Disco rígido já resistiu a fogo, queda de avião e furacão Katrina; entenda
Atear fogo em um computador nem sempre resulta na perda total dos dados que estão no seu disco rígido. Num caso conhecido, Wellington Menezes de Oliveira, 23, autor do massacre na escola de Realengo (RJ), em 2011, tentou eliminar evidências dessa forma, mas não adiantou.
Especialistas consultados por Tilt explicam que mesmo em casos aparentemente impossíveis, há chances de recuperar total ou parcialmente o que está gravado nos computadores.
"Não é fácil apagar informações de um computador", diz Lerry Granville, diretor de operações da Data Recover, empresa de recuperação de dados. Alguns discos rígidos de computadores chegam a resistir a temperaturas de até 80°C e, mesmo em acidentes em que as máquinas ficam submersas em água, é possível restaurar arquivos.
"É sempre necessário analisar caso a caso, mas, na maioria deles, as partes danificadas do disco rígido apenas impedem o acesso aos dados. Eles continuam gravados, porém não podem ser lidos", explica. "Imagine o disco rígido como um motor de um carro: mesmo se você cortar os cabos que se ligam ao motor, isso não significa que ele perdeu a capacidade de funcionar. Só precisa ser religado."
Segundo ele, em cerca de 90% das ocasiões é possível recuperar dados de PCs perdidos em acidentes.
Um dos casos atendidos pela empresa foi o de um notebook encontrado entre os destroços do acidente de 2007 com o avião da TAM do voo 3054, em São Paulo. A aeronave colidiu com um prédio e depois pegou fogo, matando 199 pessoas. O laptop achado, mesmo carbonizado, ainda tinha o disco rígido em condições de recuperação.
Outro tipo de dano ao disco, mais grave, ocorre quando a superfície de gravação sofre riscos. "Como num disco de vinil, a face externa possui trilhas de gravação. Num LP, elas são visíveis, já no caso do HD, não as vemos, pois elas são magnéticas", detalha Roberto Valverde, engenheiro e diretor da Proelba, companhia especializada na recuperação de dados.
No entanto, ao contrário da agulha do toca-discos, que toca a superfície do vinil, a cabeça de leitura no computador "flutua" sobre o disco rígido. "Qualquer tranco pode fazer com que a cabeça de leitura toque a face do HD e danifique as trilhas, impedindo acesso aos dados."
Além das trilhas onde ficam gravados os arquivos, os discos possuem setores. "Imagine uma laranja cortada ao meio. Onde estão os gomos, seriam os setores do disco", prossegue Valverde. Existe um setor específico, o de mapeamento de disco, que ao sofrer riscos, pode tornar irreversível a leitura do HD.
Por último, além dos danos físicos descritos acima, há os danos lógicos. Eles podem ser causados por problemas com arquivos corrompidos, vírus, hackers, além de oscilações na rede elétrica —elementos que causam a gravação incorreta dos dados do computador e depois impossibilitam a sua leitura.
SOS disco rígido
Computadores completamente submersos na enchente causada pelo furacão Katrina, em 2005; um notebook que mergulhou na banheira enquanto o executivo trabalhava e tomava banho; máquinas achadas após a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011: todos esses são exemplos citados pelos especialistas consultados em que foi possível reaver os dados digitais.
A operação de salvamento de um disco rígido deve começar imediatamente após o "acidente".
- Não tente ligar o computador após o acidente
- Leve o computador à assistência especializada o mais rápido possível
- Embale a máquina com cuidado para evitar mais danos no transporte
- Evite programas gratuitos encontrados na internet para recuperação de dados
O usuário que teve o computador ou notebook queimado, submerso em água ou que tenha sofrido danos mecânicos, não deve tentar ligar a máquina. "Ao ligar a máquina, a cabeça de leitura pode tocar na superfície do disco e começar a riscá-lo", alerta Valverde.
Há casos em que o socorro rápido faz diferença, principalmente os que envolvem acidentes com água. "A umidade penetra e oxida a superfície do disco. Assim, não conseguimos mais trocar algumas peças", adverte o especialista da Proelba.
Outra dica, segundo o especialista, é evitar programas gratuitos encontrados na internet para recuperação de dados. "Muitos dos softwares gratuitos encontrados na web acabam por 'terminar de destruir' os dados contidos no disco."
Outro problema, aponta Otávio Artur, do Instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações (IPDI), é que dependendo do objetivo em se obter os dados de volta —como no caso de usá-los num processo judicial— há uma espécie de "contaminação" das provas. "É como se você coletasse sem luvas uma evidência. O mesmo ocorre no computador: aquela informação pode ser impugnada num processo judicial."
O ideal ainda é procurar empresas especializadas, que possuem laboratórios —onde até mesmo o ar do ambiente é controlado para não conter impurezas— para a tarefa de "salvamento". Além disso, ao enviar o computador para o suporte, é preciso embalá-lo corretamente, com materiais como plástico bolha, para evitar novos danos no transporte.
Uma vez feito o diagnóstico do problema, as empresas partem para a recuperação física do HD. Novos componentes substituem peças originais danificadas, como a cabeça de leitura e cabos "flats", que fazem a conexão do disco. A dificuldade aqui vai variar de acordo com modelo e marca do disco, já que algumas peças são apenas encontradas no exterior ou são feitas sob encomenda.
Depois disso, os peritos utilizam softwares específicos —e que chegam a custar o mesmo que um carro - para fazer o backup das informações. "Existem desde programas que restauram dados simplesmente deletados do sistema pelo próprio usuário até os que são desenvolvidos especialmente para situações de dano físico ou mecânico", comenta Artur. Então, quando recuperadas, são gravadas em novas mídias.
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