Vênus, a nova fronteira: veja as missões que já foram e as que ainda irão
Cientistas acabam de detectar uma possível evidência de vida em nosso vizinho Vênus: uma quantidade significativa de gás fosfina, comumente produzido por microrganismos na sua atmosfera. Com essa descoberta, missões ao planeta, tripuladas ou não, devem ser priorizadas. Um humano nunca esteve lá.
Vênus, apesar de ser o planeta mais próximo da Terra, foi foco apenas no início da exploração espacial. Cerca de 40 missões tentaram visitá-lo. Mas o ambiente extremamente hostil, com altíssimas temperaturas (470 °C, suficiente para derreter chumbo) e forte pressão, é um desafio para os instrumentos, além de reduzir drasticamente as chances de enviarmos uma missão com astronautas para lá nos próximos anos.
Como a presença de vida havia se revelado extremamente improvável, as agências passaram a se dedicar a corpos celestes com ambientes mais propícios, principalmente Marte e as luas de Júpiter e de Saturno, como Europa e Titã.
A viagem até Vênus dura cerca de quatro meses, dependendo da posição entre os planetas. Já para Marte, são nove. Mesmo com essa facilidade, no momento, há uma única sonda operacional na órbita de Vênus, a japonesa Akatsuki, que foi lançada pela Jaxa em 2010 e já sofreu algumas falhas.
Com a possibilidade da existência de microrganismos venusianos aéreos, a comunidade espacial voltou o olhar para nosso vizinho mais próximo. A Nasa já estava em processo de seleção para as missões Discovery dos próximos anos, com quatro finalistas. Se forem escolhidas, o que se tornou uma grande possibilidade com a descoberta da fosfina, duas delas irão para lá, com previsão entre 2025 e 2026.
A Davinci+ pretende atravessar a atmosfera, colher informações sobre sua composição e tirar fotos da superfície até atingir o solo, fazendo o primeiro pouso norte-americano em Vênus. Já a Veritas é um orbitador que "enxerga" através das nuvens, estudando a superfície por meio de radares de alta resolução.
Já a ISRO, agência espacial indiana, propôs a missão Shukrayaan-1, um orbitador com foco na química da atmosfera venusiana. Com a redução dos custos das viagens espaciais por meio de foguetes reutilizáveis, empresas privadas, como a SpaceX e até universidades, também devem lançar seus projetos.
Sara Seager, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e líder da recente pesquisa sobre a vida em Vênus, revelou estar conversando com a Rocket Lab, uma startup neozelandesa, sobre o lançamento de uma missão de baixa massa (apenas 3 kg), focada no potencial astro biológico do planeta.
Histórico de missões
A primeira missão a Vênus foi a Mariner 2, em 1962, que passou a 33 mil quilômetros da superfície. Seu objetivo era apenas um sobrevoo, não uma exploração completa. Foi ela quem registrou as altas temperaturas, o efeito estufa causado pelo dióxido de carbono, a ausência de campo magnético e a baixa radiação no planeta. Mas as nuvens densas não deixaram que a superfície fosse observada.
Os únicos a pousarem em Vênus até agora foram os soviéticos, com as sondas Venera, entre os anos 60 e 80 —em meio a corrida espacial entre a antiga URSS (União Soviética) e os EUA, no auge da Guerra Fria. Mas elas duraram apenas alguns minutos em solo, sendo destroçadas pela pressão e calor. Ainda assim, conseguiram registrar importantes imagens e medições, incluindo as primeiras fotos que a humanidade tirou da superfície de um outro mundo, em 1975. O programa foi pioneiro e significativo, mesmo para padrões atuais.
Foi assim que descobrimos que o planeta, que até então cogitávamos ser o mais parecido com o nosso, talvez até abrigando oceanos, na verdade era um cenário pós-apocalíptico: terreno seco, acidentado, sob uma nebulosa luz verde neon, trovões e chuva ácida.
A Mariner 2, da Nasa, já havia determinado anos antes que, apesar da superfície extremamente quente, as temperaturas eram amenas nas camadas mais altas do ar. Mas foi o programa Pioneer, em 1978, que completou a pesquisa e trouxe mais dados da misteriosa atmosfera venusiana.
Em 1985, a União Soviética lançou grandes balões com câmeras e instrumentos científicos, Vega 1 e 2, demonstrando o potencial de se flutuar nas nuvens de Vênus. Já os europeus operaram a sonda Venus Express, em órbita entre 2006 e 2015, observando que ainda poderia haver atividade geológica por lá.
A última missão norte-americana dedicada a Vênus foi a Magellan (ou Magalhães). Entre 1990 e 1994, o orbitador mapeou a superfície com radar, resultando em impressionantes imagens de alta definição e na descoberta de que 85% do solo é coberto por rios de lava petrificada, sugerindo atividade vulcânica. Depois disso, algumas naves da agência espacial apenas sobrevoaram o planeta, a caminho de outros pontos do Sistema Solar.
O projeto Havoc, também da Nasa, chegou a estudar o envio de missões tripuladas ao planeta, com uma espécie de dirigível, que flutuaria 50 km acima do solo venusiano —onde as condições são adequadas para a vida e foi encontrada a fosfina nesta semana. Mas foi deixado de lado.
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