
O plano original de Blaine era chegar a 18 mil pés, o equivalente a 5,5 mil metros de altura. Ele ultrapassou a marca rapidamente, mas as baixas temperaturas e níveis de oxigênio fizeram com que sua equipe logo começasse a procurar um lugar seguro para saltar.
A empreitada fez muita gente se lembrar da história do padre Adelir Antônio de Carli, que desapareceu pouco depois de levantar voo em uma cadeira suspensa por cerca de mil balões em abril de 2008. Sem ter como controlar o percurso ou a altitude, com problemas para ler o GPS e sem comunicação com sua equipe em terra, o padre alcançou 5.800 metros de altura, o dobro do previsto, e foi desviado de seu trajeto pelo vento até cair no mar, onde foi encontrado morto três meses mais tarde.
No caso de Blaine, o projeto "Ascension" ("Ascensão") exigiu dois anos de preparo e envolveu tirar uma licença de piloto de balão comercial e conseguir um certificado de paraquedista. O mágico está acostumado a fazer performances arriscadas: ele já ficou 44 dias sem comer dentro de uma caixa pendurada sobre o rio Tâmisa, em Londres, e passou horas dentro de uma tempestade de relâmpagos artificiais com potencial elétrico de 1 milhão de volts em Nova York.
A física por trás dos balões
Ao contrário do padre dos balões, que voou em um dia nublado e após forte chuva, Blaine fez sua performance sobre o deserto de Page, no Arizona, para garantir que teria condições atmosféricas adequadas. "O vento é o grande vilão de passeios de balão, já que é impossível controlar a velocidade ou direção para onde se está indo", explica Thiago Signorini Gonçalves, astrônomo na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Enquanto esteve no ar, duas forças agiram sobre David Blaine: seu próprio peso, que o puxava para baixo, e o empuxo dos balões, que o empurrava para cima. "Os balões atuam como uma boia que puxa a pessoa para a superfície da água. Mas para que o corpo possa subir é necessário que a força do empuxo seja maior que a do seu peso", exemplifica Gonçalves.
Como o ar é bem menos denso que a água, é preciso um corpo de densidade muito baixa para que isso funcione - e é aí que entra o gás hélio. Por ter baixa densidade, um balão com esse gás se torna mais leve do que o ar. Mas, ao mesmo tempo, é necessário que a força do empuxo sobre ele seja maior que a força do peso de Blaine. O segredo, aqui, está no volume da "boia" que o sustentará.
"A densidade é a massa do corpo dividida pelo seu volume. Quanto maior o volume do balão, menor sua densidade, e maior será a força o empuxo. Mas o cálculo fica um pouco complicado porque deve levar em conta que a densidade do ar varia com a altitude, bem como a temperatura", explica Adilson de Oliveira, professor do departamento de física da Universidade Federal de São Carlos. No caso de Blaine, que tem 90 quilos, foram necessários 42 balões de 2,5 metros e outros dez de tamanho entre 1,2 e 1,8 metro.
Para que a subida não fosse rápida demais, Blaine carregou consigo alguns sacos de areia que funcionaram como contrapesos para compensar a força de empuxo. À medida que ia soltando esses pesos para o chão, alcançava maior altitude. "Por isso foi preciso jogá-los aos poucos, com a equipe monitorando: se soltasse tudo de uma vez, seria difícil controlar a subida", explica Gonçalves.
O desafio da altitude
Sair do chão não é a parte mais complicada do experimento do mágico. Com maiores altitudes, o ar fica mais rarefeito e a respiração, mais difícil. "Pudemos notar que, quando estava a uma altura elevada, ele começou a ficar mais cansado e precisou de uma máscara de oxigênio. Isso se deve ao fato de que, quanto maior a altitude, menos densa é a atmosfera, o que torna o nível de oxigênio do sangue perigosamente baixo. Se fosse mais alto sem a roupa adequada, ele correria o risco de desmaiar", explica Gonçalves.
Além disso, a temperatura do ar também cai conforme a altura aumenta, o que eleva o risco de sofrer hipotermia: a temperatura fica em média 6,4 ºC mais baixa a cada mil metros de subida a partir do nível do mar. Quando Blaine estava a 22,8 mil pés de altura (quase 7 mil metros) seu termômetro mostrava -17 °C.
Outro risco de uma subida maior é o de os balões explodirem por causa da sua pressão interna, que vai se tornando maior que a do ar rarefeito à sua volta. Com o ar exterior mais rarefeito, o balão tende a se expandir, correndo o risco de estourar.
Apesar dos riscos, a empreitada de Blaine não foi algo sem precedentes. "Outras pessoas já conseguiram subir mais alto com balões de hélio e saltar de alturas muito maiores. A diferença é que nenhuma dessas acrobacias foi transmitida ao vivo sob a perspectiva do aeronauta", diz Oliveira.
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