Satélite da empresa de Elon Musk cai na Terra e é visto sobre SP; assista
Astrônomos brasileiros registraram raros vídeos da reentrada de um satélite da Starlink na atmosfera terrestre. Câmeras da Exoss e da Bramon (Rede Brasileira de Observação de Meteoros) captaram as imagens sobre o interior de São Paulo por volta das 23h da última sexta-feira (11).
A Bramon utilizou imagens de duas de suas estações, ambas em Nhandeara (SP), e de uma câmera de seu parceiro Clima ao Vivo, em Monte Azul Paulista (SP), para calcular a trajetória. Estima-se que o satélite começou a queimar acima do Centro-Oeste e Sudeste - pequenos detritos podem ter caído sobre o Estado de São Paulo.
"Quando as câmeras iniciaram a gravação, o satélite já estava completamente fragmentado, passando sobre Paranaíba, Mato Grosso do Sul. Os fragmentos seguiram lentamente na direção sudeste. A gravação foi interrompida quando eles passavam sobre o município paulista de Lins. Temos umas câmeras mais ao Sul que não registraram os detritos, então não devem ter ido muito longe", conta Marcelo Zurita, diretor técnico da Bramon.
Uma estação de monitoramento de meteoros da Exoss, na cidade de Novais (SP), também registrou o momento.
"Descartamos de primeira que pudesse ser um meteoro ou um bólido. Logo identificamos que era um lixo espacial e divulgamos, para que as pessoas não se preocupassem", disse Marcelo De Cicco, astrônomo coordenador do projeto Exoss.
Como o satélite se despedaça e queima ao entrar na atmosfera, é possível ver diversas bolas de fogo riscando o céu, juntas e lentamente. Internautas do interior do Estado relataram, nas redes sociais, terem visto o fenômeno - alguns pensando se tratar de um meteorito ou até OVNI.
O satélite em questão era o Starlink-32, lançado em 24 de maio de 2019, em um foguete Falcon-9, no primeiro lote do projeto. A reentrada já estava prevista para acontecer nesta data, possivelmente sobre o Brasil ou Oceano Atlântico, de acordo com os dados orbitais do objeto.
Queda sem riscos
A Starlink já lançou cerca de 700 mini satélites à órbita, em 12 lotes. O primeiro era um teste, e diversos equipamentos apresentaram problemas, como o 32. Dezenas deles estão sendo "derrubados" entre agosto e setembro - é realizada uma manobra para reentrada na atmosfera.
Esta foi apenas a segunda vez que se tem registro de um deles se desintegrando e a primeira por equipamentos profissionais. Na semana passada, um morador dos Emirados Árabes Unidos filmou a queda do Starlink-40.
Nas próximas semanas, mais Starlinks devem cair - algo comum com o aumento do uso de satélites, que têm vida útil limitada. Por enquanto, nenhum potencialmente visível do Brasil. E fique tranquilo: os riscos de ferimentos ou destruição por detritos deles são praticamente inexistentes.
Os satélites da Starlink são pequenos, pesando aproximadamente 230 kg cada, e relativamente frágeis: uma fina estrutura metálica que abriga instrumentos e painéis solares. Considerando a velocidade orbital de 27 mil km/h e o forte calor do atrito com o ar, quase toda estrutura é completamente desintegrada.
"Esse satélite é muito frágil, muito fino, pequeno e leve. Dificilmente alguma parte vai sobreviver à passagem atmosférica. Ele é inofensivo para pessoas em solo. Ele não tem tanques de hidrazina dos satélites convencionais, que poderiam, sim, ser um risco", acredita Zurita.
As únicas partes de um Starlink que podem sobreviver à reentrada são os thrusters: três propulsores iônicos de cerca de 10 cm cada, para fazer as manobras, feitos de materiais mais resistentes. Mesmo assim, são muito pequenos e as chances de caírem em uma área desabitada ou no oceano são infinitamente superiores.
O plano ambicioso de Elon Musk é construir uma constelação gigante de pelo menos 12 mil satélites, que pode chegar a 42 mil - para se ter uma ideia da dimensão disso, há cerca de 9.000 estrelas visíveis a olho nu ao redor da Terra.
Se bem-sucedida, a Starlink formará um sistema global de Internet, mais barata e eficiente, que já está funcionando em fase de testes em poucos locais dos Estados Unidos e Canadá.
Astrônomos, contudo, se preocupam com os planos, já que isso deverá atrapalhar inúmeras pesquisas sobre o Espaço feitas a partir da Terra.
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