Partiu Triller? Astros se despedem e seguidores já preparam vida sem TikTok
"Meu Deus! Ok! Está acontecendo! Todos fiquem calmos!", disse em um vídeo o tiktoker Nick Foster, que tem 577 mil seguidores, usando um áudio de uma famosa cena da série "The Office", em que o personagem de Steve Carrell entra em pânico após ouvir um alerta de incêndio.
Neste domingo, os aplicativos chineses TikTok e WeChat vão deixar as lojas de aplicativos do Android e do iPhone nos Estados Unidos —isso só afeta quem usa os apps nos EUA e não tem consequências diretas para os brasileiros. Não será possível fazer novos downloads das plataformas.
Os usuários do TikTok ficam proibidos de instalar atualizações, mas poderão continuar acessando o serviço até 12 de novembro. Já o WeChat será completamente banido no território americano, com operadoras de internet proibidas de permitir seu funcionamento.
Os mais jovens que estão no aplicativo chinês de vídeos, sua base mais significativa, não parecem ter prestado muita atenção ao anúncio do governo Donald Trump, mas os mais velhos reagiram. "Foi divertido, TikTok", disse The Buyin King, um investidor de 22 anos com 437 mil seguidores. "Obrigado pelos bons momentos".
Alguns foram didáticos, explicando que para quem já tem o aplicativo, nada ou quase nada vai mudar neste domingo. "É uma questão de posicionamento", afirmou Jeff Couret, um consultor que tem 376 mil inscritos. "Para Trump, é uma forma de mostrar ao TikTok que ele está falando sério, mas sem prejudicá-lo demais."
No entanto, vários tiktokers de sucesso estão se preparando para deixar a rede social, por precaução. Para aqueles que ganham a vida com sua presença na plataforma de vídeos curtos, o risco financeiro de uma extinção do aplicativo é muito alto. A estrela Addison Rae, com seus 60,9 milhões de seguidores, ganhou US$ 5 milhões no TikTok entre junho de 2019 e junho de 2020, de acordo com a revista Forbes.
Ty Gibson, 20 anos, de Greensboro, na Carolina do Norte (EUA), não deu importância no TikTok para as primeiras especulações de que sua plataforma favorita de compartilhamento de vídeos seria banida. Mas quando usuários começaram a entrar em pânico após uma falha ter apagado o número de visualizações de seus vídeos, as ameaças dos Estados Unidos pareceram mais reais.
O jovem viu outros usuários inundando o aplicativo com despedidas. "Eu pensei que era o fim", disse Gibson em uma entrevista. "Eu nem tive tempo para pensar sobre as coisas." Gravou seu próprio vídeo de despedida para seus 4,6 milhões de fãs, pedindo-lhes para segui-lo no YouTube e no Instagram.
O astro dos e-sports Tyler Blevins, conhecido mais amplamente como Ninja, que tem 4 milhões de seguidores no TikTok, disse a seus 6 milhões de seguidores no Twitter que já havia excluído o TikTok do celular.
Os usuários leais estão apenas aguardando por enquanto. Mas eles estão preocupados —compartilhando vídeos de si mesmos chorando (e dançando) com hashtags como #TikTokBan, que tem 212 milhões de visualizações e #SaveTikTok, com 315 milhões de visualizações no aplicativo.
"Se o TikTok perder a confiança dos usuários, eles perderão a relevância", disse Alexander Patino, vice-diretor do American Influencer Council, uma associação comercial de personalidades de mídias sociais que comercializam produtos online.
Embora existam questões reais de segurança sobre o TikTok, os motivos do governo de Donald Trump são principalmente políticos, o que torna não apenas difícil prever o que acontecerá, disse Justin Sherman, um membro do grupo de estudos Atlantic Council, que se concentra em geopolítica e segurança cibernética. "Acho que a empresa não poderia fazer nada para acalmá-los", disse ele.
O TikTok afirmou que nunca forneceu dados de usuários ao governo chinês e que não o fará se for ordenado, acrescentando que a empresa não recebeu nenhuma solicitação para isso. A empresa ressaltou que o app "é de propriedade de investidores globais e possui uma equipe de gerenciamento baseada em todo o mundo nos mercados em que o aplicativo está disponível."
Patrocinadores em espera
O efeito da proibição do aplicativo nos EUA seria mínimo no mundo da publicidade, já que o negócio de anúncios do TikTok ainda é incipiente e as marcas migrariam facilmente para outras plataformas, disse um executivo de uma grande agência de publicidade. Mas o patrocínio corporativo dos influenciadores já começou a sofrer.
Uma grande marca de bens de consumo suspendeu um acordo de cinco dígitos com um influenciador do TikTok por pelo menos dois meses, porque não queria ser associada a notícias negativas sobre o aplicativo, disse Joe Gagliese, presidente-executivo da agência de marketing de influenciadores Viral Nation, recusando-se a nomear a marca.
James Lamprey, um chef de cozinha com 1,2 milhão de seguidores no TikTok, disse que a incerteza levou uma empresa de câmeras que o patrocinava a interromper o acordo com ele para um vídeo patrocinado no valor de US$ 1.000, até que haja mais clareza sobre o destino do aplicativo. Lamprey disse que começou a tentar fazer com que seus fãs no TikTok o sigam no Instagram. Se o TikTok for banido, o impacto sobre seus ganhos poderá ser enorme, disse ele.
Triller?
Há semanas, muitos tiktokers têm lembrado seus seguidores de seus endereços no Instagram ou no YouTube, preparando a mudança.
Referência absoluta dos tiktokers, Charli D'Amelio, que aos 16 anos já tem 87,5 milhões de inscritos, anunciou na terça-feira uma colaboração não exclusiva com a plataforma Triller, um aplicativo semelhante, onde é seguida por 1,1 milhão de pessoas.
Jovens desconhecidos, com mais de 10 milhões de seguidores no TikTok, como Bryce Hall, Nessa Barrett ou Chase Hudson, também abriram contas no Triller. O próprio Trump, que nunca teve uma conta na rede chinesa, abriu uma no Triller, onde já reúne quase um milhão de seguidores.
Fora uns passos de dança da música "YMCA" do Village People, Trump não aceitou nenhum dos desafios comuns no TikTok. Ele publica sobretudo vídeos atacando seu rival democrata nas eleições presidenciais de novembro, Joe Biden.
Em agosto, o Triller anunciou que o aplicativo já teve mais de 250 milhões de downloads, número questionado pela consultoria Apptopia, que estima o total em 52 milhões.
Esse não é, porém, o único a comemorar os problemas do gigante TikTok, que já foi baixado cerca de 2 bilhões de vezes no mundo e tem 100 milhões de usuários nos Estados Unidos. Outros incluem o Byte, lançado em janeiro; o Likee, que teria 7,2 milhões de downloads nos EUA entre fevereiro e agosto, segundo a Apptopia; e o Dubsmash.
Isso sem contar o Instagram ou mesmo o YouTube, que espalharam seus tentáculos com as funções Reels e YouTube Shorts, oportunamente recém-lançadas dentro de suas respectivas plataformas.
O vencedor "será aquele que os usuários leais do TikTok perceberem como o destino 'cool', onde você precisa estar", prevê James Mourey, professor de marketing da Universidade DePaul. O próprio TikTok lucrou com o fim do Vine em janeiro de 2017, que tinha 200 milhões de usuários ativos em seu auge.
No contexto atual, "novas startups como a Byte podem ter uma vantagem, porque sabemos que em tecnologia, marcas consolidadas tendem a perder seu lado 'cool'", descolado, explicou Mourey, que citou como exemplo a migração dos jovens do Facebook para o Instagram.
Entretanto, embora diminuído e suspenso, o TikTok ainda não está morto, alertou o especialista. Muita coisa pode acontecer até 12 de novembro. "E não devemos esquecer que o TikTok só é proibido nos EUA. Enquanto permanecerem dominantes a nível mundial, eles continuarão a inovar e reter uma base de usuários significativa", disse Mourey. (Com agências internacionais)
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