Topo

Influentes! 1ª dupla feminina a andar no espaço está na lista 100 da Time

Christina Koch (esq.) e Jessica Meir, primeiras mulheres a realizarem juntas uma caminhada espacial - Nasa/Divulgação
Christina Koch (esq.) e Jessica Meir, primeiras mulheres a realizarem juntas uma caminhada espacial Imagem: Nasa/Divulgação

Mirthyani Bezerra

Colaboração para Tilt

24/09/2020 11h45

Sem tempo, irmão

  • As duas fizeram a primeira caminhada espacial 100% feminina em outubro de 2019
  • Elas saíram da ISS para trocar uma peça que havia quebrado
  • Texto da Time exaltando o feito foi escrito pela primeira estadunidense negra a ir ao espaço
  • A missão das duas astronautas durou sete horas e 17 minutos

As astronautas Jessica Meir e Christina Koch foram eleitas pela revista Time como duas das 100 pessoas mais influentes de 2020. As duas protagonizaram em outubro do ano passado a histórica primeira caminhada espacial 100% feminina. Na ocasião, Meir e Koch saíram da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês) para trocar uma peça que havia quebrado. A façanha foi registrada ao vivo pela Nasa.

O texto da Time salienta que as duas estavam apenas fazendo seu trabalho, mas mesmo assim o fato de duas mulheres terem executado trabalhos intelectual e fisicamente exigentes em uma das circunstâncias mais desafiadoras em que humanos podem operar —- a uma altitude orbital de cerca de 400 km, velocidade de mais de 28 mil km/h —- é um evento importante.

"Não porque essas mulheres provaram o que nós, mulheres, podemos fazer; isso nunca esteve em dúvida. Mas porque o mundo inteiro viu, incluindo os 'porteiros' (frequentemente homens) que determinam quem tem acesso a essas oportunidades", diz o texto, escrito por Mae Jemison, a ex-astronauta da Nasa que foi a primeira mulher afro-americana no espaço.

Chamada de unidade de carga/descarga de bateria, a peça trocada por Meir e Koch faz parte do sistema de energia da estação. A missão durou sete horas e 17 minutos.

O feito realizado pela dupla era esperado para o final de março de 2019 quando Koch e outra astronauta, Anne McClain sairiam da ISS juntas. Mas o plano não deu certo porque não havia trajes espaciais do tamanho adequado para equipá-las com segurança.

"Elas executaram [a tarefa] usando trajes espaciais desenhado primariamente nos anos 1970, quando não havia mulheres astronautas e as mulheres eram apenas 16% da força de trabalho da Nasa", escreve Jemison.

Um longo caminho

Se você tem curiosidade para saber o que Meir e Koch fizeram até chegarem à Estação Espacial Internacional, antecipamos que foram caminhos longos, ricos e bem diferentes.

Ambas foram selecionadas como astronautas da agência em 2013 e a trajetória de Christina Koch talvez seja a mais tradicional, por estar sempre ligada às ciências exatas.

Hoje com 40 anos, ela cresceu na Carolina do Norte e lá concluiu o colégio, com estudos focados em ciências e matemática, e entrou na universidade NC State. Desta instituição, Koch se tornou mestre em engenharia elétrica e bacharel em física.

Jessica Meir, 42 anos, começou a vida acadêmica com um título de bacharel em artes em biologia, obtido na prestigiada Brown University (da mesma "liga" de Harvard). A academia levou a bióloga a uma área completamente distinta no mestrado: Estudos Espaciais na Universidade Espacial Internacional, sediada na França. Ela não parou por aí, afinal se tornou doutora em Biologia Marinha pela UC San Diego.

Essa relação com a biologia está marcada na descrição dela no Twitter: "Astronauta da Nasa. Fisiologista comparativa. Exploradora. Amante da natureza. Atual residente da Estação Espacial Internacional".

O primeiro contato com a Nasa

Os estudos podem diferenciar as primeiras mulheres a realizarem uma caminhada espacial juntas, mas o vínculo das duas com a Nasa começou muitos anos antes de elas serem selecionadas juntas para a 21ª turma de astronautas da agência. Dois anos mais velha, Meir começou os trabalhos relacionados à agência espacial mais cedo, em 2000.

Usando seus conhecimentos em biologia, combinados com os estudos espaciais, ela trabalhou com pesquisa de fisiologia humana no —hoje finado— programa de ônibus espacial e na Estação Espacial Internacional. Na mesma época, Meir estudou experimentos da Nasa em voos de aeronaves com gravidade reduzida e participou da tripulação do submarino Aquarius na quarta edição das Missões de Operações de Ambientes Extremos, em 2002.

Koch graduou no programa de academia da Nasa em 2001 e trabalhou como engenheira eletricista no laboratório de astrofísica das altas energias do Goddard Space Flight Center, em Maryland, de 2002 a 2004. Lá ela contribuiu com instrumentos científicos usados em missões da agência espacial, a partir de estudos em cosmologia e astrofísica.

Hoje, anos depois, ela se diz "sortuda por estar vivendo dentro de uma maravilha da engenharia".

Antes do espaço, o mundo

Depois dessas primeiras experiências na agência, Meir e Koch seguiram suas carreiras para caminhos bem diversos.

Meir foi estudar a fisiologia de mergulho de mamíferos marinhos e pássaros, com foco no Pinguim-imperador, e treinar gansos a voar em túneis de vento para obter medidas fisiológicas em condições adversas de oxigênio. Os dois trabalhos a levaram ao posto de professora assistente em Harvard, onde ela seguiu estudando a fisiologia de animais em ambientes extremos.

A colega de caminhada espacial não ficou muito atrás: Koch representou os Estados Unidos como pesquisadora na Antártica, ficando mais de um ano em uma estação no Polo Sul e participando do programa americano na região de 2004 a 2007.

A então engenheira eletricista até voltou a trabalhar com desenvolvimento de instrumentos científicos espaciais no ambiente universitário, contribuindo para a Nasa, mas logo retomou seus trabalhos de campo na Antártica, Groenlândia, Alaska e Samoa Americana, no meio do Oceano Pacífico.

A trajetória aventureira colocou-as na mesma turma e culminou com o feito histórico desta sexta. Para Christina Koch, os feitos históricos ainda não acabaram. Após coloca-la em três expedições consecutivas na Estação Espacial Internacional, a Nasa planeja que ela se torne a mulher a ficar mais tempo no espaço. Na estação desde março, ela tem retorno previsto em fevereiro de 2020, após 328 dias na órbita do planeta.

Astronautas colocam câmera dentro de bolha de água no espaço

Astronautas colocam câmera dentro de bolha de água no espaço