De robô a dublê de dinossauro: veja a evolução tecnológica de Jurassic Park
Lá se vão quase 30 anos da estreia do clássico "Jurassic Park", de Steven Spielberg. Como um velociraptor rápido e sorrateiro, lançou mundo afora cinco filmes, videogames e agora uma série de animação na Netflix: "Acampamento Jurássico". Foi preciso muita tecnologia para ressuscitar os dinossauros no audiovisual.
Lançado em 1993, o filme sobre dinossauros recriados geneticamente rendeu duas continuações em 1997 e 2001, respectivamente. Em 2015 o conceito cresceu e virou "Jurassic World", que também teve uma continuação. Existe ainda a promessa de um novo longa da franquia para 2021 (será que o coronavírus vai deixar?).
Se você já "devorou" todo esse universo pré-histórico, provavelmente também percebeu que a tecnologia da franquia mudou ao longo desses anos, dos efeitos especiais gerados por computador aos animatrônicos, que são robôs hidráulicos gigantes como o do famoso Tiranossauro Rex.
Tilt separou as principais evoluções tecnológicas usadas nos filmes "Jurassic" em todas as suas fases, que vão desde o uso de imagens geradas por computadores no início dos anos 1990 até robôs de mais de US$ 1 milhão, drones com filmadoras digitais de última geração e com resolução 6K.
Jurassic Park (1993): uma nova era de efeitos especiais
Quando o original —inspirado no livro homônimo de Michael Crichton - foi lançado, em 1993, os efeitos especiais usados por Spielberg inauguraram uma nova era do cinema. Isso porque antes de Jurassic Park havia uma enorme desconfiança sobre o uso de efeitos especiais digitais.
Ron Miller, ex-presidente da Walt Disney Productions, conta no livro "Efeitos especiais: Uma introdução à magia do cinema" que no início dos anos 1990, apesar de todo o avanço tecnológico que já existia, quem estava à frente das produções não queria se arriscar a usar esses recursos devido aos altos custos e aos retornos de bilheteria não tão satisfatórios.
Da parte do público, como registrou o jornalista David Morgan, da BBC, a percepção era de que, apesar de elaborados, esses efeitos não transmitiam realidade. Faltava algo a mais.
Mas coube a "Jurassic Park" acabar com essa pecha. O feito só foi obtido após Spielberg apostar no CGI, sigla em inglês para "imagens geradas por computador". Era isso ou ser extinto, pois o projeto inicial do filme se baseava basicamente em robôs e stop motion, técnica usada em desenhos de animação em massinha.
Munida de 80 supercomputadores Silicon Graphics de alta resolução, a equipe da Industrial Light & Magic, empresa de efeitos especiais do cineasta George Lucas, de "Star Wars", passou a realizar testes secretos. Conseguiu criar animações computadorizadas tão convincentes que, coordenadas com os animatrônicos, renderam nas telas dinossauros perfeitos.
O trabalho levou 18 meses e consumiu 250 bilhões de bytes. "Foi um momento tipo a invenção da lâmpada", comparou Lucas à época.
O Mundo Perdido (1997): efeitos explosivos na crista da onda
Toda essa revolução tecnológica fez "Jurassic Park" cair no gosto do povo. O resultado foi mais de US$ 1 bilhão de arrecadação nos cinemas mundiais, patamar só alcançado por "Titanic", em 1997. Esse também foi o ano de lançamento de "O Mundo Perdido".
O filme apresentou dinossauros renderizados em número maior e mais aprimorados que no primeiro, além de efeitos com potencial realista e catastrófico —como quando o trailer do doutor Ian Malcolm, interpretado pelo ator Jeff Goldblum, despenca de um penhasco.
A cena de explosão deixou claro que naquela sequência os gráficos, até então auxiliares, estavam se consagrando como a força motriz da franquia.
A evolução do uso do computador, no entanto, não substituiu os animatrônicos. Ao contrário, eles ganharam reforço tecnológico. Antes eles davam pane —como quando o T-Rex de 1993 se molhou na cena em que ataca o carro das crianças. Mas os dinossauros criados por Stan Winston, o escultor do robô da criatura de "Alien", não só ficaram mais modernos como também resistentes à água.
Jurassic Park 3 (2001): robôs gigantes a prova d'água
Embora a tecnologia não tivesse mudado muito desde 1997, o filme proposto para o novo milênio teve lá seus avanços. Os detalhes computacionais melhoraram, principalmente no que diz respeito à iluminação e suavidade do movimento dos dinossauros. O filme teve mais de 400 tomadas de efeitos, o dobro do total dos dois filmes anteriores juntos.
"Matrix" já tinha sido lançado dois anos antes. O público jovem já tinha um contato maior com eletrônicos, principalmente o celular. Essa realidade acabou refletida na história, que também seguiu pelo caminho da ação e precisou modernizar suas feras.
O robô T-Rex perdeu a vez para um espinossauro à prova d'água e os velociraptors ganharam um aspecto mais inteligente, social e futurista.
De tão sofisticados, alguns dos animatrônicos custavam US$ 1 milhão e outros pesavam 13 toneladas. Segundo o supervisor de efeitos especiais Michael Lantieri, em entrevista ao jornal Los Angeles Times, "podiam até matar".
A essas máquinas foram adicionadas a capacidade de piscar, sensores de movimento e outras engenhocas. Foram construídas peças avulsas, como cabeças mecânicas e pernas de velociraptor, que levaram 13 meses para ficar prontas e foram usadas em apenas uma cena.
Jurassic World (2015): adeus aos robôs e uso de dublê de dinossauro
Após 14 anos, a saga jurássica voltou às telonas em uma superprodução que alcançou a terceira maior bilheteria da história: US$ 1,5 bilhão.
O CGI voltou aprimorado para aproveitar as tecnologias de exibição em 3D e Imax — formato de filme capaz de mostrar imagens muito maiores em tamanho e resolução do que os sistemas convencionais de exibição de filmes — para, assim, finalmente substituir os pesados animatrônicos.
Segundo o diretor do filme, Colin Trevorrow, o novo dino vilão, o híbrido Indominus Rex, precisava ser ágil, leve e flexível.
Assim, pela primeira vez, os robôs perderam espaço na franquia. E os poucos que apareceram, como a cabeça do Apatossauro ferido mortalmente após um ataque, não lembravam muito os originais.
John Rosengrant, que trabalhou como supervisor de efeitos da franquia, contou que "os avanços vieram principalmente na forma como esculpimos e criamos". Para ele, isso se deve ao avanço dos softwares de escultura digital e à prototipagem rápida apoiada na impressão 3D, que encurtaram o tempo de pré-produção.
Inéditos também foram os dublês de dinossauro usando roupas especiais (seus movimentos serviram para guiar o elenco e criar e posicionar os velociraptors digitais) e os drones, acoplados com filmadoras RED Dragon e lentes com resolução 6K. Eles substituíram os helicópteros em filmagens panorâmicas, além das tradicionais gruas e câmeras presas em tetos ou cabos de aço. Esse filme também lançou uma variedade de veículos Mercedes-Benz de última geração.
Reino Ameaçado (2018): LEDs como principal fonte de luz
O segundo "Jurassic World" estreou em 2018 com direção de J.A. Bayona. Para se adequar ao formato Imax, realizou estudos com diferentes lentes esféricas e anamórficas (que conseguem conter mais conteúdo na imagem panorâmica), escolhendo uma câmera digital com o maior sensor de imagem em movimento de alto desempenho do mercado.
O modelo em questão era uma Alexa de 65 mm. O cineasta ainda apostou em LEDs como o principal tipo de fonte de luz do filme e em tecnologia de ponta para seus animatrônicos, que voltaram mais "humanizados".
Misturou ainda o CGI com efeitos visuais e criou um dos cenários mais complexos da franquia, a sala de estar da Mansão Loockwood.
"Tínhamos cenas diurnas e noturnas e uma cena de blecaute no mesmo espaço, então tivemos que prepará-la com cuidado para torná-la versátil", contou.
"Reino Ameaçado" também preparou o terreno para o curta-metragem "Battle at Big Rock", exibido em 2019 pelo canal FX e disponível no YouTube; e "Domínio", o terceiro filme previsto para 2021 e com efeitos que prometem ser mais práticos (isto é, com materiais reais em vez de digitais) e ao estilo "Jurassic Park".
Acampamento Jurássico (2020): caminho reverso do "live-action"
Com produção executiva de Steven Spielberg e oito episódios, a série de animação da Netflix "Camp Cretaceous", no original em inglês, foi produzida para um público infantil, mas tem conquistado os adultos e entrou para os títulos mais vistos da plataforma de streaming. Talvez por causa da nostalgia e por revelar alguns detalhes de "Jurassic World" até então não mostrados no filme.
Em termos de tecnologia, é um projeto em CGI criado por meio de softwares como V-Ray, Autodesk Maya e Nuke, alguns dos mais usados para criar as atuais animações de cinema e TV. Mais barata que um live-action, a série, ao que tudo indica, também deve render uma sequência em breve, apesar de nenhum anúncio oficial por enquanto.
Fontes: Sites Amblin Entertainment, IMDb, Stan Winston School, Industrial Light & Magic, Universal Studios, DreamWorks, Jurassic Outpost, Imagine Engine Visual Effects + Animation, Team 5 Aerial System Rentals, e Making Of dos filmes Jurassic Park e Jurassic World.
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