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Novo capítulo da novela: por que Trump voltou atrás no acordo com o TikTok?

Presidente dos EUA, Donald Trump, em "guerra fria" contra a chinesa ByteDance - KEVIN LAMARQUE
Presidente dos EUA, Donald Trump, em "guerra fria" contra a chinesa ByteDance Imagem: KEVIN LAMARQUE

Mirthyani Bezerra*

Colaboração para Tilt

22/09/2020 14h36

O vai e vem da proibição do TikTok nos Estados Unidos ganhou novos capítulos. Após dizer que aprovaria um acordo para fazer da plataforma chinesa uma empresa com base nos EUA, o presidente do país, Donald Trump, voltou atrás e afirmou que não aceitaria a proposta se o grupo chinês ByteDance, dono do aplicativo, continuar como controlador majoritário.

Há três dias, Trump havia dado seu aval a um acordo envolvendo a Oracle e o Walmart. O pacto estabelecia que as duas empresas norte-americanas poderiam comprar até 20% das ações da TikTok — a Oracle compraria até 12,5% das ações da TikTok, e o Walmart, 7,5%. Isso criaria a TikTok Global, empresa com sede nos EUA concebida para atender aos anseios do presidente.

"Acho que será um negócio fantástico. Eu dei minha aprovação ao negócio. Se eles conseguirem, melhor. Se não, tudo bem também", afirmou Trump, antes de se dirigir para um comício de campanha na Carolina do Norte (EUA).

Mas ao ser questionado, em entrevista à Fox News, sobre a possibilidade de a ByteDance conservar 80% das ações, Trump respondeu que se as empresas americanas não tiverem um "controle total", não vai aprovar acordo algum.

"Se descobrirmos que eles não têm controle total, então não vamos aprovar o acordo... Estaremos observando-o de muito perto", disse.

O governo Trump chegou a anunciar que o TikTok seria retirado das lojas de aplicativos como Play Store e App Store, para impedir que ele fosse baixado no país, sob o argumento de que a empresa ameaça a segurança dos EUA. A rede social tem mais de 100 milhões de usuários nos EUA.

Sem apresentar provas, Washington acusa a ByteDance de espionagem a favor do governo de Pequim. Mas tanto TikTok quando governo chinês negam estarem fazendo uso da plataforma com esse fim.

Após as declarações de Trump no sábado (19), o Departamento de Comércio anunciou que adiaria a proibição de download do TikTok até pelo menos 27 de setembro. A proibição estava marcada para acontecer no domingo (20).

Guerra de versões

A ByteDance está sob pressão do governo chinês para não ceder aos Estados Unidos. A empresa afirmou que manteria 80% do controle da TikTok Global após o lançamento em bolsa. Mas o comunicado das empresas norte-americanas dá outra versão sobre os fatos.

"Com a criação da TikTok Global, Oracle e Walmart farão seus investimentos e as ações da empresa serão distribuídas a seus donos, os americanos serão majoritários", afirmou o vice-presidente da Oracle, Ken Glueck.

O Walmart informou que seu presidente-executivo, Doug McMillon, atuaria como um dos cinco membros do conselho da nova empresa. O fundador do ByteDance, Zhang Yiming, e alguns dos investidores dos EUA também estariam no conselho. Em outras palavras, seria um chinês e quatro norte-americanos.

Algumas fontes próximas do acordo jogaram panos quentes sobre a discordância, afirmando que 41% da ByteDance já são de propriedade de investidores norte-americanos. Ao contar essa propriedade indireta, o TikTok Global seria majoritariamente dos EUA.

Em um comunicado divulgado na segunda (21), a ByteDance também afirmou que não haveria "transferência nem do algoritmo, nem da tecnologia", e que informações neste sentido não passariam de "rumores".

É por meio dos algoritmos que o TikTok sugere um fluxo contínuo de curtos vídeos que interessam aos usuários. Quanto mais você usa o aplicativo, mais personalizadas ficam as sugestões automatizadas de vídeos, prendendo a atenção de quem navega pelo serviço. O algoritmo é tão importante para a empresa que os funcionários da ByteDance internamente o apelidaram de "joia da coroa", segundo reportagem do Business Insider.

A Oracle forneceria um serviço de nuvem seguro para dados no aplicativo. Também revisaria o código do TikTok para garantir que o aplicativo não envia dados de cidadãos americanos para o governo chinês. Já o Walmart seria responsável pelos acordos comerciais para fornecer ecommerce, atendimento, pagamentos e outros serviços para a nova empresa.

* Com agências internacionais