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"Joia da coroa" do TikTok, algoritmo fica fora de acordo para agradar Trump

Dado Ruvic/Reuters
Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

22/09/2020 11h17

O principal ativo do TikTok ficará fora do alcance de Oracle, e Walmart e acionistas americanos podem eventualmente ter controle de mais de 50% do TikTok Global, empresa concebida para atender os desejos do presidente Donald Trump. Em um comunicado da ByteDance, dona do TikTok, alguns pontos divulgados pela Oracle em anúncio feito no sábado (19) foram rebatidos.

O principal deles diz respeito ao algoritmo do TikTok, a engrenagem que torna a plataforma —a empresa não se identifica como rede social— tão viciante.

É por meio deste recurso que o TikTok sugere um fluxo contínuo de curtos vídeos que interessam aos usuários. Quanto mais você usa o aplicativo, mais personalizadas ficam as sugestões automatizadas de vídeos, prendendo a atenção de quem navega pelo serviço.

Para se ter uma noção, os funcionários da ByteDance internamente referem-se ao algoritmo como a "joia da coroa" do sucesso da empresa, segundo reportagem do Business Insider. Outros especialistas de tecnologia tambám consideram o algoritmo como o "molho secreto" do app.

De acordo com a Oracle, a empresa TikTok Global terá posse de toda a tecnologia da plataforma TikTok. Mas, nesta segunda-feira (21), a ByteDance mandou um "calma lá". No comunicado, a controladora do TikTok afirmou que o plano atual "não envolve a transferência de qualquer algoritmo e tecnologias". A Oracle só terá direito de auditar o código fonte do TikTok americano, uma prática que não é incomum.

A ByteDance lembrou que exibir o código fonte é uma solução universal para multinacionais prestarem contas sobre preocupações locais de segurança de dados. Como exemplos, citou:

  • O Centro de Transparência de Tecnologia inaugurado pela Microsoft em Pequim em 2016, para que experts locais checassem a segurança de produtos da Microsoft;
  • E uma iniciativa semelhante da americana Cisco, que abriu um centro na Alemanha para que fosse verificado se a segurança do código fonte de seu 5G estava de acordo com a agência de segurança da informação alemã.

Segundo o plano atual, a Oracle teria como revisar o código do TikTok para garantir que o aplicativo, que tem mais de 100 milhões de usuários nos Estados Unidos, não é um risco de segurança nacional para o país. Traduzindo: não envia dados de cidadãos americanos para o governo em Pequim.

Como complemento à afirmação de que teria posse de "toda tecnologia do TikTok", a Oracle afirmou que "a privacidade de dados de 100 milhões de usuários americanos do TikTok será rapidamente estabelecida" ao mover todos os dados de americanos aos data centers de última geração da empresa.

Não há evidências concretas que sustentem a acusação americana de que o TikTok envia dados de cidadãos locais para a China. Isso também não significa que o histórico do TikTok é 100% limpo, pois a empresa havia mantido vídeos feitos por crianças menores de 13 anos no ar e foi ordenada a retirá-los do serviço em fevereiro de 2019 pela FTC (Federal Trade Comission, um equivalente ao Cade americano). A plataforma também foi multada em US$ 5,7 milhões na ocasião.

Em maio deste ano, duas organizações sem fins lucrativos fizeram uma queixa à FTC de que o TikTok não havia cumprido o acordado. Após isso, a interpretação de que o aplicativo trazia risco de segurança aos Estados Unidos ficou mais difícil de rebater.

TikTok Global será americano?

O comunicado conjunto de Oracle e Walmart diz que o TikTok Global será de "de propriedade majoritária de investidores americanos", inclusive as duas empresas. Além disso, ele será uma "empresa americana independente com sede nos Estados Unidos, com quatro americanos entre os cinco membros do conselho de diretores".

Este formato também foi colocado em dúvida pela ByteDance, que declarou que o TikTok Global é uma subsidiária totalmente controlada pela empresa chinesa, com sede nos Estados Unidos.

Depois de uma "pequena rodada de financiamento pré-IPO" (Oferta Pública Inicial, da sigla em inglês, ou entrada na bolsa de valores), a ByteDance terá 80% das ações. Sobre diretores, o fundador da ByteDance, Zhang Yiming, e os atuais diretores da empresa comporão o grupo ao lado do executivo-chefe do Walmart, Doug McMillon.

Outro ponto contestado é um pagamento direto ao Tesouro americano. Oracle e Walmart disseram que a nova empresa irá pagar mais de US$ 5 bilhões em impostos aos cofres públicos, mas a ByteDance explica que tal número é uma estimativa do que será pago em tributos nos próximos anos.

"A quantia de impostos ainda precisa ser determinada de acordo com o desenvolvimento real do negócio e da estrutura tributária dos Estados Unidos. A previsão de impostos não tem nenhuma relação com esse plano de cooperação", destacou.