Carl Sagan: astrônomo "previu" há 50 anos possibilidade de vida em Vênus
Um estudo publicado na última segunda-feira (14) detectou evidências de que poderia existir vida em Vênus. Mas a descoberta não surpreendeu quem acompanhava de perto o trabalho de Carl Sagan. O astrônomo que ficou famoso pela série de TV "Cosmos" (1980) já havia alertado, em 1967, sobre a possibilidade de que as nuvens do planeta seriam o lar de algum de tipo de ser vivo — mas parece que não demos a devida atenção.
Publicado na revista científica Nature Astronomy (a mesma que publicou os dados mais recentes), Sagan escreveu que, enquanto as condições da superfície de Vênus tornam a hipótese de vida no planeta implausível, "as nuvens de Vênus são uma história completamente diferente".
"Como foi apontado alguns anos atrás, água, dióxido de carbono e luz solar —os pré-requisitos para a fotossíntese— são abundantes nas proximidades das nuvens", diz o resumo do estudo, que foi feito em parceria com Harold Morowitz.
Os resultados de sua pesquisa indicaram que as características de Vênus basicamente impediam qualquer forma de vida. Um dos motivos seria a alta temperatura que pode alcançar 462 ºC — clima improvável para que um ser vivo sobrevivesse.
Dois meses depois, em um artigo também publicado na Nature Astronomy, Sagan afirmou que, ainda assim, já acreditava que poderia existir um tipo de ser capaz de flutuar nas nuvens do planeta (local em que a temperatura seria menor e o clima mais habitável).
"Mesmo se a superfície for quente, as regiões polares podem ser frias o suficiente para sustentar a vida, ou podem existir montanhas suficientemente altas, e assim por diante", diz Sagan no resumo do artigo. "Parece apropriado relacionar algumas dessas especulações para continuar trabalhando no ambiente de Vênus."
Quase 50 anos depois, em 2016, a Nasa publicou uma nota dizendo que Vênus pode ter tido um clima habitável e água líquida em sua superfície por 2 bilhões de anos no início de sua existência.
Na ocasião, a agência espacial disse que as descobertas teriam implicações diretas para futuras missões, como o Tess (sigla em inglês para Pesquisa por Satélite de Exoplanetas em Trânsito, lançado ao espaço em 2018) e o Telescópio Espacial James Webb (previsto para 2021), que tentariam detectar possíveis planetas habitáveis.
Descoberta extraordinária
Apesar dos comentários promissores no estudo de Sagan de 1967 sobre a possibilidade de algum tipo de vida em Vênus, muitos cientistas continuaram focando em outros planetas, especialmente Marte. Agora, segundo o novo estudo publicado na Nature Astronomy, a alta concentração do gás fosfina pode ser um indicador de que talvez exista, sim, vida em Vênus.
De acordo com Thiago Signorini Gonçalves, astrônomo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista de Tilt, "nas grandes quantidades em que foi encontrado, o gás pode ser resultado de processos biológicos e, consequentemente, de seres vivos".
"Essa molécula, formada por um átomo de fósforo e três átomos de hidrogênio, é uma importante aliada de astrobiólogos. Isso porque na Terra ela é produzida somente em laboratórios ou pela redução de fosfato por sistemas orgânicos", explica o astrônomo em sua coluna.
É importante ressaltar que as descobertas recentes não comprovam que existem seres vivos em Vênus — e os próprios cientistas estão receosos em confirmar que a fosfina seja uma prova disso. Os pesquisadores tentaram buscar origens para a presença do gás, como faísca produzida pelo atrito entre placas tectônicas. No entanto, eles não conseguiram explicar a sua origem.
Agora, eles precisam de ajuda de mais cientistas para testar as hipóteses do que esses dados significam —e se realmente teremos a prova de que existem extraterrestres.
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