Novo whey? Startup cria pó supernutritivo e ecológico... feito de larvas
As indústrias de carne, laticínios e soja estão entre os maiores responsáveis pelo aquecimento global, causando emissão de gases que prejudicam a atmosfera ou desmatamentos. Uma startup sul-africana quer oferecer ao mundo uma solução para isso, e ela tem a ver com insetos.
A Susento, parcialmente controlada pela Universidade Stellenbosch, nos arredores da Cidade do Cabo, desenvolveu uma tecnologia capaz de produzir proteína em pó de alta qualidade a partir de larvas de insetos, que pode ser consumida tanto por seres humanos quanto animais.
Para os pesquisadores, elas são uma opção alimentar mais sustentável e igualmente rica em proteína se comparadas à carne e soja, e devem estar disponíveis no mercado muito em breve.
"É necessária uma quantidade significativamente menor de terra para criar insetos. Além disso, pode-se produzir 7.000 vezes mais proteína por hectare do que com a soja, que é a fonte de proteína mais usada no mundo mas não é sustentável", diz Michael Woods, cofundador e executivo-chefe da startup.
Segundo ele, os danos da indústria da soja sobre as florestas tropicais podem ser remediados pela proteína de insetos. O Brasil é o maior produtor de soja do planeta. Além disso, insetos quase não produzem gás de efeito estufa, em comparação com a pecuária.
A matéria-prima: larva da mosca soldado negra
Susento usa larvas da mosca soldado negra, um tipo de inseto que não voa, passa muito tempo na sombra, não é prejudicial à saúde humana e não transmite doenças, segundo os pesquisadores.
A equipe encontrou uma colônia dessas moscas em uma fazenda de frutas em Stellenbosch. As proteínas das larvas podem ser colhidas de maneira sustentável porque as moscas são alimentadas com resíduos orgânicos, reduzindo a necessidade de aterros e ajudando a atrasar as mudanças climáticas.
A ideia da Susento é criar essas moscas negras com subprodutos agrícolas, como grãos usados pelos fabricantes de cerveja e polpa de frutas da indústria de sucos.
Para produzir o pó, a startup usa uma tecnologia de fracionamento que usa hidrólise —quebra de molécula pela ação da água— e enzimas para separar os componentes principais das larvas, que são três: gordura, proteína e quitina.
"As enzimas solubilizam especificamente as proteínas em água e, durante a ação enzimática, os óleos são liberados, enquanto a quitina permanece inalterada. Nesse processo, as proteínas são encontradas na fase aquosa, o óleo flutua no topo desta fase e a quitina permanece na fase sólida. Por meio do uso de métodos de separação estabelecidos, esses componentes são separados e posteriormente processados", explica Neil Goosen, chefe de engenharia da startup.
Segundo Elsje Pieterse, professora do Departamento de Ciências Animais da universidade e coproprietária da Susento, o pó proteico produzido após esse processo não tem gosto ou cheiro e pode ser usado em alimentos salgados ou doces, como chocolate.
O que falta para comermos insetos?
A startup já produz cerca de três toneladas mensais do pó proteico na fazenda experimental da universidade em Mariendahl, nos arredores de Stellenbosch, principalmente para uso em ração para animais de estimação.
Agora a empresa busca levantar 12 milhões de rands (cerca de R$ 3,5 milhões) para instalar a produção na província do Cabo Oriental. "É a primeira rodada de financiamento", disse Pieterse à Bloomberg. A expectativa é de que a nova instalação comece a produção em dezembro e terá como objetivo colher 30 toneladas de produto por mês.
"Mostramos que o processo de fracionamento funciona em laboratório e agora precisamos montar uma planta piloto para demonstrar que o processo funciona em maior escala", afirma Michael Woods, executivo-chefe da startup. Atualmente, negociam com uma empresa americana de insetos comestíveis, a Chapul, que manifestou interesse em adquirir o pó de proteína.
* Com agência Bloomberg
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